Rock é Rock Mesmo

Viuvagem na Cidade do Rock, mazelas da imprensa cultural, preconceitos generalizados, melhores do ano e outras paradas

Agora é sério, tá no Aurélio. Viúva: pessoa que continua adepta ou admiradora fervorosa de personalidade morta ou no ostracismo.

Meus amigos, vejam como são as coisas. Eu que sempre espinafrei a Internet e seus desvarios virtuais acabei sendo vítima do mundo moderno. Mesmo depois de ter humildemente retrocedido e criado um site pra chamar de meu, fui golpeado pelas facilidades virtuais que deixaram o site Gardenal fora do ar por um tempão. Fui vítima, repito, da modernidade a qual aderi. Logo eu, que jamais falhei com este espaço rocker semanal. Mas “na Internet é assim mesmo”, dizia um colega de Gardenal. As coisas somem e pronto. Pior para os mais antigos que perderam um ano de site, e eu, “só” um mês. Mas segue o jogo, diria José Roberto Wright.

Porque é rock que interessa. E como rolou rock no nesses quase últimos dois meses. Fortes emoções. Pude até ver de perto a viuvagem reunida para chorar mágoas a Mike Patton, e de pertinho, quem diria. Festivais, shows, quem gosta de rock viveu dez anos à mil nos últimos dois meses. E no último ano também. Mas calma que isso aqui não é uma retrospectiva, embora eu tenha que citar as torrentes de emoção causadas pelo Pearl Jam numa Praça da Apoteose lotada. Essas e outras aventuras estão por aí no site, tudo muito bem retratado pelo meu amigo Homem Baile.

Mas falava de viúvas e falava de Patton. Das viúvas de Patton, tão vibrantes. Que a edição carioca do festival o Claro Que é Rock desencadeou numa confusão dos diabos isso todo mundo já sabe, segundo consta por causa da quebra de um caminhão que transportava o equipamento de São Paulo para o Rio. Nesse rolo todo, no meio do festival, às vezes não se sabia quem iria tocar onde, e eis que, de repente, no Palco 1, surge a figura de um roadie com cabelos abrilhantinados que chamou a atenção. Quem viu primeiro e me avisou foi o amigo e futuro jornalista Alex Moreno, que não titubeou: “é Mike Patton!” Eu, de início, hesitei. Não só pelo fato da programação do festival estampar tudo diferente numa espécie de quadro de avisos afixado atrás das torres de som, mas porque aquele cidadão que subira ao palco montava os equipamentos do show seguinte. E – pensava – um artista da magnitude de Patton não se prestaria a esse papel.

Moreno estava certo. Pude confirmar isso, primeiro, ao ver a bateria gigante que só poderia ser de Terry Bozzio. E ela estava montada de lado – e isso só poderia ser coisa de Patton, que, claro, deve ficar ao centro e aparecer mais. Tive a certeza que Patton é roadie de si próprio quando o Fantomas entrou no palco. A “banda” (uso aspas pra ficar claro que aquilo não era uma banda – não era nada) veio ao Brasil para fazer o que antigamente os críticos chamavam de “o ensaio mais caro do ano”. À frente, Patton, com cabelos à Mederix em “Estúpido Cupido” fazia caras, bocas e ruídos, tirados de equipamentos modernos, e os demais tentavam acompanhar. Ou talvez nem isso. O guitarrista, com uma cabeleira a Shane Embury, parecia tocar como um alucinado, dando de ombros para os demais. Terry Bozzio, por sua vez, com um oclinhos de vovô, tentava seguir o maestro sem batuta. Nunca vi uma bateria tão portentosa ser tão desperdiçada.

Mas falava de Claro Que é Rock. Todo mundo já sabe o que aconteceu na edição do Rio, mas na verdade muita gente aproveitou uma falha da organização para esculachar com tudo de uma vez só. Foi um saco de gatos dos diabos, patrocinado pela crônica musical. Por exemplo, a estrutura montada na Cidade do Rock foi das melhores. Reduziram a imensidão daquele espaço para um menor, com capacidade para uma 50 mil pessoas, gramado e com boas áreas de alimentação, sanitários e até para descansar. A falha foi não ter montado, em conjunto com a Prefeitura, um esquema de transporte semelhante ao usado no Rock In Rio, o que certamente teria levado um público maior ao local. Outra reclamação da mídia, que até virou motivo de chacota, foi o fato de os cambistas terem reduzido o valor do ingresso a tal ponto, que no final, ele era brinde na compra de uma bebida qualquer. Ora, se os ingressos encalharam, a culpa não é da produção do festival, que apostou pesado na divulgação, com out doors, anúncios na TV, rádio, etc. E a escalação era a dos sonhos, ao menos para os interessados em alternativas aos medalhões de sempre. Foi, sem dúvida, a primeira vez que um festival de rock trouxe só bandas diferenciadas do esquemão, e talvez por isso mesmo o comparecimento do público não tenha sido melhor. Só fez falta, ainda dentro desse contexto, uma banda como o System Of a Down, por exemplo. Agora, se para esses artistas não há um público de 50 mil pessoas, paciência.

Outro exemplo de má vontade da mídia se deu com os segmentos atingidos por cada banda. Vi jornalistas estamparem o rótulo de “banda de tocar em rádio” ou “banda de adolescentes” nos textos sobre o Good Charlotte, como se, por isso, fosse um grupo de importância menor. Ora, tocar em rádio não é bom para as bandas ficarem conhecidas e pra gente conhecer as bandas? Rock não é música para adolescentes mesmo? Ou seria para os decanos da imprensa? A falta de conhecimento – e até a disposição para apurar os fatos – foi tão grande, que desencadeou numa desinformação sem precedentes. Ou seja, os caras não fizeram o dever de casa.

Mas eu dizia que tomei uma rasteira da modernidade. Um carrinho por trás, sem bola. Mas conversa vai, conversa vem, ainda que tarde, mas antes que nunca, também vou deixar aqui minha lista de melhores de 2005. Não vai rolar retrospectiva pra tapar buraco, não, só o listão mesmo, e sem ordem de importância que isso é coisa de sala de aula. Aproveitem, porque 2006 vai ser o ano do rock!

Disco internacional
Dark Light - HIM
X & Y - Coldplay
Mezmerize - System Of a Down
Inventor Of Evil - Destruction
Out Of Exile - Audioslave
Lullabies To Paralyze – Queens Of The Stone Age
Angel Of Retribution – Judas Priest
Is There Love In Space? – Joe Satriani
Octavarium – Dream Theater
You Could Have It So Much Better - Franz Ferdinand

Disco nacional
Anacrônico - Pitty
Pista Livre - Cachorro Grande
Canções de Dentro da Noite Escura - Lobão
Playback - Walverdes
Inner Trauma - Andralls
Suíte Super Luxo – El Toro!
Hora da Batalha - Devotos
Máquina de Fazer – Mukeka Di Rato
O Exercício das Pequenas Coisas - Ludov
No Ass No Pass - Bastardz

Show internacional
Lenny Kravitz - Praia de Cobacabana, Rio
Iggy & The Stooges - Claro Que é Rock, Rio
Wilco - Tim Festival, Rio
Pearl Jam - Praça da Apoteose, Rio
Judas Priest - Claro Hall, Rio
Scorpions – Live’N’Louder, São Paulo
Hatebreed – Circo Voador, Rio
Placebo – Abril Pro Rock, Recife
Elvis Costello – TIM Festival
Destruction – Live‘N’Louder, São Paulo

Show nacional
Autoramas - Teatro Odisséia, Rio
Cachorro Grande - Circo Voador, Rio
Luxúria - Porão do Rock, Brasília
Barão Vermelho - Morro da Urca, Rio
Canastra - Humaitá Pra Peixe, Rio
Pitty – Canecão, Rio
Ratos de Porão – Circo Voador, Rio
Violeta de Outono – Teatro Odisséia, Rio
Estrume’n’tal – Campeonato Mineiro de Surf, Belo Horizonte
Retrofoguetes – Dosol Festival, Natal

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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