Som na Caixa

Lobão

Canções Dentro Da Noite Escura
(Universo Paralelo)
Publicado na Dynamite número 83, de junho de 2005

lobaocancoesLobão pode até negar, mas este é o disco que o traz de volta ao rock. Pode não ter sido uma coisa intencional, mas, convenhamos, um disco preparado como este foi, por um artista hoje ocupado com mil coisas e transbordando energia e vivacidade, só poderia resultar na visceralidade do rock mesmo. E a história de fazer uma “ópera rock” está mais no conceito que permeia todo o disco do que na idéia de uma coisa chata e interconectada por vinhetas instrumentais. Referências aos anos 80, apesar das evidentes parcerias e homenagens, também são pouco salientes.

“Canções Dentro da Noite Escura” é um apanhado de músicas fortes e pesadas, seja em instrumental, poesia ou conteúdo dramático como um todo. Assim é “Seda”, uma letra de Cazuza “arrumada” e musicada por Lobão, um blues rock forte que deságua num solo espetacular, executado por ele próprio, que, aliás, também toca bateria, teclado, sintetizador e piano em quase todas as faixas, além de cantar. “Homem-Bomba” é a mais pesada do disco, um rock mezzo metal nervoso e com as guitarras em estado de graça, acompanhadas por programações certeiras. Faz lembrar a vanguarda do metal dos anos noventa, de Helmet e adjacências, só que devidamente atualizadas por um Lobão mais raivoso que nunca, e solando que é uma beleza. “Boa Noite Cinderela”, que a antecede, é a que homenageia Cássia Eller com uma precisão tão grande que dá até para imaginar a própria cantora interpretando esse blues pesado.

Outros momentos nem tão pesados, mas interessantes, permeiam o disco, como “Quente”, que traz uma das últimas letras de Julio Barroso, a balada “Tranqüilo”, ou “Pra Sempre Essa Noite”, a bossa-nova atualizada que abre o disco, cheia de guitarras. Atualização parece ser mesmo a palavra que melhor emblematiza “Canções Dentro da Noite Escura”, e, aí sim, realça o conceito buscado por Lobão no seu Leblon ideal e imaginário. O bairro aparece citado e reverenciado em várias letras, seja literalmente ou em suas noites, flores ou ondas, como na bela “Você e a Noite Escura”, onde o Lobo presta reverência à sua musa. A música é rara já na composição e cresce com um arranjo denso, mas simples e cativante, com grande potencial para virar hit radiofônico de qualidade. Já em “Balada do Inimigo” é o sarcasmo o elemento principal, e “Aí Galera Maluca” é uma instrumental que traz um festival de guitarras e programações para deixar Satriani feliz da vida.

Com “Canções Dentro da Noite Escura”, enfim, Lobão se re-insere no mercado musical, não como o artista independente iniciante de outrora, mas consolidado como discurso e prática, e, o mais importante, mostrando que sua verve ainda pode ser transformada em boa música. Bom rock, quer dizer.

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