Rock é Rock Mesmo

No festival que é uma bênção, até eu saí abençoado

Onde, em todo o mundo, uma banda como o Kings of Leon faria um show com tanto público, senão no TIM Festival? Onde uma banda de quermesse como o Arcade Fire tocaria para uma platéia tão empolgada, senão nesta festa de modernos? Para eles o TIM Festival funcionou como uma verdadeira Ilha da Fantasia. Só faltou o Tatu.

Meus amigos, quando a esmola é demais o santo desconfia. Ou, por outra, a fartura é tanta que é difícil articular as idéias. E em época de tantos shows, tantos eventos de bom nível, cada vez se torna mais dispensável as listas de melhores disso, melhores daquilo. Aquele recurso que publicações usam pra criar polêmica e atrair leitor, sabem como é? O fato é que é tudo tão bom que fica difícil separar o trigo do trigo. Calma, olha a condescendência.

O amigo leitor desta coluna já há tempos sabe que considero eventos como o TIM Festival uma verdadeira bênção. Bandas e artistas de pouca expressão são contratados a peso de ouro, tratados como grandes astros internacionais, fazem shows para platéias enormes e empolgadas e saem consagrados. Por exemplo, onde, em todo o mundo, uma banda como o Kings of Leon faria um show com tanto público, senão no TIM Festival? Onde, uma banda de quermesse como o Arcade Fire tocaria para uma platéia tão empolgada, senão nesta festa de modernos? Para eles, e tantos outros, o TIM Festival funcionou como uma verdadeira Ilha da Fantasia. Só faltou o Tatu.

Mas vale uma ressalva. Uso o termo “é uma benção”, mas ele não é meu e tenho que dar o devido crédito. Quem cunhou a expressão foi o grande Paulo César Vasconcelos, ex-comentarista da ESPN Brasil e atual Sportv. PC usou a frase para se referir a jogadores medíocres, que, no meio do futebol, conseguem certo sucesso financeiro. Para eles, o futebol é uma bênção. Pois para artistas inexpressivos como Kings of Convenience, Morcheeba, Kings of Leon, e tantos outros desde a época da fase Free Jazz, o TIM Festival é realmente uma bênção.

Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, há que se fazer certas ressalvas. A cada edição, há, no mínimo, um bom show. Quem não se lembra do arraso do White Stripes em 2003 e do Mars Volta (segundo apurei) no ano passado? Pois nesse ano, acreditem, teve tantos shows bons (pra dizer o mínimo) que abençoada acabou sendo a abastada platéia. E, de quebra, este que vos escreve. O que foi aquele show do Wilco, afinal? E o do Elvis Costello? Até os Strokes fizeram um showzinho correto, com o público na mão. E ainda teve o histórico Television.

Na verdade não gosto mundo da expressão “abençoado”. Parece coisa divina, bíblica, épica, religiosa. Mas até que ela cai bem, no sentido de dar a César o que é de César. Antropólogos não entendem de música, mas de vez em quando eles acertam. Até porque, num festival que é uma bênção, é tudo parada certa. Certo ou errado, a boca tá garantida, até pela força que o festival tem no mercado.

Mas no show do Strokes, uma coisa, da metade para trás do público, chamava a atenção. Uma senhora de pouca estatura vibrava com o show como se fosse a fã número um. Junto dela, um pouco mais atrás, uma outra senhora, com a idade mais avançada. Ao redor, pessoas com cara de que caíram ali de pára-quedas. Sem jeito de fã, curioso e afins. Entre eles, uma moça altiva que veio em minha direção para dar o “furo”: as duas senhoras eram, respectivamente, a mãe (aquela saltitante) e a avó do baterista Fabrizio Moretti. Não é nada pessoal, mas não dava pra colocar as coroas no backstage, não?

O festival que abençoa, por outro lado, às vezes chega a ser bizarro. O tal do “palco” Motomix, por exemplo, nem dá pra se levar a sério. Um local onde cabem facilmente seis mil pessoas (mas para onde só vendem quatro mil ingressos), com umas 500, e olhe lá, e um DJ ocupando aquele palcão de meu Deus (o negócio anda bíblico por aqui). Sem falar quando a produção, na última noite, desesperada, abriu as portas para o público e ainda mandou avisar no Palco Lab (onde os shows se encerravam) que todos estavam convidados para o Motomix. E ainda teve gente dizendo que grande parte dos ingressos do Lab eram distribuídos. Pela quantidade de famosos, caetanos e afins que tinha lá, não dá pra duvidar dessa hipótese.

Quem esteve no último final de semana no MAM também se surpreendeu com os palcos em lugares diferentes dos de costume – só o palco Lab permaneceu onde sempre foi. Tanto os palcos Club como o TIM Stage e até as salas de imprensa, produção e convidados mudaram de lugar. O motivo? É que, no lugar onde o TIM Stage era locado até o ano passado, está um grande tapume de uma outra empresa de telefonia, que, através de um contrato, irá fazer obras no local para a instalação de outros eventos ligados à cultura. Até uns seis meses antes do festival, a “briga” entre as duas operadoras – uma não queria ter por perto a anúncio da outra – quase inviabilizou a realização do TIM Festival desse ano no MAM. Vivemos ou não a ditadura das telefônicas?

Livre de estandes e lojinhas inúteis, finalmente o Village, também conhecido como Off-TIM, teve espaço para o público que não podia pagar os caros ingressos. E ainda teve alguns shows acontecendo ali, como os de BNegão e do Fausto Fawcett. Pena a produção não ter divulgado os horários, para não “dividir” o público pagante. Cada uma…

Mas eu falava de bênçãos e de abençoados. E não havia ninguém mais feliz naquele bolsão de modernos do que o público indie. Ele, aliás, nunca foi tão numeroso, nem na excursão pra ver o Pixies em Curitiba em maio do ano passado. É sabido: não é possível o indie duro. E ali no MAM, nesta segunda edição carioca do TIM Festival, mais precisamente no Palco Lab, de frente para a maior banda de quermesse em todos os tempos, os indies estavam, com um copo de cerveja na mão, me perdoem a expressão, iguais a pintos no lixo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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