Rock é Rock Mesmo

As indescritíveis viúvas de Mike Patton

Perdidas no mundo do rock e chorando pelos cantos, as viúvas de Mike Patton enxergam uma realidade fictícia, na qual o fracassado ex-vocalista do Faith No More aparece como uma mítica e legendária figura do rock. Publicado no Dynamite on line.

Há muitos anos, para ser mais preciso, no último trimestre de 1994, o fim da Rádio Fluminense FM deixou inconsoláveis os fãs de rock. Afinal, a primeira rádio rock do Brasil, que inspirou o surgimento de todas as outras, além de ter sido a pioneira na utilização da locução feminina, tinha acabado. O termo recorrente usado por todos era o de “órfão”. Sim, todos éramos órfãos da Fluminense FM. Naquele período, li um artigo de um jornalista que dizia: “eu odeio viúvas”. Para ele, se não tínhamos mais a saudosa rádio, paciência, ao invés de ficarmos todos choramingando pelos cantos, deveríamos buscar alternativas. De início, fiquei furioso, mas logo compreendi o significado daquilo, o que me ajudou a superar a fase ruim com o fim da rádio. De quebra, guardei o termo “viúvas”, que se arrastam e lamentam a perda, diferente de “órfão”, que sente o desamparo. Nos últimos tempos, tenho usado esse termo para designar aqueles que choram por Mike Patton, ex-vocalista do Faith No More.

É impressionante a perturbação mental e psíquica (ambas no sentido clínico) que uma única pessoa causou em tantas outras no Brasil, que, invariavelmente aparecem na mídia, ou, do nada, durante um show qualquer, para creditar a Mr. Patton uma série de méritos fictícios, seja na área musical, pessoal, ou, acreditem, mesmo na artística. Confesso aos leitores que, naquele Rock In Rio de 1991, embora já não agüentasse mais ouvir a voz forçada dos clipes de “Epic” e “Falling to Pieces”, também fiquei impressionado com a performance arrebatadora daquele cara que sacudia velozmente não só a cabeça, mas todo o tronco, na sensacional introdução de “From Out Of Nowhere”, que abria o show do Faith No More, numa noite em que a sensação era o Gun N’Roses. É fato que o Faith No More roubou a cena, e mesmo com a consagração do Sepultura, saiu dali como a grande revelação do festival. Mas daí a cair num mundo no qual predominam visões compostas por desejos reprimidos, num quadro, repito, clínico e patológico, aí já é caso para o Pinel.

Para quem ainda não se situou sobre o que estou falando, mesmo porquê o assunto é sobre uma figura obscura continuamente ressuscitada por suas viúvas, Mike Patton foi o vocalista do Faith No More entre 1988 e 1997. Depois de ser considerado a revelação do Rock in Rio, o grupo entrou em franca decadência, como vimos em suas apresentações seguintes no Brasil, numa turnê própria, em 1992 e noutra dentro do festival Monsters Of Rock, em 1995. O disco “The Real Thing” (1989) foi considerado pela crônica musical como o criador do tal funk’o'metal, embora grupos como o Red Hot Chilli Peppers (que hoje não passa de uma bandinha de baladas para playboy pegar mulher) e até o Killing Joke, cerca de dez anos antes, já fizessem o som que misturava rock, suingue e guitarras pesadas. Esse era o segundo disco do Faith No More, o primeiro com Mike Patton, que demorou uns dois anos para conquistar o merecido sucesso, muito, é verdade, graças à maciça exibição na MTV, sobretudo no Brasil.

Perturbado com o sucesso, a partir daí a grupo não conseguiu lançar um disco sequer razoável, e sem ter como se manter no mercado, Mr. Patton voltaria a se aventurar em sua banda de origem, o Mr. Bungle. Como também não deu certo (quem se interessaria por um disco em que uma das faixas traz um cidadão comendo uma macarronada para em seguida resolver um problema intestinal numa privada?), nosso herói parte para vários “projetos” ou bandas “solo”, tentando sempre aparentar uma iniciativa “conceitual”, “artística” ou “vanguarda”. Aproveitando os contatos que fez no meio musical, nas intermináveis turnês que fez com o Faith No More, sabiamente Patton convida amigos de outras bandas (sempre famosas) para participar desses projetos. É assim que Dave Lombardo (Slayer), John Zorn, Buzz Osbourne (Melvins) e John Stainer (Helmet), entre outros, acabam tentando ajudar o amigo, que, no final das contas, deve ser um cara legal. O fato é que, depois do Faith No More, nada feito por Mike Patton foi em frente. Na verdade, assim como existe no futebol o ex-jogador em atividade (termo desenvolvido pelo cronista esportivo Paulo César Vasconcelos), Mike Patton não passa de um ex-músico ou ex-artista em atividade.

Não me entendam mal, não é que Patton seja um vagabundo que não faça mais nada. Mas ele se deleita com os direitos autorais pagos pelas músicas de sucesso do Faith No More (”o rock’n'roll é uma benção”, de novo o PC) e tem tempo para investir num sem números de projetos paralelos, todos inócuos e perfeitamente desnecessários para o rock. Enumerar aqui todas essas viagens sem volta, objetivo ou conseqüência, seria perda de tempo, afinal, alguém tem como medir a repercussão desses trabalhos? Será que coisas tão geniais, até hoje, e lá se vão 6 anos do fim do Faith No More, não despertaram o interesse de ninguém, de modo a ficar disponível no mercado? Será que o próprio Mr. Patton não consegue lançar seus interessantíssimos trabalhos, já que, dizem, é dono de uma gravadora? Ora, francamente!

Não costumo, de uma forma geral, e muito menos nessa coluna dedicada ao rock, ficar falando mal de artistas medíocres - prefiro exultar as qualidades de outros que têm o que mostrar. Mas é também função desse espaço mostrar aquilo que faz sentido, embora contrarie um, digamos, “conceito geral”. Nesse caso, esse conceito vem das indescritíveis viúvas de Mr. Patton, com insistentes argumentos de que ele é o responsável por uma série de coisas que nada tem a ver com seu desprezível trabalho, assim como aconteceu com o Faith No More, na maior parte de sua existência. Elas enxergam uma realidade fictícia, na qual o fracassado ex-vocalista do Faith No More aparece como uma mítica e legendária figura do rock. Não vou aqui desfraldar o rosário de lamentações desses chatos de galocha, mas apenas me ater a duas de suas afirmações mais recorrentes, que na verdade são equívocos colossais.

Reivindicam as viúvas (como se isso fosse necessário) que Mr. Patton e o Faith No more foram os precursores do nu-metal. Às vezes, elas são até auxiliados por parte da crônica musical brasileira, que infelizmente não circula muito bem nas (inúmeras) subdivisões do heavy metal, e acabam caindo na mesma armadilha. Não vou me estender muito aqui, afinal nu-metal ainda será assunto principal desta coluna, mas é óbvio e ululante que para se falar em nu-metal, antes temos que passar pelo alterna metal, e que, para sintetizar, o gênero foi semeado por grupos como Helmet, Prong e Clutch, só para ficar em três bandas que faziam, no início dos anos 90, o que se chamava também de “metal de vanguarda” ou “metal bate-estacas”. Mr. Patton e o Faith No More pouco têm a ver com o peixe.

Outro argumento recorrente é que “Angel Dust”, álbum do Faith No More, lançado em 1992, seria a “obra-prima” que serviria como ponto partida para o nu-metal. Primeiro que não é bem assim que as coisas funcionam, nenhum gênero musical nasce do nada, ou de uma hora para a outra, é preciso analisar uma série de contextos e circunstâncias. E, depois, trata-se de um disco fraquinho e heterogêneo, na verdade um apanhado de músicas sem nenhuma unidade ou conceito, e que em nada faz qualquer pessoa com o mínimo de sensatez achar que tenha a ver com as músicas que hoje predominam no mercado americano.

Mas o pior mesmo, é quando essas viúvas montam, ou participam de bandas, e, para mostrarem uma performance tão diferente quanto à de Mike Patton, passam a imitar, literalmente, seus trejeitos. Seja cantando ou tocando baixo ou guitarra, é notória a vontade de ser esse alguém, como numa permanente alucinação. Ok, é até normal dentro do rock que muitos jovens passam a agir, se vestir, etc., de acordo com seus respectivos ídolos. Mas imitar um fracassado? Não é à toa que boa parte das bandas dessas viúvas não sai do lugar.

Aposto que o leitor que acompanhou a coluna de hoje até aqui já deve ter se deparado com uma dessas viúvas sobre o palco, só não tinha se dado conta disso. É comum encontrá-las por aí, ainda mais na Internet, onde tudo que é inexpressivo ganha ares de consolidado. Sem a rede mundial de computadores, na verdade, essas viúvas jamais existiriam, e se isso acontece, repito, só pode ser fruto de num quadro clínico ou patológico. E aí, o primeiro passo para a cura é admitir que a doença está contraída e sair, de uma vez por todas, desse luto voluntário. Quanto às vítimas desse chororô, cabe outro dito popular: melhor não contrariar.

Até a próxima, e long live rock’n'roll!!!

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Comentários enviados

Existem 11 comentários nesse texto.
  1. Ana Paula em julho 28, 2010 às 10:38
    #1

    Meus Deus, quanta bobagem….

  2. Leandro Ravaglia em novembro 16, 2011 às 19:30
    #2

    Você dizer que os discos posteriores do FNM não alcançaram o mesmo sucesso do “The Real Thing”, ok. Mas dizer que eles não são sequer razoáveis é de um exagero tremendo. Todos têm músicas excelentes. Talvez valesse uma ouvida mais atenciosa.

    Sobre o Angel Dust, nunca foi a banda ou os fãs que o classificaram como “a pedra fundamental do nu-metal” (nesse ponto, ok. Nada pra se orgulhar), mas sim nomes como Jonathan Davis (Korn) e Fred Durst (Limp Bizkit) que o apontaram como tal.

    Considero Patton um dos melhores vocalistas de rock em atividade e acho difícil vc conseguir listar pelo menos 5 melhores do que ele ao vivo, mas, assim como no caso das viúvas, vale também o mesmo dito popular para os casos de “pinimba”: melhor não contrariar.

    Sou fã da coluna, mas esse texto foi de uma tremenda infelicidade.

  3. alexandre dias em novembro 16, 2011 às 21:22
    #3

    Não sou fã e nunca gostei de Faith No More, então aí vai um comentário imparcial. Esse texto está uma grande porcaria. Se vai escrever uma crítica sobre alguma coisa, deveria aprender antes de fazê-lo e fazer uma crítica mais consistente e com argumentos inteligentes do que essa baboseira que está ai. Ridículo!

  4. Carla em novembro 21, 2011 às 8:57
    #4

    Essa cisma com o Patton já é caso preocupante. Considere terapia, amigo.

  5. Ana Paula em janeiro 31, 2012 às 6:13
    #5

    Mike Patton é simplesmente um cantor extraordinário (não sou só eu que digo, vários outros vocalistas de rock já afirmaram o mesmo), e seria mesmo em qualquer outro estilo música. O cara faz da voz o que quer, participou do filme “A Lenda”, do (fantástico) Will Smith, simplesmente fazendo o som dos zumbis do filme, algo que qualquer outro filme faria com efeitos especiais. Nnenhuma pessoa com uma voz normal conseguiria fazer o que ele faz.

    “The Real Thing” foi considerado um disco fantástico pela crítica quando foi lançado. E todas as letras foram escrita por Mike, apenas as melodias das músicas estavam prontas, o cara escreveu em um fim de semana. Fracassado? Fala sério… Se todo fracassado tivesse metade do talento do cara…

    Mas já que o pessoal comentou que o autor do artigo tem picuinha com Patton então… não se discute, né?

  6. Cristina em março 18, 2012 às 18:36
    #6

    Acho que essa pessoa teve uma decepção muito séria e desconta no Mike Patton! No mínimo deve curtir bandas como o Iron Maiden.

  7. Juliana em maio 21, 2012 às 0:22
    #7

    Dei muita risada com o seu texto! É de fato uma piada. A parte mais divertida é quando você diz, entre tantas outras bobagens: “uma figura obscura continuamente ressuscitada por suas viúvas, Mike Patton foi o vocalista do Faith No More entre 1988 e 1997.” Ano passado fui ao SWU assistir ao show do Faith No More (sim, eles ainda estão na ativa! Pasme!), fiquei na grade e tive a honra de pegar na mão do falecido Mike Patton… para mim ele parecia escandalosamente vivo!

  8. Pedro em julho 9, 2014 às 10:45
    #8

    Nunca vi tanta bobagem escrita num texto só. Realmente tu deve adorar escutar coisas bem comerciais. Um disco razoável para ti certamente é um disco que vende muito.
    Mr. Bungle, Fantomas, Tomahawk, Mondo Cane, são projetos simplesmente genais, que existem para quem realmente gosta de musica de verdade e não mais do mesmo.
    Não sou viúvo no Mike Patton, pelo contrário, dou graças a Deus que ele saiu da banda e lança tantos projetos geniais, feitos para quem ama e entende de musica de verdade e não aguenta mais ouvir Faith no More e Guns N’Roses como você.

  9. Paul em maio 19, 2015 às 23:22
    #9

    Quanta bobagem no texto… escreveu tanta baboseira. O Faith no More é uma banda que sempre estará com o nome em evidencia e não será comentários e argumentos fracos que modificarão isso.

  10. Carolina em janeiro 19, 2019 às 19:45
    #10

    Eu estou pasma com este texto, nunca vi tanto recalque e dor de cotovelo num só texto! Aliás eu nunca vi ninguém falar uma vírgula de Mike Patton, simplesmente o cara é considerado o Senhor das vozes, e convenhamos, ele faz o que quer com ela! Todos os projetos dele são fantásticos, ele tem talento nas veias. Fora o talento, ainda tinha uma beleza estonteante, e isso deve mexer muito com você. Não sou viúva dele, pois graças a Deus ele está bem vivo e continua cantando e criando seus projetos “loucos e fantásticos”! Quanto aos discos, nem perderei meu tempo respondendo, pois algumas pessoas já responderam nos comentários. Clínico e patológico são os seus problemas, e eu diria também que de um extrema baixa auto-estima, mas a notícia boa pra você é que tem tratamento! Caso ainda se ache com razão, perceba que não há um comentário apoiando seu texto ridículo e desnecessário. Se querias chamar atenção, parabéns, você conseguiu!

  11. Sofia em setembro 4, 2019 às 18:14
    #11

    Cara, em que mundo você vive? kkkkk Seu texto está cheio de informações incorretas sobre a banda. “Angel Dust” foi eleito pela revista inglesa Kerrang!, em 2003, como álbum mais influente de todos os tempos - eu não concordo com a colocação, mas acho que dá pra ter uma ideia que o álbum é mega importante, né? Inclusive ele é considerado pela crítica especializada como o “masterpiece” do Faith No More, a grande sacada da banda, pela sua inventividade, seu experimentalismo. Como disseram aí embaixo, nunca foi o Faith ou o Mike Patton que disseram serem percussores do New Metal, foram os próprios caras das bandas desse gênero - além dos citados Korn e Limp, Chico Moreno (Deftones) e Serj Tankian (System of a Down) citam o Faith No More e o Mike Patton como uma de suas maiores influências. Patton, no entanto, sempre demonstrou desprezo por essa colocação, como sempre desprezou todo o lifestyle de celebridades e o circo do rock n’ roll que muitas bandas acabavam entrando.

    Se você se refere ao sucesso mercadológico e não “musical” do “Angel Dust”, fica a informação: é o álbum do Faith No More que mais vendeu até hoje, ultrapassando o “The Real Thing”. A diferença é que a banda ficou menos famosa nos EUA e mais famosa na Europa, tendo vendido mais de 2,5 milhões de cópias até hoje (que é mais, por exemplo, do que o Sepultura vendeu com “Roots” - álbum também influenciado pelo “Angel Dust”, segundo os membros do Sepultura).

    Com o talento e a aparência (que conta muito nessa indústria), Mike Patton e o Faith No More poderiam ser bem maiores, mas, ao invés de se venderem, preferiram tomar um caminho mais underground e fazer a música que realmente tinham vontade. A separação em 1998 não foi por falta de renovação de contrato com gravadora (à época, Warner Bros), que inclusive procurou o Mike Patton pra lançar outros de seus projetos (ele é que não quis, porque justamente queria viver num ambiente mais underground, mercadologicamente falando - sem pressões de gravadoras).

    Beleza você gostar de coisas mais comerciais, mas aí tu desmerecer toda uma trajetória só porque não vai muito com o teu gosto musical? Não rola, né? rsrs Exemplo: eu não gosto de Britney Spears, mas entendo o contexto, saca?

    Como jornalista cultural, acho que ser crítico é considerar outras coisas além do nosso próprio gosto - exemplo: não vou avaliar um álbum da mesma forma que avaliaria um álbum do Mike Patton, não porque não gosto dela, mas sim porque são estilos diferentes, inseridos em contextos musicais e mercadológicos diferentes, voltados para públicos diferentes. Se abre pra vida, cara! Sai dessa nóia! hahaha

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