Ouvira a frase no refrão de uma música do Scorpions, que também era o título e o verso mais repetido, como bem manda a cartilha do pop. Não que o grupo fosse assim de fácil assimilação. Era e não era, ao mesmo tempo, porque, ligado ao rock pesado, fora craque em criar baladaças daquelas que começam bem lentinhas e terminam numa barulheira dos diabos.

Tinha umas três estantes lotadas de CDs, um verdadeiro cemitério musical, numa época em que o formato vinha sendo dado como morto dia após dia. Mas sempre faltava-lhe alguma coisa.

Apostava, sem nenhum motivo aparente, que era uma moça que se avizinhava ao seu domicílio. Foi divagando sobre isso que não resistiu e colou na vitrola um velho CD de Wander Wildner, com o intuito de escutar uma única faixa: “Minha Vizinha”.

Não tinha, definitivamente, tempo para acessar a grande rede, mal possuía um e-mail em seu nome – optara por um apelido. Era de família humilde e dependia – e ainda tinha mais essa – da conexão discada.

Sabia que, ao traduzir cada verso daquele formidável hard rock, tudo pareceria brega demais. Mas achava, assim mesmo, que cafona era a língua portuguesa, uma vez que, na voz de David Coverdale, essa verdadeira profissão de fé lhe parecia pessoal há mais de dez mil anos.

O zumbido nos ouvidos denunciava que a pista não havia bombado ao som de B 52’s, The Reflex, Oingo Bongo, Psychedelic Furs ou outras bobagens dançantes. Sabia muito bem identificar o dano nos tímpanos causado por Black Sabbath, Metallica, Motörhead e Led Zeppelin.

Tinha a mania de acertar o nome da música que começava a ser tocada ou da banda antes que os que estivessem ao seu lado reconhecessem a canção. Losing My Religion! The Killers! The Police! Seven Nation Army!

Procurava porquês em todos as cantos, mas não encontrava resposta nunca. Sentia a angústia contida citada numa música da Plebe Rude e tinha a dor que dói no peito proclamada pela Legião.

Fosse no semblante de Bono Vox, na melodia chorosa das músicas do Coldplay ou até no renascido Capital Inicial, havia algo que os prendia ali.

Tinha se apegado a manias virtuais. Nem percebeu, mas, com o tempo, sua profissão o levara a ficar praticamente todo o dia conectado à Internet. Foi assim, incrédulo, que viu surgir na tela uma solicitação de adição de um novo contato no msn.