Mundo paralelo
Muse vai ao futuro, volta e entrega espetáculo retrô futurista repleto de atrações em ótimo show no encerramento do Rock In Rio. Fotos: Vinicius Pereira.
E não foi só isso. Em quase duas horas de um show corrido e cheio de nuances, há figurantes em profusão desfilando pelo palco sob variados figurinos, tambores gigantes, robôs armados até os dentes atirando contra todos, muitos óculos extravagantes, câmeras que filmam de tudo o que é ângulo, balões, papel picado e serpentina, em grande interação com a plateia na maior parte do tempo. E tem música também, daquele tipo multi-influenciada do Muse, que colhe sementes do rock de arena, do heavy metal, do progressivo e da música eletrônica, só para citar os principais, para fazer germinar em solo fértil um modo diferente de tocar rock, sobretudo pela sonoridade das guitarras de Bellamy, o comandante da tropa, sempre lotadas de efeitos eletrônicos do bem.
É a turnê do álbum “Simulation Theory”, lançado há cerca de um ano e que, embora pouco inspirado em termo de composições, mantém o direcionamento da banda nessa estética retrô-futurista sempre com recursos pouco orgânicos, mas de eficazes resultados. No show, inclusive essa dicotomia se salienta em diversos momentos, seja na utilização de tambores com diâmetros de mais de dois metros, posicionados na vertical, um de cada lado do palco, e operados pelo baixista Chris Wolstenholme e pelo baterista Dominic Howard, em “Pray (High Valyrian)” – por que não usar efeitos gravados? -, ou em “Dig Dow” convertida numa versão acústica (mais orgânico impossível), com o trio juntinho na ponta da passarela que divide o público ao meio, e teclados no lugar da guitarra. “Pray”, inclusive, e tem tudo a ver, é composição de Bellamy para a séria “Game Of Thrones”.Essa mobilidade no palco é outra característica da turnê, onde vários cenários são estabelecidos, um após o outro. Já no início no show Howard e Wolstenholme estão no alto do palco, repleto de plataformas e escadas, um de cada lado, com outros dois tambores cada um, quando Bellamy surge do piso através de um alçapão. Ele desfila com um óculos de persiana tocando guitarra em meio a um exército de robôs futuristas que surgem no palco, aparentemente tocando instrumentos de sopro. A música começa e um telão partido em retângulos de tamanho desiguais aparece no alto do palco, sobre o cenário, em impressionante feito visual. É a vez de “Pressure”, uma das novas, que emenda em “Psycho”, do álbum anterior, “Drones”, e deságua em “Uprising”, hit recente cada vez mais consolidado.
Todo trabalhado na mobilidade tecnológica, Matt Bellamy se movimenta o tempo todo, com ou sem guitarra, mas sempre com uma câmera na sua cola, isso quando não há uma nos óculos mesmo, para as quais ele faz questão de aparecer, com a imagem ampliada nos telões. O conceito tecnológico volta a aparecer em outras esquetes. Em “Propaganda”, os tais robôs reaparecem armados disparando fumaça para tudo o que é lado, e “Thought Contagion”, mais uma das novas, traz espécie de robôs zumbis no maior estilo “Waking Dead” (olha as séries aí de novo) se arrastando pelo palco. Em “Mercy”, Bellamy desce na grade para cumprimentar o público, mas de um lado só da passarela, frustrando a turma do outro lado, tudo isso com muito som rolando no palco.A lista de grandes momentos não é pequena. Tem o público desenrolando um bonito cantarolar em “Plug In Baby”; o solo de guitarra com os dentes de Bellamy, em “Supermassive Black Hole”, no maior estilo Jimi Hendrix; “Time Is Running Out”, com o trio reunido no palco em rara configuração ordinária; o público cantando junto com força em “Hysteria”, com citação a Led Zeppelin, e as tradicionais palmas de “Starlight”; os dois robôs inspirados em “O Exterminador do Futuro” que passeiam pelo palco em “Algorithm”; o lançamento de balões, papel picado e serpentina a rodo em “Mercy”; e a reta final, com Bellamy possesso mandando um pout pourri instrumental totalmente heavy-metálico, com o volume ainda mais alto, em consonância com a caveira boquiaberta que surge por cima do cenário, o que aponta para o desfecho preciso de “Knights of Cydonia”. Ou seja, um belo show, com estatura suficiente para encerrar um festival com o Rock In Rio, em sua maior edição de todos os tempos.
Set list completo:1- Algorithm
2- Pressure
3- Psycho
4- Uprising
5- Propaganda
6- Plug In Baby
7- Pray (High Valyrian)
8- The Dark Side
9- Supermassive Black Hole
10- Thought Contagion
11- Hysteria
12- The 2nd Law: Unsustainable
13- Dig Down
14- Madness
15- Mercy
16- Time Is Running Out
17- Starlight
18- Algorithm
19- Stockholm Syndrome/Assassin/Reapers/The Handler/New Born
20- Knights of Cydonia
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