Tomando jeito
Bem ensaiados, irmãos Cavalera revivem álbuns que pavimentaram o sucesso internacional do Sepultura há quase 30 anos. Fotos: Daniel Croce.
Porque, dessa vez, os caras parecem ter se preparado melhor, ensaiado com o afinco que a história deles merece, sobretudo Iggor, já que dele depende a agressividade de todo o repertório da fase que engloba os álbuns “Beneath The Remains” e Arise”, lançados respectivamente em 1989 e 1991. São ao discos que prepararam o Sepultura para a carreira internacional, consolidada em grande estilo e sucesso global com os posteriores “Chaos A.D.” (1993) e “Roots” (1996). Depois, a empresária da banda foi demitida, levou Max, marido dela junto, e o resto está hoje nas biografias de parte a parte. Trata-se de um repertório, por assim dizer, intermediário, antes das influências de quem vive o mainstream do metal e da música mundial, e depois do início bronco/ingênuo, lá em Belo Horizonte, que o Cavalera Conspiracy, como banda, tentar atualizar nos discos com músicas inéditas.
Quem passou pelas catracas do Circo esperando ver a banda tocando a íntegra dos dois álbuns, contudo, teve que se contentar com seis, de um total de nove, do “Beneath…”, e outra meia dúzia, das 10 do “Arise”. Matemática à parte, a solução se mostrou bastante eficiente, já que todas a músicas foram tocadas com o empenho, a agressividade e a técnica tal qual foram gravadas e eram executadas pela formação clássica do Sepultura nesse mesmo Circo Voador – ao menos as do “Beneath…”, depois a casa ficou pequena pra eles -, sem enrolação, sem pot-pourri, sem agora-cantem-vocês-que-eu-esqueci-a-letra-e-tô-sem-voz. E com Max tocando a guitarra suja de quatro cordas que lhe é peculiar durante todo o show. E com Iggor – repita-se – em uma de suas melhores performances nos últimos tempos, desde que se reuniu com o brother Max.Por isso a dobradinha “Beneath the Remains”/“Inner Self”, aquela mesmo que a TV Globo proibiu por ser muito pesada, e que tem um duplo bumbo de mudar a vida da pessoa, abrem a noite de forma avassaladora, com o plus do som do Circo, um dos melhores da cidade, bem equalizado e em um volume abissal. Por isso “Dead Embrionic Cells”, um clássico eterno do Sepultura, faz a plateia pular em uma enorme onda, como também acontece no cover de “Orgasmatron”, do Motörhead, bônus de “Arise”, que viralizou em uma MTV de sinal aberto antes mesmo de a internet arruinar o mercado da música. E por isso “Desperate Cry”, uma das preferidas de Max – de quem não é? -, surge como uma moto-niveladora a passear sobre o público.

O ótimo guitarrista Marc Rizzo, parceiro de Max Cavalera no Soulfly há uns 15 anos, debulha a guitarra
Um problema no cronograma dos shows fez o Enterro, que tocaria antes do CC, se apresentasse depois, encerrando a noite. O convite feito pelo próprio Max Cavalera – grande apoiador do metal nacional, diga-se -, e o apelo do vocalista/baixista Alex Kafer, além do som “do ramo” do DJ Terror, mantiveram um bom público no local, para um show conciso e bem pesado. O som cru da banda, tocando como trio, já que China, um dos guitarristas, não pode ficar, se revelou ainda mais “faca no estômago”, com Donida, o outro, mostrando toda sua habilidade no segmento, um deleite para os fãs de metal que, destruídos, mantiveram postura mais contemplativa. Na abertura, mais cedo, o veterano Endrah tocou para o público que ainda chegava, e fez um show pesado e com certo groove, muito embora a banda tenha raízes no death/thrash metal, com um quê de hardcore nova-iorquino anos 90. Um ótimo aquecimento para uma bela noite do metal nacional.
Set list completo:1- Beneath the Remains
2- Inner Self
3- Stronger Than Hate
4- Mass Hypnosis
5- Slaves of Pain
6- Primitive Future
7- Arise
8- Dead Embryonic Cells
9- Desperate Cry
10- Altered State
11- Infected Voice
12- Orgasmatron
13- Ace of Spades
Bis
14- Troops of Doom
15- Refuse/Resist
16- Roots Bloody Roots
17- Beneath the Remains/Arise
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