O Homem Baile

Alternativa

Baixista do Iron Maiden faz bom show, mas pouco concorrido, com o projeto paralelo British Lion no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O chefão do Iron Maiden, Steve Harris, se diverte com sua 'banda plano b' no palco do Circo Voador

O chefão do Iron Maiden, Steve Harris, se diverte com sua 'banda plano b' no palco do Circo Voador

Pouco mais de uma hora de show e o vocalista admite que, nesse trecho, estava prevista a retirada da banda do palco, para depois voltar com o desfecho da noite. Mas que bis, que nada, se o público já não é lá essas coisas – umas 400 pessoas, se muito – em uma noite chuvosa, o negócio é emendar tudo de uma vez, e é o que faz Richard Taylor, não sem antes apresentar cada integrante, entre eles o “the boss” Steve Harris, ele mesmo, o baixista do Iron Maiden, onde também é o chefão. É o British Lion prestes a encerrar o show no Circo Voador, o primeiro deles no Brasil, com um repertório assim, assim, mas que melhora muito ao vivo, em que pese a boa vontade dispensada ao monstro das quatro cordas.

É a primeira vez que se vê, em um palco, Harris sem o Iron Maiden a rodeá-lo, o que de certa forma faz o show ser fadado a comparações. Se o guitarrista Grahame Leslie se assemelha fisicamente a Janick Gers, o baixola Taylor passa longe da presença de palco de Bruce Dickinson, e o baterista Simon Dawson toca reto demais, se compararmos com Nicko McBrain, e aí parece tudo ser covardia. O que permanece é o talento de Steve Harris, cujo baixo galopante segue com o volume mais alto o tempo todo, tanto lá quanto cá, como se exigência mínima fosse. E não se pode disfarçar que mesmo com estruturas musicais parecidas, as composições, com grande participação dele em ambos os casos – mistério dos mistérios -, não são tão boas no British Lion.

O vocalista Richard Taylor, tocando violão: boa voz mas presença de palco um tanto quanto tímida

O vocalista Richard Taylor, tocando violão: boa voz mas presença de palco um tanto quanto tímida

Como não se lembrar dos duelos de guitarras do Iron Maiden na ótima introdução melódica de “The Burning”, incluindo um solo de Leslie, também matador? Ou na estrutura de músicas como “Lightning”, já na introdução, e “Spit Fire”, cujo ótimo refrão e o baixo sombrio dos tempos de Paul Di’Anno dá o tom? Ao mesmo tempo, por que elas não funcionam tão bem como as do Maiden? Não por acaso as três são de uma nova safra de composições da banda, se consideramos que o primeiro disco, autointitulado, base do repertório do show, saiu em 2012 – o segundo sai ano que vem. E parecem um passo adiante, ainda que sutil, dentro de espécie de classic rock que o quinteto quer mostrar, em um projeto bancado por Harris em todos os sentidos para ser assim.

O público, embora pequeno para um evento do tipo “um Iron Maiden no Circo Voador”, reúne uma turma lá na grade que conhece e canta as músicas do primeiro álbum, em clara opção de participar e incentivar em vez de ficar o tempo todo gritando por músicas do Iron Maiden. Estão entre as que a plateia mais participa, incluindo aí punhos cerrados erguidos e palmas no ritmo, “The Chosen Ones”, com uma batida mais pop, um cantarolar fácil e ótimo solo para compensar; “Judas”, que encerra a primeira parte, com ótimas evoluções de guitarras e interlúdio de violão; e “Eyes Of The Young”, ao deixar o público fazendo aquele “ôôô” de quem queria mais e, de certo modo, compensa para a banda a decepção com o fraco comparecimento.

Os guitarristas Grahame Leslie e David Hawkins, com ótimas intervenções instrumentais durante o show

Os guitarristas Grahame Leslie e David Hawkins, com ótimas intervenções instrumentais durante o show

Steve Harris parece pouco se importar, e, de seu lado, assim como faz no Iron Maiden, canta comoventemente a letras de absolutamente todas as músicas, em um estreitamento de empatia com público digno de nota, e não é de hoje. O que também realça que, ao vivo – repita-se -, a banda é muito melhor do que em disco, mesmo com um vocalista meio sem intimidade com o palco, deficiência compensada pelos dois guitarristas e pelo próprio Harris, que no final das contas, parece se divertir de um modo ou de outro, mesmo sem dar nem um alô no microfone, em sua tradicional discrição, em contrapartida ao sempre citado protagonismo de seu instrumento, lá ou cá. Quem venha logo o Rock In Rio, então.

Set list completo:

1- This Is My God
2- Lost Worlds
3- Father Lucifer
4- The Burning
5- Spitfire
6- The Chosen Ones
7- These Are the Hands
8- Bible Black
9- Guineas And Crows
10- Last Chance
11- Us Against the World
12- Lighting
13- Judas
Bis
14- A World Without Heaven
15- Eyes of the Young

Público pequeno, familiarizado com as músicas do British Lion e que não pedia Iron Maiden o tempo todo

Público pequeno, familiarizado com as músicas do British Lion e que não pedia Iron Maiden o tempo todo

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