Bola é Bola Mesmo

Nem foi difícil

Com uma hora de jogo, craques da França abreviam título diante de uma Croácia sem pernas e, como de hábito, sem futebol. Fotos: Divulgação FIFA.

franca15-7-18Acabou o jogo, diz o narrador. Mas não são nem 15 do segundo tempo de uma final de Copa do Mundo. Ocorre que o jogador, volante por definição, tem a bola nos pés bem na frente de sua área e faz um lançamento de uns 50 metros para o espoleta do time. Este recebe, tenta a jogada individual e demora o bastante para o mesmo volante se aproximar e pedir a bola. Ele então, já na entrada da área adversária, recebe, chuta de direita e a bola explode na defesa. Na volta, bate colocado, de esquerda, no canto do goleiro meio sem jeito. Acabou o jogo.

A jogada de craque de um Paul Pogba cheio de repertório é pinçada entre tantas outras dessa final, ou da França campeã, ou da Croácia operária vice-campeã ou de toda a Copa da Rússia 2018. Porque não se tem mais uma Copa de um craque só, como Pelé, Garrincha ou Maradona, pela ordem. Tem-se, isto sim, Copas de grandes craques, que brilham aqui e ali, em recortes de pura genialidade como esse, que se não coloca Pogba como o craque da competição, o confirma no rol desses.

Mbappé é o espoleta citado ali em cima, e é dele o gol que fecha o caixão da esforçada Croácia, uns seis minutos depois, mais ou menos do mesmo lugar e no mesmo goleiro Subasic, que parece – de novo – pregado no gramado. Aí, sim, acabou o jogo, embora o goleiro do outro lado, Lloris, ao dar um gol de presente a Mandzukic, se autodestrói como possível camisa um do Mundial.

Mbappé também não é o craque da Copa, mas anotou seus primeiros quatros gols e ninguém jamais esquecerá da arrancada na partida contra a Argentina, pelas oitavas de final, que resultou em um penal que abriu a porteira em um lindo quatro a três; este, sim, o jogo desta Copa de 2014. Ficou com o troféu de melhor jogador jovem, uma barbada com concorrentes como o promissor Gabriel Jesus.

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Mas o que faz o narrador decretar o final do jogo com menos de 15 da segunda etapa não são nem os gols, um depois do outro, da França. É a incapacidade plena de a Croácia esboçar qualquer reação. Seja pelo cansaço de três prorrogações e duas disputas de pênaltis seguidas, ou por ter sentido de verdade o peso de uma final contra – enfim – uma seleção grande e forte, ou por não ter craques em seu time, apenas operários, era flagrante que os caras não conseguiriam.

A derrota decretada precocemente, contudo, se desenhou ainda no primeiro tempo, com dois gols a favor dos franceses, no mínimo, esquisitos. Mas que são, de certo modo, a cara desse futebol moderno mostrado na Rússia. O primeiro, contra de Mandzukic, com a defesa croata, em cobrança de falta, inexplicavelmente enterrada dentro da própria área. E em outra falha de Subasic, que, pelo visto, ou amarela em finais ou só se dá bem em disputa de penais.

O detalhe é que a falta da qual saiu o gol, cobrada por Griezmann, jamais existiu, foi cavada pelo próprio jogador e apitada por um nervoso Néstor Pitana, árbitro argentino useiro e vezeiro em garfar brasileiros em Libertadores. Mas foi no segundo que ele brilhou, ao marcar um penal, com a ajuda dos árbitros de vídeo, em que uma bola velocíssima esbarra em Matuidi antes de bater na mão de Perisic. Que pênalti, que nada.

Griezmann foi lá – ele de novo – e marcou. Entre esses dois gols estranhos, uma pedrada do mesmo Perisic, que jogou a Copa no modo “sou croata e não desisto nunca”, de dentro da área, conservava as chances de uma final equilibrada até o fim. O que, de fato, não aconteceu nem quando Mandzukic recebeu o presente de Lloris, aos 23 da segunda etapa. Estava certo o narrador quando decretou o final da Copa antes dos 15 do segundo tempo.

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Uma França matreira como essa jamais passaria por sufoco com o placar nas mãos. Tampouco partiria para cima atrás de um placar massacrante contra uma esforçada Croácia sem pernas pra lutar. E a partir dali o jogo, que já era divertido até para o torcedor bissexto, foi uma alegria só, diferentemente das últimas três finais de Copa, com empates modorrentos que desembocaram em prorrogação e até em penais.

Foi brava essa Croácia operária, mas, pense bem, quem eles pegaram pela frente, fora a Argentina, na fase de grupos, onde se classificariam mesmo com derrota? Só carne assada: Dinamarca, Rússia e uma sim, tradicional Inglaterra, mas renovada demais para dar certo. E só passou no limite. Ou, por outra, mais do que no limite, em prorrogações e disputas de pênaltis heroicos e com sorte, muita sorte.

E o caminho da França? Tão fácil na fase de grupos que na última partida participou de um vexaminoso zero a zero combinado com a Dinamarca, uma mancha até no título. Ou, por outra, mancha só na classificação, porque depois deixou pra trás Argentina, Uruguai, campeões mundiais, e uma Bélgica entre as melhores seleções da Copa, que havia eliminado o Brasil.

Não que seja a França a grande força do futebol no momento. Que, de agora em diante os franceses vão dominar o mundo, vencer tudo com esses jogadores, que são, em sua maioria novos, e que não tem mais pra ninguém no futebol mundial. Se no mundo tudo passa, no futebol mais ainda, e nem é preciso esperar quatro anos. O que não muda, meus amigos, é que, em Copa do Mundo, só ganha quem já ganhou.

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Até a próxima que Copa agora só daqui a quatro anos!

Resultado de 15-7-2018:
França 4 x 2 Croácia

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