Bola é Bola Mesmo

O novo e o velho

Renovados com toque de bola, ingleses decidem no jogo aéreo justamente contra os suecos; Rússia enfim é eliminada. Fotos: Divulgação FIFA.

inglaterra7-7-18Até o menos familiarizado com o futebol contemporâneo sabe que o jogo dos ingleses é outro. Com a liga mais valorizada e rica, os melhores jogadores do mundo e técnicos mais vencedores circulam por lá. O resultado disso é que foi-se o tempo daquele futebol de bolas altas cruzadas na área, e tem-se o jogo técnico, com o toque de bola, por assim dizer, quase sul americano.

Como explicar, então, que diante dos suecos, em uma das quartas de final dessa Copa da Rússia, os dois gols que garantiram a vitória da Inglaterra tenham sido justamente de bolas alçadas na área? No primeiro, o zagueiro Maguire, notório cintura dura, acerta uma cabeçada após cobrança de corner. No segundo, Lingard acha o atacante Dele Alli no meio da povoada área sueca e ele completa para o barbante, também de cabeça.

Não que fosse esse o tipo de jogada aplicada pelos ingleses. Durante todo o jogo o time tem, sim, um ótimo toque de bola, joga de pé em pé e, tal como fazem os clubes lá na Premier League, não sentam em cima do resultado, tem futebol ofensivo e com ambição de gol. Mesmo depois do segundo tento, que saiu cedo, aos 12 do segundo tempo, e que praticamente fechou o caixão da Suécia, eles seguiram atacando.

Disse que o caixão foi fechado, mas nem foi bem assim. Porque os suecos, mesmo com sérias dificuldades de relacionamento com a bola, pareciam os uruguaios: não desistiam. E assim, logo após o gol de Alli, surge uma bela jogada sueca com rara troca de passes até deixar Claesson na cara do gol. O chute, da marca do pênalti, foi interceptado por Pikford, que fechou o gol não só nesse lance, mas garantiu a ambição dos jogadores de linha pelo gol em toda a partida.

Pickford, 24, é uma novidade até para os ingleses, e foi chamado quase que de última hora para ocupar o lugar de nomes mais experientes e consagrados, que, mesmo assim, traíam a confiança dos torcedores em desastrosas atuações. E, numa breve conferida, vê-se que, na Inglaterra, quase todo time de maior expressão tem um goleiro de fora, e fica difícil desenvolver um nativo.

inglaterra7-7-18-2

Ele se junta a essa geração se novos jogadores ingleses, muitas vezes trabalhada mais nas categorias de base do que nos clubes propriamente ditos. É a melhor turma desde a saída de cena dos clássicos meio-campistas Beckham, Lampard e Gerrard. E não é só Harry Kane, o artilheiro da Copa, que ontem não marcou e é muito mais que um centroavante fixo de área. Joga muito bem o rapaz, e depois da Copa deve ser vendido pelo Tottenham, que o revelou.

Tem o meia Henderson, lapidado no Liverpool por Jürgen Klopp, a revelação Rashford, ótima opção para o ataque, sempre no banco, Dier, o por vezes enrolado Sterling, e por aí vai. Todos jogam com bola nos pés, mesmo que, justamente contra a Suécia, a partida tenha sido decidida com bolas alçadas na área. Assim é o futebol.

E a Suécia, de certo modo, tomou do próprio veneno. Formada por grandalhões de cintura dura, pernas de pau, cabeças de bagre e afins, tem o hábito essa equipe de fazer um gol e segurar tudo lá atrás. Vinha dando certo, Holanda, Itália e Alemanha que o digam. Ontem, o inesperado. Tomou um gol justamente pelo alto e precisou reagir.

Tentou muito e até fez algumas jogadas inesperadas para jogadores de limitada habilidade técnica. E quase sempre parou no goleiro Pickford, escolhido, inclusive como o craque do jogo. Sofreu também com a maior qualidade dos ingleses, a ambição para o gol, que fazia os suecos atacarem com um olho na frigideira e outro no gato. Não dava para ir mais longe, esses bravos suecos. E deixaremos de ouvir um dos hinos mais bonitos dessa Copa. Assim são as boas músicas.

Como a Rússia que, a despeito de ser a dona da casa, foi muito mais longe do que imaginava eliminando até a ex-poderosa Espanha. Talvez pelo mau humor do técnico Cherchezov, é bem menos simpática a seleção anfitriã do que a da Suécia, a não ser pelo meia Cheryshev, que, ontem, contra a Croácia, meteu mais um belo gol.

croacia7-7-18

E assim a Rússia parecia que poderia se garantir, mas gol aos 30 minutos da primeira etapa é cedo demais para quem quer que o jogo termine em barranco para morrer encostado. Tanto que o empate veio cedo também, com Kramaric, ainda no primeiro tempo, e no resto do jogo russos e croatas seguiram trocando botinadas para tudo o que é lado, com atuações decepcionantes de nomes como Modric e Mandzukic, e a conhecida Rússia de poucas ideias dessa Copa.

E é aí que, do ponto de vista do público, a prorrogação se torna um fardo, quase uma punição: mais 30 minutos desse jogo ruim pra vocês. Tempo extra que, no entanto, teve lá suas emoções. Primeiro, com o desempate por parte dos croatas, numa cabeçada do figuraça Vida. E, depois, com um drama e um improvável – outro - herói por alguns minutos.

Drama do goleiro Subasic, sentindo a perna bem perto de uma decisão que poderia ir para os pênaltis, como acabou acontecendo com o gol de empate do russo brasileiro Mario Fernandes, de cabeça, aos nove do segundo tempo da tal prorrogação. Eis aí o nosso quase herói, que, com esse gol, garantiu o que desejam os russos: os penais.

Só que – assim é o futebol – ele próprio perdeu uma das cobranças, mandando muito mal, para fora, e Smolov, batendo bisonhamente, num desejo frustrado de uma cavadinha, desperdiçou outra. Na meta croata estava lá Subasic, com ou sem contusão, para pegar a bola do segundo com facilidade, e ver a do primeiro indo mal, longe, pela linha de fundo.

Entre os croatas, Kovacic ainda perdeu uma cobrança, para dar mais emoção, Modric cobrou mal pacas e teve que ver a bola cruzar a linha do gol, na expectativa de ela entrar ou não, e o sóbrio Rakitic decidiu no final, como nas oitavas, contra a Dinamarca.

russia7-7-18

E assim a Croácia, que deitou e rolou contra a Argentina, na fase de grupos, chega as semis depois de passar por duas prorrogações seguidas, para encarar a Inglaterra, que, por sua vez, também passou por outra, ao desclassificar os colombianos.

Semifinais que não tem ninguém que nunca tenha chegado nela, mas, vamos e venhamos, seleções que não dão muito as caras nessa fase mais avançada de uma Copa. Pela tradição, os ingleses têm que vencer, mas também é tradição deles fracassar de antemão, o que, até agora, honra seja feita, não aconteceu. Que jogue mais a Croácia para que o futebol triunfe ante à prorrogação e aos pênaltis.

Até a próxima que os inventores do futebol despertaram de vez!

Resultados de 7-7-2018:
Suécia 0 x 2 Inglaterra
Rússia 2 (3) x 2 (4) Croácia

Top 64 jogos da Copa 2018:
1- França 4 x 3 Argentina
2- Brasil 1 x 2 Bélgica
3- Portugal 3 x 3 Espanha
4- Alemanha 2 x 1 Suécia
5- Nigéria 1 x 2 Argentina
6- Argentina 0 x 3 Croácia
7- Uruguai 2 x 1 Portugal
8- Bélgica 3 x 2 Japão
9- Brasil 2 x 0 México
10- Bélgica 5 x 2 Tunísia
11- Inglaterra 6 x 1 Panamá
12- Argentina 1 x 1 Islândia
13- Alemanha 0 x 1 México
14- Uruguai 0 x 2 França
15- Irã 1 x 1 Portugal
16- Suécia 0 x 2 Inglaterra
17- Polônia 0 x 3 Colômbia
18- Bélgica 3 x 0 Panamá
19- Colômbia 1 x 2 Japão
20- Sérvia 0 x 2 Brasil
21- Brasil 2 x 0 Costa Rica
22- Coréia do Sul 2 x 0 Alemanha
23- Japão 2 x 2 Senegal
24- Espanha 2 x 2 Marrocos
25- França 1 x 0 Peru
26- México 0 x 3 Suécia
27- Uruguai 3 x 0 Rússia
28- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
29- Islândia 1 x 2 Croácia
30- Brasil 1 x 1 Suíça
31- França 2 x 1 Austrália
32- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
33- Rússia 3 x 1 Egito
34- Inglaterra 0 x 1 Bélgica
35- Austrália 0 x 2 Peru
36- Colômbia 1 (3) x 1 (4) Inglaterra
37- Coréia do Sul 1 x 2 México
38- Suíça 2 x 2 Costa Rica
39- Nigéria 2 x 0 Islândia
40- Portugal 1 x 0 Marrocos
41- Rússia 2 (3) x 2 (4) Croácia
42- Dinamarca 1 x 1 Austrália
43- Sérvia 1 x 2 Suíça
44- Suécia 1 x 0 Suíça
45- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
46- Senegal 0 x 1 Colômbia
47- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
48- Polônia 1 x 2 Senegal
49- Croácia 1 (3) x 1 (2) Dinamarca
50- Egito 0 x 1 Uruguai
51- Panamá 1 x 2 Tunísia
52- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
53- Peru 0 x 1 Dinamarca
54- Irã 0 x 1 Espanha
55- Espanha 1 (3) x 1 (4) Rússia
56- Japão 0 x 1 Polônia
57- Croácia 2 x 0 Nigéria
58- Arábia Saudita 2 x 1 Egito
59- Marrocos 0 x 1 Irã
60- Dinamarca 0 x 0 França

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado