Bola é Bola Mesmo

Lição

Em jogo parelho, técnico de primeiro mundo arma arapuca e craques belgas decidem diante dos apenas esforçados brasileiros. Fotos: Divulgação FIFA.

belgica6-7-18Renato Augusto. Aos 26 do segundo tempo, ele é chamado para entrar no lugar do discreto Paulinho, pela segunda copa seguida, e tirar uma diferença de dois gols conta a Bélgica. Aos 30, ele, improvavelmente de cabeça vence o impenetrável goleiro Courtois e coloca no barbante. Aos 34, em um raro contra-ataque que pega a defesa belga bagunçada, tem o gol à sua frente, é só escolher o canto. Ele escolhe, mas o tiro, colocado, vai para fora. Ele rola no chão e não acredita que perdeu o gol que daria ao Brasil, pelo menos, 30 minutos a mais para tentar a classificação. Renato Augusto.

Um jogador que sequer deveria estar, a essa altura do campeonato, com 30 anos e jogando na China, estreando pelo Brasil em uma Copa do Mundo. Que nunca foi essa Coca-Cola toda nem nos seus bons tempos, mas, porque teve uma temporada boa em um Campeonato Brasileiro, teve chances na seleção que ganhou o ouro no Brasil, em 2016. E também, por ter inteligência acima da média em relação aos outros jogadores, com mais qualidade técnica que ele, se garantiu entre os 23.

Renato Augusto entrou para tentar fazer aquilo que os outros não conseguiam de jeito nenhum. Aqueles que jogam mais bola do que ele. Sabemos todos que é o craque que decide, mas Neymar, o maior deles em campo, tentou o tempo todo e não consegui. Coutinho também fez o que pode: é dele o passe para o gol e para o não gol de Renato Augusto, mas foi pouco. Outros também tentaram, mas só ele quase conseguiu. No segundo tempo, foi o ataque o Brasil contra a defesa belga, com o goleiro Alisson, como de hábito, privilegiado espectador.

Mas por que teve que se assim? Porque, no primeiro tempo, os belgas deixaram o gramado com dois a zero a seu favor. E jogou tão mal o Brasil assim, para, pela primeira vez na Era Tite sofrer dois gols, e os dois na primeira etapa? Não, a seleção canarinho teve até chances de abrir o placar e, depois, de marcar em mais de uma ocasião. Mas por que, então, dois gols contra? Por que o técnico deles, cascudo, aprontou contra Tite, que só no intervalo conseguiu arrumar as coisas. Tarde demais, pareceu.

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Roberto Martinez não é da primeira linha dos técnicos que trabalham na Europa – se fosse não assumira a Bélgica, porque nos clubes paga-se mais -, mas tem o know-how do futebol europeu que desclassifica o sul americano há quatro Copas. Ele arma suas equipes jogo a jogo, usando as peças que tem, após estudar o jogo do adversário; Tite insiste no entrosamento proporcionado pela repetição de escalações.

Para enfrentar o Brasil, mandou a campo inédita escalação. Colocou uma linha de quaro zagueiros, pôs Fellaini para estragar o forte lado esquerdo brasileiro, empurrou Lukaku, o centroavante subavaliado pela imprensa brasileira, de ponta direita e abriu um corredor para De Bruyne desfilar na frente da zaga brasileira, desfalcada da proteção de Casemiro em com um Fernandinho - de novo - em seus piores dias.

Tite percebeu isso, mas só ajustou a marcação no segundo tempo, colando Miranda em Lukaku, no que o zagueiro foi muito bem, enquanto Marcelo já tinha virado meia/ponta esquerda, e fixando Fagner com marcação exclusiva no habilidoso Hazard. Funcionou, mesmo porque De Bruyne teve que se retrair. Fora o medo te tomar o contra-ataque fatal que mataria o jogo, a partida ficou igual ao massacre contra a Costa Rica, com a ressalva também de os jogadores belgas serem todos craques; não há pereba nesse time.

Tite sabe que para competir em nível internacional no primeiro mundo do futebol precisa se aperfeiçoar, e fez isso desde que assumiu a seleção, inclusive montando uma comissão técnica permanente e – segundo consta – pela primeira vez remunerada pela CBF. Mas não deu tempo. E precisa, também, substituir boa parte dos conceitos de grupo, pelo de competição, e isso ele está aprendendo, ainda que tenha levado um banho de Martinez, que não é dos grandes – repita-se -, nessa despedida da Rússia 2018.

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Pode se dizer eu o gol que abriu o placar foi um golpe de sorte, como seria, se tivesse entrado a bola que desviou em Thiago Silva (um monstro pela segunda Copa seguida) minutos antes, após o escanteio. Mas não foi a sorte que fez o zagueiro Kompany correr para a frente da zaga para tocar na bola, assim como ele também não planejou o desvio para que ela batesse exatamente nas costas de Fernadinho e fosse para as redes. Assim é o futebol.

Já o segundo gol, em uma cobrança de escanteio a favor, não pode acontecer nem na várzea. Para-se a jogada com uma faltinha logo no início e pronto. Não feito isso, Lukaku deixou De Bruyne em condições de fazer o que faz todo sábado de manhã na minha TV jogando pelo Manchester City. Desferiu aquele petardo certeiro, diante de um Marcelo hesitante que se vira de lado para a jogada. O resto, resuma-se, é ataque desordenado do Brasil e defesas do gigante Courtois.

Poderia ter virado o Brasil, em aguerrida vitória, qualquer uma das equipes poderia ter vencido. Mas ressalva-se que a Bélgica só venceu porque tem bons jogadores, senão de nada adiantaria a astúcia de seu treinador, e que os belgas marcaram e marcaram muito, sem violência ou perseguição ao craque, porque eles também os têm. E os craques deles – De Bruyne, Hazard, Lukaku e, por que não, Fellaini e Courtois – decidiram. O nosso, o maior deles, não conseguiu, e não conseguiram os outros. Lutaram até o fim, mas, positivamente, não conseguiram.

Luta que parece ter faltado justamente aos uruguaios, diante da organizada França. Tanto que, antes mesmo do apito final, o ótimo zagueiro Giménez já fazia feição de choro ao se posicionar em uma barreira. Ok que a partida já estava mesmo decidida àquela altura, mas não é assim que estamos acostumados a ver os uruguaios em campo. São o tipo que lutam até o fim.

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Difícil lutar, contudo, quando o próprio goleiro sacramenta a vitória adversária, já a 15 minutos do segundo tempo, em um frangaço de almanaque. Ora, Muslera é um goleiro de segunda linha, fraco, longe das tradições dos goleiros uruguaios, há três copas. Uma hora, sabíamos todos, ele ia entregar. E foi justamente nessas quartas de final da Copa da Rússia.

Difícil lutar, também, quando um dos melhores jogadores do time, Cavani, está no banco de reservas com a perna estourada, deixando seu parceiro Suárez isolado em um ataque bissexto. No mais perigoso deles, no finalzinho do primeiro tempo, quando o jogo ainda estava só um a zero para os franceses, diferentemente de Muslera, Lloris foi buscar no cantinho uma cabeçada de Cáceres. O lance que poderia ter renovado as forças dos uruguaios, mas nada mudou.

Mas – alto lá! – quem venceu foi a França e é de vencedores que se fala no futebol. E nem precisou a França de uma partida sensacional da revelação Mbappé, ou de lances geniais de Pogba. Tanto que o primeiro gol sai em uma cabeçada de Varane, vencendo justamente uma das melhores zagas da Copa, e o segundo em um chute de longe de Griezmann, o tal do frangaço de Muslera.

Bastou, para os franceses, deixar a preguiça de lado e jogar um pouco – só um pouquinho - de bola. E tentar, minimamente, golpear os uruguaios, o que nem aconteceu assim o tempo todo, e por isso mesmo o brilho de Mbappé apareceu mesmo nas canelas de Kanté, ótimo recuperador de bolas, e de Pogba e suas passadas largas e calmas. Demais até.

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Agora, a França, que coleciona eliminações de dois sul americanos - além do Uruguai, a Argentina - encara a Bélgica, com o vigor renovado por ter desclassificado o Brasil. Um jogo, contudo, que parece ser de estudos, já que europeu respeita – não teme, como no caso dos sul americanos – europeus. Um jogo com muitos craques de lado a lado. E – sabemos todos – quem decide é o craque. Ou, por oura, se não decide, volta pra casa mais cedo.

Até a próxima que vai dar Europa outra vez!

Resultados de 6-7-2018:
Uruguai 0 x 2 França
Brasil 1 x 2 Bélgica

Top 64 jogos da Copa 2018:
1- França 4 x 3 Argentina
2- Brasil 1 x 2 Bélgica
3- Portugal 3 x 3 Espanha
4- Alemanha 2 x 1 Suécia
5- Nigéria 1 x 2 Argentina
6- Argentina 0 x 3 Croácia
7- Uruguai 2 x 1 Portugal
8- Bélgica 3 x 2 Japão
9- Brasil 2 x 0 México
10- Bélgica 5 x 2 Tunísia
11- Inglaterra 6 x 1 Panamá
12- Argentina 1 x 1 Islândia
13- Alemanha 0 x 1 México
14- Uruguai 0 x 2 França
15- Irã 1 x 1 Portugal
16- Polônia 0 x 3 Colômbia
17- Bélgica 3 x 0 Panamá
18- Colômbia 1 x 2 Japão
19- Sérvia 0 x 2 Brasil
20- Brasil 2 x 0 Costa Rica
21- Coréia do Sul 2 x 0 Alemanha
22- Japão 2 x 2 Senegal
23- Espanha 2 x 2 Marrocos
24- França 1 x 0 Peru
25- México 0 x 3 Suécia
26- Uruguai 3 x 0 Rússia
27- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
28- Islândia 1 x 2 Croácia
29- Brasil 1 x 1 Suíça
30- França 2 x 1 Austrália
31- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
32- Rússia 3 x 1 Egito
33- Inglaterra 0 x 1 Bélgica
34- Austrália 0 x 2 Peru
35- Colômbia 1 (3) x 1 (4) Inglaterra
36- Coréia do Sul 1 x 2 México
37- Suíça 2 x 2 Costa Rica
38- Nigéria 2 x 0 Islândia
39- Portugal 1 x 0 Marrocos
40- Dinamarca 1 x 1 Austrália
41- Sérvia 1 x 2 Suíça
42- Suécia 1 x 0 Suíça
43- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
44- Senegal 0 x 1 Colômbia
45- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
46- Polônia 1 x 2 Senegal
47- Croácia 1 (3) x 1 (2) Dinamarca
48- Egito 0 x 1 Uruguai
49- Panamá 1 x 2 Tunísia
50- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
51- Peru 0 x 1 Dinamarca
52- Irã 0 x 1 Espanha
53- Espanha 1 (3) x 1 (4) Rússia
54- Japão 0 x 1 Polônia
55- Croácia 2 x 0 Nigéria
56- Arábia Saudita 2 x 1 Egito
57- Marrocos 0 x 1 Irã
58- Dinamarca 0 x 0 França

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