Bola é Bola Mesmo

Faro de gol

Dia de placares magros com brilho de artilheiros tem Cristiano Ronaldo e mais 10, ferrolho iraniano e Uruguai masoquista. Fotos: Divulgação FIFA.

portugal20-6-18São apenas quatro minutos da primeira etapa e o sujeito aparece dentro da área para soltar uma cabeçada à queima roupa sem defesa para o arqueiro adversário. Olhando o videoteipe, que é burro, vê-se, contudo, que ele se desvencilha do pobre marcador com uma finta de corpo sensacional, e que chega para dar sentido à jogada limpo no lance, fazendo quase um peixinho. Pronto. Um a zero, resultado final e jogo resolvido – e mais uma vez – por Cristiano Ronaldo.

É assim que começa mais um dia comum na Copa do Mundo da Rússia, bem cedinho, com um golaço desses. Depois… bem, depois Marrocos domina o jogo, sufoca Portugal medianamente o tempo todo, mas não consegue marcar e sai de campo eliminado da competição. Conta o Irã, a mesma coisa, com o requinte de crueldade de ter feito ele mesmo o gol contra, já nos acréscimos do segundo tempo. Ao todo, nos dois jogos, foram 29 finalizações sem anotar um gol sequer. Assim é o futebol.

E Portugal? O que fez Portugal? Quase nada, a não ser uma defesa sensacional de Rui Patrício em uma cabeçada, e outras duas mais tranquilas. A não ser duas faltas mal cobradas por Cristiano Ronaldo, que também finalizou outra vez pra fora, e deixou Gonçalo Guedes na cara do gol para perdê-lo. Mais nada. É sempre exagero falar que um jogador ganha um jogo sozinho, mas, dessa vez, não tem outra: Portugal é Cristiano Ronaldo + 10 e pronto.

Tanto que o treinador Fernando Santos, de sorriso raro, estava de saco cheio com o time, que nada fez a não ser se defender diante de uma equipe que nem é superior à sua, como a Espanha foi na rodada inaugural. Onde estão Bernardo Silva, João Mário e Cédric Soares, que badalam em equipes europeias, para ajudar o Menino D’ouro? Se Portugal não acordar, sai da Copa mesmo com Ronaldo arrebentado, e nos privará a todos de vê-lo em ação por mais tempo.

Por ora, o resumo da ópera é o seguinte. Quatro gols em dois jogos, um de pênalti, sofrido por ele; um em um chute de fora da área; um em cobrança de falta, sofrida por ele; e outro de cabeça, na pequena área. Não é querer dourar a pílula, não, mas o repertório de jogadas e a forma com que se encontra o melhor do mundo, aos 32 anos, é fora do comum.

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Agora, quero ver vencer o Irã, treinado pelo também português Carlos Queiroz, justamente para não tomar gols. Ontem, a Espanha e sua geração de armandinhos tocou para o lado, tocou para o lado e passou o primeiro tempo inteiro sem achar o caminho do gol. Seria assim o jogo todo se, em um bate e rebate digno de peladas de várzea, a bola ricocheteasse na canela de Diego Costa rumo às redes adversárias. Tanta técnica, tanto estilo e o gol é de um centroavante sujo. Em um bate e rebate. De canela. Assim é o futebol.

E teve ainda um gol do Irã, em uma jogada embolada em que o bandeirinha marcou corretamente o impedimento do atacante iraniano, e teve o lance confirmado pelo VAR. Se valesse esse tento, o sufoco seria ainda maior, porque, mesmo com o Irã saindo mais em busca do empate, a Espanha não deslanchou na partida, talvez até por um desgaste/cansaço emocional. Ou porque sabe que, mesmo com dois zagueiraços, sofre com a defesa desprotegida.

Não é o caso aqui de fazer a apologia do futebol iraniano, o que seria ridículo, mas os caras, com Queiroz, arrumaram um jeito de simplesmente trancar a porta e não levar gols de modo algum. É a versão contemporânea do ferrolho suíço que nem a Suíça aplica mais. Por isso Portugal e sua ineficiência apática tem que se ligar. Um empate basta, mas se perder para Carlos Queiroz, espécie de inimigo íntimo, que treinou a seleção em 2010, babau.

A Espanha, não. Diante de um Marrocos eliminado, vai tocar aquela bolinha de um lado para o outro até achar o caminho do gol, com muito mais facilidade do que fez até agora. E se Diego Costa não é Cristiano Ronaldo, já mandou três bolas pras redes em dois jogos. Nada mal para o brasileiro vira-casacas.

E o Uruguai foi… Uruguai. Iludem-se aquele que pensam que o time de azul e preto é de aplicar goleadas, mesmo contra a fraca Arábia Saudita e ainda que pensando em igualar o saldo de gols com a Rússia, de modo a beliscar um primeiro lugar no grupo e ter uma vida mais fácil, em tese, das oitavas de final em diante. Porque os uruguaios simplesmente não gostam de jogar assim.

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O negócio deles é, por incrível que pareça, ganhar na base do sofrimento, do sufoco, da bola dividida, ao invés de limpa, na raça. Na gana uruguaia. Se não fosse assim, o cascudo treinador não teria sacado os jogadores de armação como Arrascaeta, para colocar meias pesados, de força, como Cebola e Sánchez. Não poderia correr o risco de ter um pouco de domínio técnico.

E como sairia o gol? Em uma jogada suja, cheia de trombadas, em que pese a presença de dois dos maiores atacantes do planeta, Suaréz e Cavani, ou em uma falha do adversário. Foi Batata. Falhou o frágil goleiro Al-Owais, que já entrara no lugar do também fraco Al-Muaiouf, que falhara muito na partida anterior, e Suaréz empurra para o filó. Um a zero e tá bom demais. Assim são os uruguaios.

E assim uruguaios e russos vão trocar botinadas na última peleja do grupo, valendo a primeira colocação. Arábia Saudita e Egito, eliminados, fazem um amistoso no mesmo horário. A Rússia joga pelo empate por causa do saldo de gols, mas aquele um a zerinho matreiro dos uruguaios lhes dão a vantagem de pegar o segundo do grupo B. Portugal ou Espanha. Se correr o bicho pegar; se ficar o bicho come.

Até a próxima que hoje é dia de sufoco argentino!

Resultados de 20-6-2018:
Portugal 1 x 0 Marrocos
Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
Irã 0 x 1 Espanha

Top 64 jogos da Copa 2018:
1-Portugal 3 x 3 Espanha
2- Argentina 1 x 1 Islândia
3- Alemanha 0 x 1 México
4- Bélgica 3 x 0 Panamá
5- Colômbia 1 x 2 Japão
6- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
7- Brasil 1 x 1 Suíça
8- França 2 x 1 Austrália
9- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
10- Rússia 3 x 1 Egito
11- Portugal 1 x 0 Marrocos
12- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
13- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
14- Polônia 1 x 2 Senegal
15- Egito 0 x 1 Uruguai
16- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
17- Peru 0 x 1 Dinamarca
18- Irã 0 x 1 Espanha
19- Croácia 2 x 0 Nigéria
20- Marrocos 0 x 1 Irã

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