O Homem Baile

Na veia

Pretenders volta ao Rio e, entre rocks e baladas, se vira como pode na abertura para o show de Phil Collins. Fotos: Daniel Croce.

A eterna vocalista do Pretenders, Chrissie Hynde, canta e toca guitarra no show do Maracanã

A eterna vocalista do Pretenders, Chrissie Hynde, canta e toca guitarra no show do Maracanã

“É por causa do rock’n’roll que estamos nessa. É, tem umas baladas, mas estamos aqui pelo rock”, crava a vocalista do Pretenders, Chrissie Hynde, com a certeza dos sábios. De certo modo, se desculpa por ter acabado de tocar não apenas uma música lenta, mas “Hymn To Her”, um hino já no título, praticamente à capela, que as mulheres espertas desses tempos precisam entender. A deixa é para a entrada do riff de “Alone”, a faixa-título do álbum mais recente da banda, que saiu há pouco mais de um ano. Rock de raiz dos bons, ao vivo recebe tratamento especial do ótimo guitarrista James Walbourne, em dueto com o tecladista Carwyn Ellis. Eis o cenário do meio do show do grupo, como abertura para o Phil Collins (veja como foi) nesta quinta (22/2), no Maracanã, no Rio.

É difícil acreditar que foi preciso esperar 30 anos para o Pretenders voltar ao Rio, e, ainda por cima, como banda de abertura, a essa altura do campeonato. Hynde não entra nesse muro de lamentações, e, desde o início da noite faz o que sabe fazer: botar pra quebrar em cima de um palco, com uma guitarra dependurada no pescoço, ou andando de lado a outro com a fúria/agressividade intrínseca ao rock que lhe é peculiar, mesmo com umas décadas a mais. No fundo, chama a atenção um senhor de cabelos e costeletaços brancos, com uma camisa da seleção de Pelé e mão mais pesada que nunca. É o inigualável Martin Chambers, que forma a dupla remanescente da formação original da banda com Chrissie Hynde.

Martin Chambers, o baterista remanescente da formação original do Pretenders, em ótima forma

Martin Chambers, o baterista remanescente da formação original do Pretenders, em ótima forma

Chambers demonstra folego excepcional e a costumeira precisão, algo não muito comum para uma banda realçada na new wave oitentista. Por isso é inesquecível a introdução de “Middle Of The Road”, música emblemática de uma geração inteira, e que é uma das que tem grande adesão do público que ainda se aglomera no estádio. O ápice de uma peça contagiante por vocação se dá quando Hyde saca uma gaita do bolso, na meiuca, em um dos grandes momentos do show. Outro, é na balada, essa sim de almanaque, “I’ll Stand By You”, que a banda manda sem desculpas, mas com o crescente instrumental indispensável para dramas musicais desse naipe, já de meados dos anos 1990. Impressionante como o público conhece e participa, como num ensaio para a show principal.

Diferentemente de sua vizinha de álbum (“Last Of The Independents”), “Night In My Veins”, que por pouco não passa batida. A música, uma composição e tanto, perde muito de sua força ao ser tocada ao vivo, em um palcão de festival, apesar do esforço esmerilhante de Walbourne. Tem ainda músicas suaves, pero no mucho, outra característica de Hyde e dos Pretenders, bem conhecidas de todos que abrilhantam a noite, caso de “Don’t Get Me Wrong”, engatilhada no final, com guitarra falante e tudo, e “Back On The Chain Gang”, que, se perde o delicioso arranjo vocal do refrão (aquele “uh!-ah!”), tem aceitação/reconhecimento imediato. Durante a cerca de uma hora que dura o show, a voz da falante Chrissie Hyde segue intacta, numa doçura/aspereza incomum no rock desses tempos estranhos.

O bom guitarrista James Walbourne, um dos destaques da atual formação, esmerilhando a guitarra

O bom guitarrista James Walbourne, um dos destaques da atual formação, esmerilhando a guitarra

A ancestral “Brass In Pocket” nem tem cara de música de bis em um show, mas é ela que entra quando Hyde verifica se ainda há tempo para mais uma, depois do arraso de “Middle Of The Road”. Antes, a ótima versão para “Forever Young”, de Bob Dylan (“porque eu gosto e sei que todos vocês gostam dele”, justifica ela), também gravada no “Last Of The Independents”, contribui para encorpar mais o repertório, que no fim das contas mostra pouco do disco novo. Faltou “I Got You, Babe”, gravada por Chrissie Hyde e UB40, mas trata-se de um bom show, que funciona ao não impacientar os fãs de Phil Collins. Deixa, contudo, a mesma sensação de 30 anos atrás, quando a banda tocou no Hollywood Rock. A de que eles precisam voltar para um show inteiro, lançando disco, com repertório completo, em um lugar menor, fechado. Quem sabe?

Set list completo:

O charme e a elegância rock'n'roll de Chrissie Hynde

O charme e a elegância rock'n'roll de Chrissie Hynde

1- Don’t Cut Your Hair
2- Talk Of The Town
3- Back On The Chain Gang
4- A confirmar
5- Boots Of Chinese Plastic
6- Message Of Love
7- Hymn To Her
8- Alone
9- Stop Your Sobbing
10- I’ll Stand By You
11- Forever Young
12- Don’t Get Me Wrong
13- Night In My Veins
14- Middle Of The Road
15- Brass In Pocket

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