O Homem Baile

Meio a meio

Em boa forma, Midnight Oil volta ao Rio 20 anos depois para celebrar grandes sucessos e salientar pérolas escondidas de seu cancioneiro. Fotos: Daniel Croce.

O performático vocalista do Midnight Oil, Peter Garret: boa forma, intensidade e superação do cansaço

O performático vocalista do Midnight Oil, Peter Garret: boa forma, intensidade e superação do cansaço

Um varapau de quase dois metros de altura que se move de lado a outro do palco em uma frenética dança que lhe é peculiar, espécie de break dance enrockzada movida pelo ritmo de cada música. Um senhor sexagenário com um vozeirão daqueles que é pura empolgação, se estatela de propósito no chão e tem um monte de história para contar em letras tão militantes e músicas tão colantes que fazem surfista pensar em assuntos mais importantes para a humanidade do que o simples quebrar de uma onda. Que respira fundo e engole o cansaço, mas não deixa de mandar, em sequência, a tríade mais que perfeita com “The Dead Heart”, “Beds Are Burning” e “Blue Sky Mine”, de uma vez só. É o Midnight Oil, reunido e de volta ao Rio exatos 20 anos depois (fotos de 1997 aqui, aqui e aqui).

“Obrigado a quem esteve no último show e nos perdoem por demorarmos tanto para voltar”, relembra Peter Garret, o tal gigante, no final do primeiro bis, com o fôlego razoavelmente recuperado. Não é nada, não é nada, são mais de duas horas de show com 24 músicas do vasto cancioneiro do grupo australiano, que incluem hits da chamada “Diesel And Dust era”, numa referência ao disco lançado em 1987, e pérolas pinçadas de uma carreira não tão explorada/conhecida em países periféricos como o Brasil. Caso de, por exemplo, “Hercules”, resgatada de um EP de 1985, reconhecida só por fãs mais dedicados, mas que conquista o público justamente pela performance pirante de Garret. Ou de “Power And The Passion”, sucesso precoce no exterior, reforçada por um mini solo de Rob Hirst.

Garrett ao lado do guitarrista Jim Moginie, que se reveza nos teclados e é peça fundamental no grupo

Garrett ao lado do guitarrista Jim Moginie, que se reveza nos teclados e é peça fundamental no grupo

O baterista é a verdadeira usina motora que impulsiona o Midnight Oil, com uma pegada bem pessoal, desenvolvida a partir de um kit de bateria tribal, quase todo horizontal e com sutis incrementos eletrônicos moderníssimos para a década de 1980, quando a banda explodiu mundo afora. Mesmo no momento semiacústico, com um modelo reduzido na frente do palco, Hirst senta o braço e – ainda tem mais essa – canta o tempo todo, não fazendo backing vocals com os demais integrantes, mas estabelecendo um belo contraponto à voz de Peter Garrett. Nesse formato, “My Country” realça uma das mais belas linhas de teclado criadas em todos os tempos, tocada por Jim Moginie, que se reveza coma a guitarra e completa o trio fotossintético do Midnight Oil. Na formação, a clássica, estão ainda o guitarrista Martin Rotsey e o baixista Bones Hillman.

O repertório, jamais repetido neste que é o quarto show dessa turnê de retorno, alterna momentos mais intimistas, suaves, com outros mais agitados. No primeiro bloco, se salientam músicas como “River Runs Red”, com a iluminação vermelha que a denuncia e um belíssimo trabalho de guitarra/teclados de Moginie; a também desconhecida “Warakurna” que conquista pelo bom refrão; e “Shakers and Movers”, carregadora de um extraordinário crescente instrumental na segunda parte. Além da trinca de ouro “The Dead Heart”, “Beds Are Burning” e “Blue Sky Mine” – a primeira começa pelo público que canta o indefectível tchururu, a segunda é a mais vibrante das três e a terceira marca pela harmônica de Garret -, brilham “Truganini”, em um inesperado segundo bis, e “Dreamworld”, que se mostra maior do que o esperado.

Usina motora: o baterista Rob Hirst em seu kit tribal, cantando o tempo todo durante o show

Usina motora: o baterista Rob Hirst em seu kit tribal, cantando o tempo todo durante o show

A mistura de hits com músicas menos conhecidas é mais que saudável (didática até), e é difícil pensar em alguma coisa quando quase todo o álbum “Diesel And Dust” e metade de “Blue Sky Mining” (1990) e “Eath And Sun And Moon” (1993) são tocados, mas como explicar ausências vitais como as da novamente necessária “Put Down That Weapon”, “Sell My Soul” e “Sometimes”? Seria um show com mais tempo para os hits melhor que esse? Reflexões que seguramente não passam pela cabeça da plateia que lota o Vivo Rio numa alegria daquelas. E aí vale o registro de como uma banda como o Midnight Oil, ao menos na Cidade Maravilhosa, rompe barreiras de subgêneros musicais/preferenciais para açambarcar público em todos os segmentos. Daí o ótimo show ter sido muito mais que uma oportunidade de reviver uma grande época, mas um momento de celebração de grandes canções, ainda interpretadas com o vigor inerente ao rock pelos músicos.

Set list completo:

1- King of the Mountain
2- Bullroarer
3- Drums of Heaven
4- River Runs Red
5- Feeding Frenzy
6- Gunbarrel Highway
7- Shakers and Movers
8- Hercules
9- My Country
10- White Skin Black Heart
11- Ships of Freedom
12- Kosciusko
13- Now or Never Land
14- Arctic World
15- Warakurna
16- Dreamworld
17- Power and the Passion
18- The Dead Heart
19- Beds Are Burning
20- Blue Sky Mine
Bis
21- Drop in the Ocean
22- Best of Both Worlds
23- Forgotten Years
Bis
24- Truganini

Garret a frente de Jim Moginie, no teclado, do guitarrista Martin Rotsey e do baixista Bones Hillman

Garret a frente de Jim Moginie, no teclado, do guitarrista Martin Rotsey e do baixista Bones Hillman

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