O Homem Baile

Mais pesado de novo

Com Dave Lombardo, Suicidal Tendencies retorna às raízes do skate hardcore em show eletrizante no Rio. Fotos: Rodrigo Simas/ARTS Live Frames.

O vocalista e chefe geral do Suicidal Tendencies, Mike Muir, e sua coreografia característica

O vocalista e chefe geral do Suicidal Tendencies, Mike Muir, e sua coreografia característica

“Quem aqui já foi a um show do Suicidal?”, pergunta o vocalista Mike Muir ao público que se diverte no Imperator. “E quem aqui está em um show do Suicidal pela primeira vez?”, insiste, ele, para verificar espécie de empate técnico que inclui, de um lado, veteranos do punk hardcore carioca, e, de outro, muita gente nova, até os filhos daqueles, já devidamente encaminhados. Feito o censo, Muir convoca um ou outro ali na frente para subir e cantar com a banda lá em cima, o que resulta em duas músicas seguidas com o palco completamente lotado: simplesmente “Possessed to Skate” e “I Saw Your Mommy”, em uma versão quase “progressiva”, de tão alongada. Dá pra perceber como foi o showzaço do Suicidal Tendencies, nesta quinta (27/4), no Rio?

Aquela metade que já foi a vários shows de certo sabia que seria assim, com a tal reunião no palco que Muir chama de “família Suicidal”; convenhamos que não soa muito bem. Porque tem sido desse jeito nos últimos tempos, até no Circo Voador, em 2013, quando o ST quase roubou a cena ao fazer a abertura para o Soulfly (relembre). O que não se sabia era que, com grandes mudanças na formação, sendo a mais alarmante a entrada do baterista Dave Lombardo (integrante fundador do Slayer), o grupo voltaria a tocar o repertório com os arranjos mais parecidos com os das gravações originais. Registre-se que, ultimamente, e sobretudo após a regravação de clássicos no álbum “No Mercy Fool!/The Suicidal Family”, de 2010, as músicas vinham sendo apresentadas, nos shows, cheias de groove, como se eles misturassem, ao vivo, Suicidal e Infectious Grooves, braço funky da banda.

Mike Muir e o baixista virtuose Ra Diaz, que, chileno, arriscou um portunhol para falar com o público

Mike Muir e o baixista virtuose Ra Diaz, que, chileno, arriscou um portunhol para falar com o público

Não que Lombardo por si só tenha convertido o Suicidal em uma filial do Slayer. Ao contrário, se adapta com uma linguagem própria, mas a participação dele, com os ajustes na formação – só Muir e o guitarrista Dean Pleasants permanecem – resultam em um Suicidal Tendencies muito mais “das antigas” do que, no pior dos sentidos, “atualizado”. Daí a inclusão de “Trip At Brain”, com aquelas muralhas de guitarras thrash e Lombardo soltinho, ganhar destaque especial na noite. Foi a primeira, inclusive, em que o mosh, essa instituição do hardcore mundial, começou a ser aplicado. Ou “War Inside My Head”, parente próxima, em que Lombardo abusa de viradas abelhudas e precisas, enquanto Pleasants debulha a guitarra de ponta a ponta, sem dó, sobre as bases do eficiente Jeff Pogan, o outro guitarrista. Com o som enfim ajustado, a intensidade sonora cumpria o prometido no título da música.

Do novo álbum – sim, eles lançam discos regularmente -, o bom “World Gone Mad”, que saiu no ano passado, entram duas faixas. O single “Clap Like Ozzy” é a mais conhecida, e a versão ao vivo serve para o baixista Ra Diaz realçar a virtuose, outra característica do ST - lembre-se que Robert Trujillo saiu daqui. A outra é “Get You Fight On!”, música com bela melodia e ótima introdução dedilhada de Dean Pleasants, que seguramente o público irá cantar mais nas turnês subsequentes. Reservada para o bis, “Living For Life”, outra das novas, acabou limada, muito por causa dos “danos” causados pela subida do público no palco – de novo! – em “Pledge Your Allegiance” (aquela do “ST!”), que acabou arrematando a noite.

O concentrado Dave Lombardo, integrante fundador do Slayer, cedendo sua linguagem ao Suicidal

O concentrado Dave Lombardo, integrante fundador do Slayer, cedendo sua linguagem ao Suicidal

Além de intrujão no palco, a público se acaba em rodas de pogo o tempo todo, e mais ainda e com maior agressividade quando incentivado, ou pelos discursos vomitados sem fim por Mike Muir, ou para atender aos pedidos do chileno Diaz, que arrisca um portunhol básico. É assim em já em “You Can Bring Me Down”, da fase thrash metal mainstream, que abre a noite, o no super clássico “How Will I Laugh Tomorrow”, sobretudo nas partes mais velozes. E também em “Cyco Vision”, executada com uma pressa descomunal. Se muitas vezes previsível, um show do Suicidal Tendencies, de outro lado, pode sempre surpreender. Como esse, mais pesado, veloz e fiel à própria banda. Imagine para a turma que estava vendo tudo aquilo pela primeira vez…

Na abertura, o La Raza encarou o Imperator praticamente vazio e desinteressado. Mesmo assim, mandou um set de cerca de meia hora todo com músicas próprias. O som, com os pés fincados na década de 1990, mistura rock, rap, hardcore e adjacências sem muita criatividade. A verve e os esforços implementados pelo vocalista Alex Panda, o único com boa presença de palco no quinteto, tampouco surtiram efeito, e o show acabou passando despercebido mesmo, embora exista, honra seja feita, certa identificação sonora da banda com o Suicidal. Se os produtores tivessem escolhido uma banda da cidade para fazer a abertura, talvez o resultado fosse melhor.

Tem uma banda tocando ali: visão geral do palco invadido pelo público à convite do Suicidal Tendencies

Tem uma banda tocando ali: visão geral do palco invadido pelo público à convite do Suicidal Tendencies

Set list completo Suicidal Tendencies:

1- You Can’t Bring Me Down
2- I Shot Reagan
3- Clap Like Ozzy
4- Freedumb
5- Trip at the Brain
6- Get Your Fight On!
7- War Inside My Head
8- Subliminal
9- Send Me Your Money
10- Possessed to Skate
11- I Saw Your Mommy
12- Cyco Vision
13- How Will I Laugh Tomorrow
14- Pledge Your Allegiance

O esforçado vocalista do La Raza: na abertura, o grupo de São Paulo não movimentou o público

O esforçado vocalista do La Raza: na abertura, o grupo de São Paulo não movimentou o público

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Leonardo em maio 18, 2017 às 13:50
    #1

    Tinha que rolar uma turnê Slayer + SxTx, imagina o caos?

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