Amadurecendo
Inspirado no classic rock e com adoração à vocalista celebridade, Pretty Reckless ruma para a maioridade no Rio. Fotos: Nem Queiroz.
Em tese, o Pretty Reckless é um filho temporão da década de 1990, e, assim como o grunge que assolou aqueles tempos como um dos últimos grandes movimentos do rock para as massas, o quarteto tem forte inspiração no classic rock. Assim, é fácil compreender como “Prisoner” e “Sweet Things” remetem direta e substancialmente à AC/DC e Iron Maiden em início de carreira, respectivamente. A segunda é uma pedrada extraordinária que incendeia um público que parece desacostumando com o rock propriamente dito, ao omitir rodas de dança, batidas de cabeça e braços erguidos. Em compensação, a cantoria é intensa em praticamente todas as músicas, incluindo as cinco do álbum mais recente, “Who You Selling For”, lançado há menos de cinco meses; uma verdadeira eternidade em tempos de velocidade da informação.
Tudo bem que Momsen pede ajuda antes de começar “Make Me Wanna Die”, mas a resposta é tão generosa que, na meiúca, a banda para de tocar para ver o público cantar tudo à capela, em um dos grandes momentos da noite. Entre as novas, destaque para “Take Me Down”, encorpada, e que serve para fechar o show, antes do bis; “The Walls Are Closing In/Hangman”, que abre o disco e o show, em uma aula de como fazer uma música na vibe do Alice In Chains; e a já citada “Prisoner”, cujo novelo de riffs fala por si e ainda traz uma performance arrasadora do ótimo baterista Jamie Perkins. Por vezes, é difícil acreditar que uma banda criada por um produtor para satisfazer os caprichos de uma modelo, então pré-adolescente, tenha dado tão certo e siga firme e forte para a vida adulta. Que bom que seja assim.Daí que também não seria exagero afirmar que a precoce Taylor Momsen, louraça belzebu, é a figura central da banda, até pelos atributos extramuros, ou mesmo por ser uma mulher à frente de uma banda de rock e blablablá. Mas também não se pode deixar de lado o intenso trabalho de guitarras de Ben Phillips, não por acaso o parceiro da moça nas composições, e que seguramente é responsável pela banda seguir o curso até aqui como banda de rock, não como bibelô de celebridade. No palco, é ele quem fornece sólidas bases desencravadas da história do rock seco, duro, para a banda – e especialmente Momsen - deitar e rolar em todas as músicas. Em “Heaven Knows”, enquanto ela sensualiza e desaba no chão, Phillips descarrega solos de alta tensão sobre o público. Mas nada supera os devaneios heavy metal de “Sweet Things”, mais rascante do que doce, e de “Zombie”, um heavy rock dos bons.
A música, contudo, quase fica de fora do show por conta de cortes feitos em cima da hora, ali, na frente da plateia, à caneta, sobre a lista no papel preso ao palco, talvez pela vocalista ainda estar com o gogó em recuperação. Pois bastou a hora de saltar a décima segunda para o público pedir “Zombie” em uníssono, e aí, não teve jeito. Valeu a pena o apelo dos fãs e a sensibilidade do quarteto, já que o número é um dos melhores ao vivo deles. Sobra, então, para “Living In The Storm” e “Fucked Up World”, que foram realmente limadas. Nada que tirasse a animação do público em hits como “Since You’re Gone” e “Going to Hell”, esta uma paulada na moleira que, curiosamente, todo mundo gosta. Como gostam de Taylor Momsen, e como gostam de tudo nessa noite de jogo ganho para o Pretty Reckless.Set list completo:
1- Follow Me Down
2- Since You’re Gone
3- Oh My God
4- The Walls Are Closing In/Hangman
5- Make Me Wanna Die
6- My Medicine
7- Prisoner
8- Sweet Things
9- Light Me Up
10- Who You Selling For
11- Just Tonight
12- Zombie
13- Heaven Knows
14- Going to Hell
15- Take Me Down
Bis
16- Goin’ Down
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