O Homem Baile

Amadurecendo

Inspirado no classic rock e com adoração à vocalista celebridade, Pretty Reckless ruma para a maioridade no Rio. Fotos: Nem Queiroz.

Recuperada de uma gripe, Taylor Momsen começa o show comendo pelas beiradas até se soltar de vez

Recuperada de uma gripe, Taylor Momsen começa o show comendo pelas beiradas até se soltar de vez

Não tinha tanta gente quanto nas manifestações pelos direitos das mulheres na véspera, mas um público essencialmente feminino compareceu nesta quinta (9/3), no Vivo Rio, para cantar junto com o Pretty Reckless durante cerca de hora e meia de show. Uma força que Taylor Momsen precisava, uma vez que o show de Curitiba, que aconteceria na terça, foi adiado para domingo por conta de uma forte gripe que afetou sua voz. A cantora, frontwoman das boas, seguramente é razão do bom comparecimento do público, já que figura ainda no rol das modelos, atrizes e afins nesses tempos estranhos em que parece que a música é realmente o que menos importa. Momsen vence certa insegurança em “Follow Me Down”, a primeira música, alongada, e depois bota pra quebrar em versátil performance.

Em tese, o Pretty Reckless é um filho temporão da década de 1990, e, assim como o grunge que assolou aqueles tempos como um dos últimos grandes movimentos do rock para as massas, o quarteto tem forte inspiração no classic rock. Assim, é fácil compreender como “Prisoner” e “Sweet Things” remetem direta e substancialmente à AC/DC e Iron Maiden em início de carreira, respectivamente. A segunda é uma pedrada extraordinária que incendeia um público que parece desacostumando com o rock propriamente dito, ao omitir rodas de dança, batidas de cabeça e braços erguidos. Em compensação, a cantoria é intensa em praticamente todas as músicas, incluindo as cinco do álbum mais recente, “Who You Selling For”, lançado há menos de cinco meses; uma verdadeira eternidade em tempos de velocidade da informação.

A bela e a fera: Taylor Momsen se descabela cantando e Ben Phillips desenrola o novelo de riffs

A bela e a fera: Taylor Momsen se descabela cantando e Ben Phillips desenrola o novelo de riffs

Tudo bem que Momsen pede ajuda antes de começar “Make Me Wanna Die”, mas a resposta é tão generosa que, na meiúca, a banda para de tocar para ver o público cantar tudo à capela, em um dos grandes momentos da noite. Entre as novas, destaque para “Take Me Down”, encorpada, e que serve para fechar o show, antes do bis; “The Walls Are Closing In/Hangman”, que abre o disco e o show, em uma aula de como fazer uma música na vibe do Alice In Chains; e a já citada “Prisoner”, cujo novelo de riffs fala por si e ainda traz uma performance arrasadora do ótimo baterista Jamie Perkins. Por vezes, é difícil acreditar que uma banda criada por um produtor para satisfazer os caprichos de uma modelo, então pré-adolescente, tenha dado tão certo e siga firme e forte para a vida adulta. Que bom que seja assim.

Daí que também não seria exagero afirmar que a precoce Taylor Momsen, louraça belzebu, é a figura central da banda, até pelos atributos extramuros, ou mesmo por ser uma mulher à frente de uma banda de rock e blablablá. Mas também não se pode deixar de lado o intenso trabalho de guitarras de Ben Phillips, não por acaso o parceiro da moça nas composições, e que seguramente é responsável pela banda seguir o curso até aqui como banda de rock, não como bibelô de celebridade. No palco, é ele quem fornece sólidas bases desencravadas da história do rock seco, duro, para a banda – e especialmente Momsen - deitar e rolar em todas as músicas. Em “Heaven Knows”, enquanto ela sensualiza e desaba no chão, Phillips descarrega solos de alta tensão sobre o público. Mas nada supera os devaneios heavy metal de “Sweet Things”, mais rascante do que doce, e de “Zombie”, um heavy rock dos bons.

A modelo Taylor Momsen desfila na passarela, ops, no palco, com o ótimo batera Jamie Perkins no fundo

A modelo Taylor Momsen desfila na passarela, ops, no palco, com o ótimo batera Jamie Perkins no fundo

A música, contudo, quase fica de fora do show por conta de cortes feitos em cima da hora, ali, na frente da plateia, à caneta, sobre a lista no papel preso ao palco, talvez pela vocalista ainda estar com o gogó em recuperação. Pois bastou a hora de saltar a décima segunda para o público pedir “Zombie” em uníssono, e aí, não teve jeito. Valeu a pena o apelo dos fãs e a sensibilidade do quarteto, já que o número é um dos melhores ao vivo deles. Sobra, então, para “Living In The Storm” e “Fucked Up World”, que foram realmente limadas. Nada que tirasse a animação do público em hits como “Since You’re Gone” e “Going to Hell”, esta uma paulada na moleira que, curiosamente, todo mundo gosta. Como gostam de Taylor Momsen, e como gostam de tudo nessa noite de jogo ganho para o Pretty Reckless.

Set list completo:

1- Follow Me Down
2- Since You’re Gone
3- Oh My God
4- The Walls Are Closing In/Hangman
5- Make Me Wanna Die
6- My Medicine
7- Prisoner
8- Sweet Things
9- Light Me Up
10- Who You Selling For
11- Just Tonight
12- Zombie
13- Heaven Knows
14- Going to Hell
15- Take Me Down
Bis
16- Goin’ Down

Louraça belzebu: Taylor Momsen rasga a voz em versátil performance e precoce amadurecimento

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