O Homem Baile

Nostalgia, mas com frescor

Reunido em show intimista, Beach Lizards revive as músicas enguitarradas dos anos 1990, que seguem funcionando muito bem. Fotos: Marcos Bragatto.

O guitarrista e vocalista Demétrius, com o baixista Laércio de um lado e o baterista Nervoso de outro

O guitarrista e vocalista Demétrius, com o baixista Laércio de um lado e o baterista Nervoso de outro

Final de ano é época de festa da firma e, de quando em vez, uma reunião básica do Beach Lizards acontece sem que a notícia se espalhe tão depressa; quando se percebe, já rolou. Não dessa vez, já que uma matéria publicada em um jornal grande circulação associou o evento a certo revival das bandas de noise guitar da década de 1990, muito em cima do lançamento do ótimo documentário “Time Will Burn - O Rock Underground Brasileiro no Início dos Anos 90”. É assim que a turba noventista parte para mais uma edição do Baca Fest – a nona! –, festival organizado pelo baterista Bacalhau (Planet Hemp, Autoramas) na Audio Rebel, neste sábado (17/12). Até a chuva insistente deu um tempo para um show mais do que especial.

Primeiro porque, em todos esses reencontros, é uma das poucas vezes em que o guitarrista Cláudio participa, já que mora em outra cidade, completando a formação original de Demétrius (vocal), Laércio (baixo) e André Nervoso (bateria). Depois, porque trata-se da comemoração do aniversário de 20 anos do lançamento do segundo álbum do grupo, “Spinal Chords”, muito embora a notícia de que o disco seria tocado na íntegra não tenha se confirmado. O que, de certo modo, é até melhor, com o repertório distribuído entre este e o disco de estreia, “Brand New Dialog”, uma verdadeira coletânea de sucessos, já que, na época, demorou muito para sair e trazia todas as músicas tocadas nos shows da banda. E, acreditem, não eram poucos naquela primeira metade da década de 1990.

Adiantada a máquina do tempo, é revigorante ver tanta música legal tocada de uma vez só, com o mesmo frescor – acreditem – de antes. A começar pela duplinha “Naive Revolution” e “Friction”, a mesma que abre o álbum de estreia. A segunda é espécie de hit que trafega por grandes referências da época – e eis aí uma virtude do Beach Lizards -, feita para agitar o salão sem chance para a letargia, e a primeira, tensa, permanece instigante como um convite ao desconhecido, muito embora deságue em um agradável refrão. Escolha que deve ter sido feita para dar segurança para quem não toca junto há algum tempo e que funciona muito bem, mesmo com Demétrius as voltas com a guitarra que usa durante todo o show.

Demétrius, que canta e toca guitarra, e o guitarrista Cláudio, na formação original do Beach Lizards

Demétrius, que canta e toca guitarra, e o guitarrista Cláudio, na formação original do Beach Lizards

O camaleônico vocalista vai bem é no gogó rasgado, outra das marcas da banda, sobretudo quando força a voz no desfecho de “Sexy Lenore”, um vômito noise garageiro com pitadas de Nirvana do contemporâneo Dash. O show inclui generosa citação/homenagem a outras bandas, em músicas como “How Long, How Long”, de autoria de Henrique Badke (Carbona), com Nervoso muito bem; “Pinhead Hymn”, do Pinheads, uma pérola poppy punk; e “Speed Surfin’” e suas guitarras delirantes, da Pelvs. O que revela uma faceta da saudável promiscuidade musical das mais férteis entre os músicos da época. Apesar do teor nostálgico da noite, Demétrius alerta para um olhar para as novas bandas, que continuam – e cada vez mais – por toda a parte.

Uma delas é o Madalyns (conheça aqui), que tem o próprio Demétrius e Laércio na formação, e cujo ótimo cartão de visitas é dado, nessa noite, pela participação do bom vocalista Diego Brenner em “Mad Cow Disease”. Outros destaques do show, para uma plateia intimista e mais contemplativa do que participativa, são “Greedy Thing”, prima de “Friction” e também hit, incluída no set list de última hora; “Mirrors And Affection”, uma pedrada noise guitar das boas; e “Anesthesia”, grande exemplo de boa composição do Beach Lizards. Vinte anos depois, além do ótimo repertório, legado permanente para as gerações seguintes, também permanecem o vigor de Nervoso, o carisma de Demétrius e a enigmática e intrigante discrição de Laércio e Cláudio, num show cujo único defeito é durar tão pouco. Que, em compensação, eles não se afastem dos palcos tanto assim.

Na abertura, Mauk e os Cadillacs Malditos fizeram espécie de ensaio ao vivo, com uma formação que não toca junto há muito tempo. Como contrapartida, não se pode desperdiçar a oportunidade de ver, juntos no palco, o guitarrista Maurício Garcia e o baixista Edu Villa Maior (sem o baixo acústico), ambos lendas vivas remanescentes da d’A Grande Trepada (ou Big Trep, como queiram), e o baterista Robson Riva, dos Seletores de Frequência, banda de BNegão. Ok, as músicas são escolhidas na hora, meio que no improviso, mas um repertório com canções do Clash, do próprio Cadillacs Malditos e da Big Trep sempre cai bem. Se fosse futebol, seria um time sem treinar decidindo o jogo na categoria de seus craques. Imagina se eles tivessem ensaiado…

Os Cadillacs Edu Villa Maior, Robson Riva e Mauk: trio de cascudos improvisando no show de abertura

Os Cadillacs Edu Villa Maior, Robson Riva e Mauk: trio de cascudos improvisando no show de abertura

Set list completo Beach Lizards:

1- Naive Revolution
2- Friction
3- How Long, How Long
4- Pinhead Hymn
5- The Calm Came After The Storm
6- Lonesome Times
7- Mirrors And Affection
8- Speed Surfin’
9- Sexy Lenore
10- Mad Cow Disease
11- Anesteshia
12- Greedy Thing
13- Useless
Bis
14- Celebrate

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