O Homem Baile

Crescendo

Com material novo guardado, Far From Alaska segue mostrando o repertório do álbum de estreia, só que mais encorpado. Fotos: Nem Queiroz.

A vocalista do Far From Alaska, Emmily Barreto, sentindo mais um 'show de sua vida' pra valer

A vocalista do Far From Alaska, Emmily Barreto, sentindo mais um 'show de sua vida' pra valer

Quase um ano depois, a mesma banda, o mesmo show, (quase) as mesmas músicas, a mesma vibe. E não é que o público quase repete o mesmo espetáculo de interação? Quase porque, se acordo com uma das cantoras, o show de julho do ano passado foi o “melhor da vida” dela, no que recebe o endosso os demais integrantes (relembre). Ou eles gostaram mesmo ou, numa prova cabal de ingresso ao mainstream do rock nacional, com aparições extramuros, aprenderam a falar isso para todos. É o Far From Alaska outra vez no palco de um Imperator cheinho de dar gosto, em um show que tem ao menos um diferencial: os caras estão tocando pesado pra cacete, doa a quem doer, na madrugada de quinta no suburbão carioca.

O show, que em princípio faz parte das festividades de um inacreditável dia mundial do rock só comemorado neste Brasil varonil, acaba se convertendo em um protótipo do que pode vir a ser um festival de rock independente do qual o Rio tanto sente falta. Porque além das bandas, incluindo Stereophant e Hover, que tocaram antes, tem exibição de filme sobre rockers (“Dois Leões e Outros Bichos”, de Luciano Cian), uma bela decoração temática e estandes de LPs, gravadora independente, tatuagens e moda rock espalhados pelo local, que também, segue sob a égide do Rio Novo Rock, projeto que tem apresentado as novas bandas para o público em condições acessíveis. Parece ou não parece um festival?

Emmily e Cris Botarelli, que além de cantar é responsável por lap steel guitar, barulhinhos e efeitos bestiais

Emmily e Cris Botarelli, que além de cantar é responsável por lap steel guitar, barulhinhos e efeitos bestiais

Vê-se que uma banda cresceu quando ela tem fãs que fazem fila do lado de fora e, depois de entrar, eles se acumulam sentados na beirada do palco mais de três horas antes do show. E que, além desse participativo gargarejo que dialoga o tempo todo com Emmily Barreto, a tal vocalista do “melhor show da vida”, há um segundo pelotão mais atrás que investe em um espontâneo pula-pula alternado com rodas de dança. Percebem, bandas novas, que quando a música é boa não é preciso ficar mandando o público pular? Mas também se vê um grupo em ponto de bala quando o som está notadamente mais encorpado, denso, pesadaço, tudo muito à custa de um sujeito que sabe mexer nos botõezinhos lá na mesa de som. Clique aqui e entenda o que é o som do Far From Alaska.

Para não dizer que o show não tem nada de novo – e no fundo, no fundo, não tem mesmo – depois de uma mini DR entre os integrantes sobre mostrar ou não mostrar, o guitarrista Rafael Brasil, antes de “Communication”, saca um riff pesado que – óbvio – agrada geral. Se vai ou não entrar no disco novo, prometido em um cronograma apertado para o final do ano, aí já é outra história. Por ora, o que conta é a beleza de “About Knives” (ah, Jack White!), numa versão pedrada; as rodas de dança de “Communication”; as intervenções de lap steel guitar de Cris Botarelli, a outra vocalista, toda esquematizada em barulhinhos e efeitos bestiais, em “Politiks” e “Rolling Dice”; e o chamado conjunto da obra de um show simples, mas elaborado, com boas músicas e – repita-se – pesado pra dedéu.

Alexandre Rozemberg, o vocalista do Stereophant, que levou um bom público ao Imperator

Alexandre Rozemberg, o vocalista do Stereophant, que levou um bon público ao Imperator

Mas o jogo não era ganho e a coisa poderia ter ficado ruim para o Far From Alaska. Porque antes o Stereophant arrebanha uma plateia que conhece bem o grupo e participa do início ao fim do show, até mesmo em músicas apresentadas como “novas” pelo vocalista Alexandre Rozemberg. Ele - frontman dos bons - é o fio condutor de um som multirreferenciado que evidencia um ancestral emo, mas que decalca o modus operandi de um Dead Fish, por exemplo, com bem menos contundência. A falta de preocupação com a feitura de boas músicas e o foco nos arranjos coloca o grupo em um lugar comum da música pesada, salvo honrosas exceções como “Vermelha”, aclamada pela plateia; “Insônia”, essa sim, com refrão dos bons; e “Fora de Rota”, que lembra Rage Against The Machine.

Patinho feio que pode ser visto como belo cisne, o Hover abre a noite lançando o primeiro álbum, “Never Trust The Weather”. De um lado as músicas são bem trabalhadas e melhor arranjadas que o comum no meio, mas, de outro, são de difícil digestão. São três guitarristas que, se dobram o peso em determinados momentos, por vezes não valem por um, dada a omissão em várias músicas. O vocalista Saulo Von Seehausen tem performance destacada, mas o jeito linear de cantar pode incomodar. O grupo tem um approach pop rock de um lado – “My Name Is Alsaka” é ótima - , mas se perde quando soa como um Muse tentando chegar à Roma. Por isso tudo a recepção é deveras fria por parte do público, muito embora músicas como “Serenity”, com a boa inserção de violino, tenham lá um bom apelo para os mais atentos/esforçados.

O bom vocalista do Hover, Saulo Von Seehausen, e as contradições de um som elaborado, mas indigesto

O bom vocalista do Hover, Saulo Von Seehausen, e as contradições de um som elaborado, mas indigesto

Set list completo Far From Alaska:

1- Thievery
2- Another Round
3- Deadmen
4- Politiks
5- Rolling Dice
6- Rainbows
7- Communication
8- About Knives
9- Dino Vs Dino
10- Monochrome

Tags desse texto: , , ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado