O Homem Baile

Explosivo

Show relâmpago do Courettes evidencia cultura garageira barulhenta, sim, mas com canções grudentas. Fotos: Marcelo Mirrela/Divulgação.

Flávia Couri, agora como front leader com a guitarra em punho no rock de garagem do The Courettes

Flávia Couri, agora como front leader com a guitarra em punho no rock de garagem do The Courettes

A oportunidade é única, o show urgente e a plateia empolgada. No palco, o casal The Courettes sabe do que é capaz e se vira um bocado para mostrar que o rock e outras cositas más atravessam oceanos sem perder a essência. Intramuros, a banda é a nova empreitada da ex-baixista/vocalista do Autoramas, Flávia Couri, que aqui é front leader com a guitarra em punho. Para o mundo, trata-se de um daqueles duos garageiros que passam o rodo em tudo o que é canto, com o baterista dinamarquês Martin Couri destruindo tambores sem dó nem piedade; esqueçam o White Stripes. O show é uma das atrações da Festa College Rock deste sábado (9/7), no simpático Bar do B, no Rio, e passa como um furacão diante das ventas do público. Quem não foi deu mole.

Para entender o Courettes é preciso dar um confere nas músicas colantes do The Kinks, matrizes que atravessam gerações em garagens moldando o rock com a dureza e a simplicidade que podem ser apropriadas até por uma duplinha transcontinental. A falta que o som de contrabaixo faz – no palco isso é cristalino – é preenchida não só pela barulheira garageira, mas por um esporro que não é exatamente acidental, e sim ferramenta que aparelha as composições, muitas para colar no ouvido da gente de primeira. Caso por exemplo, de “Nobody But You”, de viés dançante; da tensa “Hoodoo Hop”, toda trabalhada no poder de sedução; ou ainda na autorâmica, por assim dizer, “The Boy I Love” (videoclipe aqui).

Porque é mesmo inevitável a comparação com o Autoramas, banda que deu certa projeção à Flávia Couri e para qual ela emprestou uma musicalidade (entenda-se conhecimento, teoria e prática) e presença inexistentes até então. E que também não se salienta na formação atual, nem com dois substitutos para as mesmas funções. No Courettes os backing vocals adocicados, a cantoria afinada e o jeitinho meigo de ser dão lugar ao vocal gritado e estridente (European style), à atitude pé na porta e a um rascante modo de fazer rock propositadamente sem acabamento. Sai o rock com mil erres e entra o “are you ready?”, espécie de 1, 2, 3, 4 dos Ramones a cada música que Martin adota. Tudo – repita-se - com ênfase na crocância das boas canções, às vezes mais, noutras menos, sem que a bola pare de rolar nos cerca de 45 minutos de show.

Duplinha barulhenta: Flávia na guitarra e o baterista dinamarquês Martin Couri destruindo tambores

Duplinha barulhenta: Flávia na guitarra e o baterista dinamarquês Martin Couri destruindo tambores

O repertório vem, sobretudo, do álbum “Here are The Courettes!”, lançado no ano passado (ouça aqui), mas também contempla os muitos singles que o duo tem soltado no mercado europeu. De quebra, num bis “negociado” sem intervalo nem nada, duas músicas novas/inéditas são incluídas, ambas de ótimos auspícios. O show não chega a fazer parte de uma turnê espalhada pelo Brasil – só rolou outro em São Paulo na semana passada -, mas é parte das férias da família rock’n’roll que já conta com o primeiro rebento. Por isso o clima é também intimista e de reencontro, o que de modo algum subtrai a pegada inerente ao rock, que, no fim das contas, é o que interessa. Que a noite seja, então, só um aperitivo de tudo o que uma Flávia Couri livre de amarras pode oferecer.

Set list completo:

1- I Wanna Be Your Yoko Ono
2- I’ve Been Walking
3- Go! Go! Go!
4- Money Blind
5- The Boy I Love
6- Nobody But You
7- Push It Too Hard
8- The Way You Walk
9- Shiver!
10- Voodoo Doll
11- Hoodoo Hop
12- We Are Gonna Die
13- Boom! Dynamite!
14- T-C-H-A-U
Bis
15- Strawberry Boy (nova)
16- Sem título (nova)

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