Baile pré-carnavalesco
Bandas de Curitiba, Hillbilly Rawride e Os Cervejas fazem festa psychobilly como prévia do Psycho Carnival, maior festival do gênero no Brasil. Fotos: Nem Queiroz.
Não que as bandas estejam escaladas para a edição deste ano, mas pela vibe dentro do Saloon, amplamente importada da cidade de origem. Programado para o meio da noite, o Cervejas teve o maior público, e veio com uma formação que, se não é a original, é um top of the tops do psycho brasileiro, com Vlad e Coxinha, também Catalépticos e Sick Sick Sinners, na guitarra e baixo, respectivamente, Ademir, vocalista da lendária Ovos Presley, só que na bateria, e o vocalista Márcio Tadeu. Não demorou muito para o público se aboletar na beirada do palco para cantar tudo o que é música. Com a guitarra no talo, Vlad forneceu muito mais peso às músicas do quarteto, cujo som prima por uma sinistra mistura de psycho com metal pesado, Slayer included.
Uma das mais rápidas é “Sara”, de uma longínqua fita demo noventista, quando Coxinha exibe uma descomunal habilidade com contrabaixo acústico, de tirar o chapéu. Outras das antigas que repercutem bem são “Cãimbras no Sangue”, “Psychobilly is Everywhere Around”, que resulta numa abertura de roda de dança possível no meio do salão, e “Sara”, ainda no início. Ademir troca de posição com Márcio para cantar a genial – já no título – “Ruas Inundadas de Cerveja”, do Ovos Presley, e ainda há tempo para um cover sensacional para “Psycho”, do Sonics, e para uma música nova, “Desinfected”, que dá a pista de um novo álbum a ser gravado, pelo visto com letras em inglês. Que Os Cervejas sigam vindo ao Rio, de preferência com mais frequência.
A noite só não foi roubada pelos Cervejas porque o Hillbilly Rawride… Ora, o Hillbilly Rawride é o Hillbilly Rawride! Nunca uma banda tão improvável durou tanto tempo e conquistou tantos fãs em um segmento como eles. Fazendo um som de caipira americano bebum de outras épocas, o grupo vai forte no country, bluegrass e adjacências pré-descoberta do rock’n’roll. Só que turbinado por um entorno meio psycho indisfarçável, e tudo feito por bons músicos de descolam certeiros arranjos para standards da música americana e compõem muito bem também. Por isso uma simples homenagem a Lemmy Kilmister, por exemplo, se converte em uma versão matadora para “Iron Fist”, do Motörhead, com uma pérola de encorpamento instrumental. E olha que a música foi tocada já no final do show, quando vacilões de todas as estirpes já tinham ido embora.Um senão de um show no Saloon 79 é que muita gente está acostumada a ir até lá para se divertir com a música e a vibe do bar – o que é ótimo -, e acaba não dando a mínima para a banda que está no palco – o que é terrível. Pior para eles porque Coxinha (o mesmo d’Os Cervejas, mas na guitarra, violão e vocal) e sua turma não está para brincadeira e despeja nada menos que trinta músicas uma atrás da outra. Ok que o grupo sofre um bocado com a ajuste do som, mas nem tudo pode ser perfeito. Bacana é o repertório, cuja maior parte vem do álbum “Ten Years on The Road”, de 2013, mas há espaço para novidades como a novíssima “I Love the Mornings, But I Get Above With The Nights” (ou algo parecido), tocada logo na primeira parte e que faz parte de um novo álbum (finalmente!) a ser lançado este ano.
O clima é de dança no salão, reforçado pelos espaços que aparecem após a saída dos Cervejas do palco, e há disposição e para muito trote entre uma cavalgada e outra do contrabaixo (acústico, claro), da banda. Das cantadas em português, uma das mais festejadas é “Uma Cerveja, uma Cachaça e um Remedinho”, não só pelo tema, recorrente, aliás, mas pelas belas intervenções de violino e teclado. Lemmy, fã do rock’n’roll de raiz e do pré-rock, diga-se, é homenageado em outra música, “Going to Brazil”, que vira “Living in Brazil”. “Caramuru Calibre 32” e “O Enxofre e a Cachaça” estão entre outras das antigas, e os covers bem arranjados para “Whole Lotta Shaking Going On” e “Great Balls Of Fire”, de Jerry Lee Lewis, têm o vocal do onipresente Ademir. Um show, enfim, para ser visto e revisto para todo o sempre.
É o bluegrass e country que a Dirty Devil Band, do Rio, mostra na abertura. No trio, sem bateria, realça a perícia técnica de Luiz Magalhães e seu banjo bem tocado, muito embora todos se saiam bem. O guitarrista Dennis Sieber também se arrisca na gaita, apoiada no pescoço, o que pode ser outro diferencial para eles. Em “Dirty Road”, o artifício funciona muito bem, mas a melhor composição é “Who’s The One”. Novo, o grupo parece meio tímido no palco, mas é só questão de tempo para emplacar no gosto desse tipo de público, e para isso a chegada de um baterista cairia bem. A discotecagem dos DJs Theddy-O e Tony Rocker, que fazem aniversário no comado do Saloon 79, garantem a atmosfera entre os shows, e, por último, mas jamais em último, a diabinha Larissa Maxine mostrou como a natureza lhe foi generosa em três números de pura picardia juvenil, incluindo um ao som de “Mulher Diabo”, do Matanza. Era ou não era uma filial do inferno?Set list completo Os Cervejas:
1- Garoto Vaca
2- Cervejas
3- Garoto Vaca II
4- Soca, Billy
5- Sara
6- Kizumba
7- Don’t Cry Baby
8- B.T.N.
9- Vou Vodka
10- Cãimbras no Sangue
11- Música de Brinquedo
12- Oh, Que Horror De Família
13- Cemetery Party
14- Anjo da Morte
15- Joinner
16- Psycho
17- Desinfected
18- Ruas Inundadas de Cerveja
19- Humen Fly
20- Psychobilly is Everywhere Around
21- Monkey Man
Tags desse texto: Dirty Devil Band, Hillbilly Rawhide, Os Cervejas