O Homem Baile

Com guitarra

Dônica abre o palco secundário do Rock In Rio com música instrumental e guitarrista de mão cheia; show tem curta participação do veterano Arthur Verocai. Foto: Divulgação Rock In Rio

donicarir15É a edição de aniversário de 30 anos do Rock In Rio, mas, seguramente, ninguém ali em cima daquele palco esteve no nascedouro do festival. Ainda não é a abertura oficial da edição 2015, que só acontece no Palco Mundo com o sol posto, mas o início dos trabalhos, na prática, ali no charmoso Palco Sunset. E por isso o descompromisso do Dônica é flagrante, já no início, com uma música instrumental que, se não chega a revelar o talento dos rapazes (nem tão) imberbes, dão uma boa amostra do que pode acontecer se deixarem eles soltos por aí. Por isso não é exagero afirmar que poucas vezes se viu, na abertura (ou quase) de um edição do festival, qualquer uma delas, uma guitarra reverberar tão lindamente rock’n'roll como esta, numa linda tarde de inverno de 40 graus na Cidade do Rock.

O grupo, veterano de saraus aqui e acolá, vai fundo no rock progressivo de raiz, com direito a longas incursões instrumentais, só que com o toque da música brasileira made in Clube de Esquina. Por isso “Pintor”, a terceira música da noite, foi gravada com a participação de Milton Nascimento, e o sotaque musical mineiro é forte em toda a canção, só que para o mal. Porque, para o bem o quarteto (Tom Veloso participa pela primeira vez tal qual um convidado), o inquieto Lucas Nunes intervém com as qualidades de um guitarrista de mão cheia, como se rodado fosse na mais tenra idade. É dele a amostra de guitar hero que marca o início do Rock In Rio 2015, e é ele que se contrapõe ao tecladista José Ibarra, que também canta, empurrando os arranjos para o rock que se quer ouvir em um festival de rock.

Com Ibarra, a tecladeira prog setentista também deita e rola, mas, vamos e venhamos, teclado é teclado, e guitarra é guitarra. E, numa banda, ainda mais com certa virtuose envolvida, um tem que correr atrás do outro. É o que acontece, por exemplo, em “Carrosel”, quando o início assim, assim, é surpreendido por uma fulgurante mudança de andamento, em que brilha mais uma vez Nunes. Mas Ibarra volta achando o fio da meada de maneira certeira. Outra em que o grupo vai bem é “Na Boca do Sol”, essa de Athur Verocai, já com o músico e um naipe de metais no palco. É uma das poucas, contudo, em que o público reage, afora um pequeno séquito de amigos que carrega até uma faixa com o nome da banda.

Outra de Verocai incluída no set, em mais um daqueles encontros do Palco Sunset que funcionam bem, pero no mucho, é “Dedicada a Ela”, mas o naipe de metais dá certo mesmo é em “Bicho Burro”, que aprece modificada, cheia de suíngue. As músicas do Dônica estão nos discos - eles são novos, mas já são dois - “Continuidade dos Parques” e “Dônica”, e o grupo precisa tomar cuidado com o uso das aliterações que faz “Praga” parecer um novo “Abacateiro”, de Gilberto Gil, e “Macaco no Caiaque”, aqui realçada pelo naipe de metais (aí, sim Sunset!) periga deixar Humberto Gessinger enrubescido. E, sim, a troca de instrumentos, uma prática dos meninos, em “Ordem e Progresso”, só reforça que a banda gira em torno - de verdade - de Lucas Nunes e José Ibarra. Cada um na sua, pessoal. Deixem o rodízio para o vôlei.

Set list completo:

1- Inverno
2- Casa 180
3- Pintor
4- Carrossel
5- Retorno Para Cotegipe
6- Praga
7- Ordem e Progresso
8- Na Boca do Sol
9- Macaco no Caique
10- Dedicada a Ela
11- Bicho Burro

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