O Homem Baile

Começou nostálgico

Bem engendrado, show com artistas que já participaram do Rock In Rio ao longo dos 30 anos emociona a platéia na Cidade do Rock. Foto: Adriana Vieira.

rockinrio3015Se já se transformou uma tradição do Rock In Rio começar com tributos, homenagens e afins, imaginem em uma edição comemorativa do aniversário de 30 anos do festival. É assim que, depois de uma foguetório de alegrar turista em reveillon de Copacabana, Roberto Frejat aparece no centro do Palco Mundo (o principal), mandando “Pro Dia Nascer Feliz” para alegria, animação e interesse geral de quem está chegando à Cidade do Rock. Não é assim por causa da música, grande hit da abertura democrática consagrada nesse mesmo festival, em 1985, nem por causa de Frejat, com uma generosa folha corrida de serviços prestados ao rock nacional. É assim porque seria assim com qualquer música ou artista. Porque é assim que funciona o Rock In Rio em seu período contemporâneo.

O show, contudo, é bem bolado, bem produzido e muito bem executado, passando por cima inclusive daqueles intervalos entre uma música e outra, para a troca de músicos, intérpretes e afins. Trilhas fazem o elo direitinho, enquanto o telão corrobora a vibe “homenagear o próprio umbigo” com grande placidez. O repertório, também, é muito bem escolhido, exceto pela participação terrível de uma artista de gosto duvidoso, para ficarmos em boas conversas. Imagine que, logo nas seis primeiras músicas, se passeia pelas décadas de 1960 (Erasmo Carlos), 1970 (Ney Matogrosso), 1980 (Barão Vermelho), 1990 (Skank) e 2010 (Lenine). Ney Matrogosso por sinal, se destaca voluptuosamente como o melhor intérprete entre todos nesse show. Do lado oposto, George Israel corta um dobrado para representar o Kid Abelha em “Lágimas e Chuva”, sem Paula Toller, junto com a Blitz.

Blitz, que, com formação bem modificada - quem não tem depois de 30 anos - ainda encanta com o rock de breque “Você Não soube Me Amar”, pontapé inicial do rock nacional dos anos 80 que desaguou, entre outras coisas, no próprio Rock In Rio, acredite se quiser. Evandro Mesquita, que ajuda Israel com uma harmônica, volta a pedir, 30 anos depois, para “mudar o país com alto astral”, coisa que parece dificílima nos bélicos dias de hoje. Erasmo, também, depois da boa recepção, desabafa: “Era esse Rock In Rio que eu queria em 1985″. Na ocasião, foi vaiado e escorraçado do palco em uma das apresentações, e a outra (eram duas num mesmo festival) foi remarcada para um dia mais tranquilo. Para ele, a noite é de merecida redenção. Sozinho no palco, Ivan Lins mostra certo nervosismo, justamente quando o show dá uma quebrada com a piegas “Depende de Nós”; tinha que ser essa?

Um show desse tipo, de longe, no papel, pode parecer uma patacoada daquelas - e é mesmo -, mas ao vivo, não há quem se emocione, ainda mais com um elenco sobejamente saudosista, encabeçado por um Queen, 30 anos depois, sem Freddie Mercury. É o que acontece com a introdução de “Óculos”, dos Paralamas, que marcou o verão do rock, em 1985; só faltou a palmeirinha retirada do camarim. Ou com a adaptabilidade de Andreas Kisser, o guitarrista do Sepultura, que entrou no palco junto com a Blitz e não saiu mais, tocando e cantando desde “Polícia” e “Ratamahata”, de seu repertório, até “A Dois Passos do Paraíso”, como se reforçasse o recado a Erasmo, segundo o qual os tempos são verdadeiramente outros. Nada supera, porém, a explosão da plateia na primeira nota - nota, não verso - de “Vou Deixar”, do Skank, com Samuel Rosa no comando.

O achado do chamado “conjunto da obra”, entretanto, é a montagem do repertório, escolhido não só a partir das músicas, mas dos artistas que estiveram em edições do Rock In Rio ao longo desses 30 anos. E - repita-se - que se conseguiu dar um contexto para cada artista elencado, o que, de propósito ou ao acaso, mesmo com erros evidentes, acaba por traçar uma síntese da trajetória do rock nacional nesses últimos 30 anos ou mais. Não é que se espera de um evento bombado e de farto orçamento como o Rock In Rio, mas, se é para fazer esse tipo de apresentação, vamos e venhamos, produziu-se uma suculenta limonada.

Set list completo:

1- Pro Dia Nascer Feliz
2- Porque A Gente é assim
3- Rua da Passagem
4- Vou Deixar
5- Pode Vir quente que Estou fervendo
6- É Proibido Fumar
7- Depende de Nós
8- Novo Tempo
9- Você Não soube Me Amar
10- A Dois Passos do Paraíso
11- Lágrimas e Chuva
12- Óculos
13- Uma Brasileira
14- Tempo de Alegria
15- Do Seu Lado
16- A Sua Maneira
17- Ratamahata
18- Polícia
19- Bichos Escrotos
20- Tema Oficial do Rock In Rio

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