O palco não é dos melhores, uma instalação montada no meio de uma espécie de praça de alimentação em uma feira de comida chique na zona sul do Rio. A entrada é franca, e, em princípio, tem mais gente passando de lado a outro do que interessada na atração da noite. Mas Andy Summers, eterno guitarrista do Police, não está nem aí. Quando sobe ao palco, já tem uma multidão aboletada pelos diversos níveis de piso que fazem do local uma espécie vale pré-moldado. O britânico sisudo logo se transforma num gringo gente boa e, aos 72 anos, se mostra animadaço em cima daquele palco, com o som honesto e em volume generoso. “Vocês já comeram? Eu estou morrendo de fome”, brinca, antes de “Walking On The Moon”, um dos muitos hits do Police inseridos na noite. “Estou aqui para tocar com esses músicos fantásticos”, completa, fazendo reverência ao baixista/vocalista Rodrigo Santos (Barão Vermelho e guerreiro do rock) e ao batera Kadu Menezes (Kid Abelha).

Summers nunca esteve tão à vontade em um palco. Longe do tio (às avessas) Gordon, investe em solos em praticamente todas as músicas, como se fosse um guitar hero que nunca apareceu em um show do Police, nem nos primeiros anos do trio. E mais: com improvisações longas e criativas, sem, contudo, fugir da melodia e da métrica original de cada canção, artifício que encanta o público com sutil facilidade. Mesmo com a banda bem ensaiadinha, Rodrigo sempre recebe o sinal do guitarrista de que o número chegou ao fim antes de voltar a cantar o restante da música. Fora do Police – sabe-se – Andy Summers tem longa e prolífica carreira, mas, no trio, era do tipo low profile, o parceiro perfeito para monstros como Sting e Stewart Copeland, focado mais em texturas e fraseados do que em exacerbações típicas de guitarristas. Agora, não.

É assim em “Walking On The Moon”, que descamba para o inevitável “iô-iô” do Police; na dobradinha “Can’t Stand Loosing You”/“Reggatta de Blanc”, a primeira a levantar o público; e em “Roxanne”, um pop reggae genial que Sting compôs depois de escutar uma coletânea barata de Bob Marley. O início é com a difícil “Synchronicity II”, e Rodrigo corta um dobrado para pronunciar aqueles versos rebuscados da fase mais cabeçuda de Sting, mas se sai muito bem. O músico canta com uma afinação diferente da habitual, o que acarreta em um bom encaixe no repertório do Police. “Wrapped Around Your Finger” tem uma introdução diferente a custa de Summers; “Driven to Tears” é a surpresa da noite; e “Spirits In The Material World”, sem a muralha de teclados da gravação original, ganha contornos peculiares. Ou seja, além do repertório do Police tocado por um Police, o show tem jeitão de “once in a life time” dos mais interessantes.

A noite é dividida em três partes. Na primeira, Rodrigo, o guitarrista Fernando Magalhães, também do Barão Vermelho, e Kadu fazem uma versão reduzida do grupo, com destaque para os solos colantes de Fernando, em hits como “Bete balanço” e “Pro Dia Nascer Feliz”. No meio, Summers substitui Fernando, e no bis todos tocam juntos. Por isso, “Message In A Bottle”, com duas guitarras, tem uma versão acachapante, valorizando um dos melhores riffs da história do rock, muitas vezes ignorado por conta de o Police não ser “aquele power trio” que muita gente acha que é. Uma versão da música feita por uma banda de hard rock/heavy metal ainda é ansiosamente aguardada – a do Machine Head não conta. E o encerramento vem com “Every Little Thing She Does Is Magic”, seguramente o maior hit do Police, que quase derruba o tablado improvisado em frente ao palco. Um show peculiar para se guardar na memória.

Set list completo:

1- Por Que a Gente é Assim
2- Bete Balanço
3- Por Você
4- Maior Abandonado
5- Vida Louca Vida/Codinome Beija-Flor
6- Exagerado
7- Pro Dia Nascer Feliz
8- Synchronicity II
9- Spirits In The Material World
10- Walking On The Moon
11- Wrapped Around Your Finger
12- Can’t Stand Loosing You/Reggatta de Blanc
13- So Lonely
14- Roxanne
15- Driven to Tears
16- Every Breath You Take
Bis
17- Message In a Bottle
18- Every Little Thing She Does Is Magic

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