Exibição
Guitarrista Andy Summers lidera super trio que recria repertório clássico do The Police, em Vivo Rio lotado. Fotos: Daniel Croce.
O que não deixa de ser uma surpresa para Rodrigo, que se vê emocionado e até troca a ordem das estrofes em “Message In A Bottle”, mas nada tão perceptível para a plateia assim. O clima é de intensa interação, em sucessos como “So Lonely” e “Roxane”, e de distração também, em músicas como “Tea In The Sahara” e “Next To You”. O baixista fica tocado por que sabe da dificuldade de levar o rock adiante por essas bandas, e porque nem sempre tem boas condições e bom público como o dessa noite. Da última vez no Rio, por exemplo, o grupo, sem o nome Call The Police, e com o ótimo batera Kadu Menezes (Kid Abelha), o show foi em uma espécie de praça de alimentação em uma feira de comida na zona sul (relembre). No que vale a persistência de Rodrigo, que está prestes a reestrear na nova formação do Barão Vermelho, banda que lhe deu maior projeção, entre tantos grupos como o de Lobão, João Penca e Kid Abelha, sem falar na sua carreira solo e outros projetos.
Mas a estrela da noite é mesmo Andy Summers, e para entender o Call The Police é preciso deixar de lado o The Police como o mundo inteiro consagrou. Porque, lá, Summers é discreto e subordinado, e, aqui, é quem manda e reina absoluto como guitarrista mais arrojado e no comando, muito embora tenha em João Barone um parceiro de virtuose daqueles. Em torno de 10 anos mais velho que Sting e Copeland (born in de ’40s), Andy Summers já desfrutava de considerável carreira antes de o Police o admitir, sempre tocando de um modo enviesado/minimalista que se converteu em sua indelével característica. O que lhe garante estofo para revisar todas as músicas do repertório, alongando-as com interveções que ou são puro improviso ou foram formatadas desse modo para o show. Em “Spirits In The Material World”, por exemplo, é a guitarra quem toma o lugar dos teclados saturados da versão original. Em “Driven to Tears”, do rol nas menos conhecidas pelas mesas, a improvisação feita a partir do solo de Summers detona uma sensacional evolução intrumental, desafio que Barone encara com notória felicidade.E ressalte-se que João Barone caprichou. Ao ser convidado por Rodrigo para tocar com um integrante de uma das bandas que mais o influenciou, preparou um set de bateria extraordinário - com o bumbo customizado com as cores da capa do álbum “Synchronicity” (1983) -, repleto de peças para tornar as músicas do show não só mais parecidas possível com as versões originais, mas para garantir um nível de variação rítima e sonora acima da média. Daí, quando Summers, soltinho que só ele, envereda por acréscimos instrumentais de ótimo gosto e abordagem, o baterista deita e rola com viradas inesperadas, contínuas variações e extensões sobre os arranjos originais, sem perder o andamento da música em si. E tudo com uma naturalidade que faz parecer que aquilo tudo é fácil de fazer; só tocar como o genial Copeland já é tarefa dificílima. A pauleira punk rock de “Next to You”; a precisão das viradas em “Hole In My Life”; e o climão no início de “Tea In The Sahara”, músicas menos bombadas, dão uma ideia do trabalho inventivo e, ao mesmo tempo, fiel à proposta original.
Em relação ao show de 2015, que era dividido meio a meio com músicas do Barão Vermelho, o repertório é naturalmente ampliado com 14 números no total. Dessa vez, ficou de fora “Wrapped Around Your Finger” e permanecem ausentes “King Of Pain”, belísima; “Don’t Stand So Close to Me”, incrivelmente pedida por um público as vezes pouco interessado; “Bring On The Night”, que, segundo consta, tem sido tocada nessa turnê; e até “Walking in Your Footsteps”, que seguramente seria terreno fértil para João Barone. Mas, honra seja feita, o show cobre bem todos os cinco álbuns da curta carreira do Police, em versões - repita-se - ampliadas que cumprem bem a hora e meia de show. Um segundo bis quase sai, mas Summers, sabe-se lá o porquê, não voltou ao palco e deixou Santos, Barone e mais duas mil pessoas esperando. Sorte que, com “Can’t Stand Losing You/Reggatta de Blanc” e “Every Little Thing She Does Is Magic”, tudo já tinha se resolvido, em um show que vale muito por não acontecer toda hora.Set list completo:
1- Synchronicity II
2- Walking on the Moon
3- Driven to Tears
4- Spirits in the Material World
5- Hole in My Life
6- Invisible Sun
7- Tea in the Sahara
8- So Lonely
9- Next to You
10- Roxanne
11- Every Breath You Take
12- Message in a Bottle
Bis
13- Can’t Stand Losing You/Reggatta de Blanc
14- Every Little Thing She Does Is Magic
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