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Se sentindo em casa, Dr. Sin lança novo álbum em show concorrido no Rio; X-Rated revive sucessos na abertura. Fotos: Luciano Oliveira.

Vibe boa: o baixista e vocalista Andria Busic segue cantando muito bem à frente do Dr. Sin

Vibe boa: o baixista e vocalista Andria Busic segue cantando muito bem à frente do Dr. Sin

Não é sempre que o Dr. Sin atravessa a Dutra para dar as caras no Rio, daí a boa procura pelos fãs da banda, que abarrotaram o Rio Rock Blues, nesta sexta (12/6), na Lapa contaminada por música ruim. É bem verdade que o local, acanhado, tem capacidade de público reduzida, mas, também, o grupo já teve dias de maior exposição, em festivais como o Hollywood Rock, há mais de 20 anos, e o Rock In Rio, em 2013 (veja como foi). Mas funcionou, em uma noite com a aura dos shows de rock e com a banda muito à vontade para mostrar músicas do novo álbum, “Intactus”, e relembrar sucessos da carreira. É de salientar como o trio se comporta da mesma forma em um local menor e num palcão de festival, guardadas as devidas proporções. A abertura ficou por conta do reunido X-Rated.

Não são muitas as bandas brasileiras que persistem em fazer música de conotação virtuosa e com certo sotaque cativante como o Dr. Sin, e o grupo segue no rastro da fusão do bom nível técnico, musicalmente falando, com canções que colam no ouvido até do sujeito menos familiarizado. Um bom exemplo é “The Great Houdini”, escorada em um riff hard rock dos bons, pesado e com direito a mini solos de cada um dos músicos - o baixista Andria Busic e o guitarrista Eduardo Ardanuy duelam na beirada do palco -, sem deixar de colar nos ouvidos. Outra é “How Long”, um rockaço dos bons que, tocada na sequência, gruda ainda mais nos ouvidos, graças a um refrão atraente reforçado pelos sempre bem encaixados backing vocals do trio. As duas fazem parte de “Intactus”, o recém laçado álbum da banda.

Todo o brilho do guitarrista Eduardo Ardanuy: muitos solos sem os exageros típicos da posição

Todo o brilho do guitarrista Eduardo Ardanuy: muitos solos sem os exageros típicos da posição

A todo, são cinco músicas desse novo trabalho, tocadas corajosamente em um bloco só. “This Is The Time” é o chamado single de trabalho, que segundo o batera Ivan Busic, já toca em rádios do segmento. A música é quase uma balada, de modo que “How Long” seguramente teria um desempenho radiofônico melhor; mas quem ouve rádio nesses dias confusos? “Saturday Night”, a que abre o CD, passa batido, e “We’re Not Alone”, que trata de extraterrestres, é um tema quase sombrio, até para uma banda que flerta o tempo todo com o hard rock. O contraponto é um solo sensacional de Ardanuy, o que se repetiria em outras vezes durante a noite, mas sem aquela sensação de exorbitância muitas vezes realçada por bandas/guitarristas virtuosos. Ainda bem.

A reação do púbico a cada música é, dado o aconchego da casa, quase íntima. “Não corta o cabelo, não Edu!”, pede uma fã entre uma música e outra, enquanto Ivan e Andria prestam homenagem a um primo carioca influente na formação musical da dupla que vê tudo do mezanino. As músicas em que o público mais participa são as consagradas, como acontece em “Time After Time”, sem que Andria precise puxar o cantarolar na parte final. A canção é outra em que brilha Edu Ardanuy em mais um solo daqueles. “Down In The Trenches” abre a noite no gás, representando “Brutal”, o até hoje melhor álbum da carreira do Dr. Sin, e a improvável já no título “Emotional Catastrophe” conclui o set, com um perfume de anos 90 no ar.

A formação perene do Dr. Sin: Andria Busic, seu irmão Ivan Busic na bateria, e Eduardo Ardanuy

A formação perene do Dr. Sin: Andria Busic, seu irmão Ivan Busic na bateria, e Eduardo Ardanuy

O repertório é encorpado com covers, e a novidade de verdade é a inclusão de “Rising Force”, de Yngwie Malmsteen, com as participações do produtor Rodrigo Scelza mandando muito bem nos vocais e do tecladista Bruno Sá, que usa um keytar para duelar com Ardanuy. No bis, um roadie assume as baquetas e Ivan Busic vira Dave Lee Roth para o trio mandar “You Really Got Me”, dos Kinks, com a roupagem do Van Halen. O arremate é com “Have You Ever See The Rain”, depois de 90 minutos de boa música tocada para uma plateia acolhedora. Com tantos anos de estrada, o Dr. Sin nem precisava tantos covers – há repertório próprio suficiente -, mas que ficou legal, ah, ficou.

Na abertura, o X-Rated mostrou músicas de seus três álbuns, “Shaking Like a Bad Machine” (1990, relançado no ano passado), “Animal House” (1991) e “Daresafesexdisorder” (1994). O grupo, formado no início dos anos 1990, voltou há pouco tempo com a formação original, que, na época, era a de uma super banda: Lucky Lizard (vocal, MetalMania), Marcos Dantas (guitarra, Azul Limão), Bruno Schubnel (baixo) e André Chamon (bateria, Stress). A apresentação mostra uma banda muito bem ensaiada, e com músicas não sofreram com a passagem do tempo. É o que acontece com “Realize It”, hit cujo refrão é cantado até por quem não viveu a época; “Animal House”, que abre a noite com certa frieza por parte do público; e “Kiss”, um cover do Prince que melhora – e muito – a original.

O vocalista Lucky Lizard e o guitarrista Marcos Dantas: veteranos mandam muito bem na abertura

O vocalista Lucky Lizard e o guitarrista Marcos Dantas: veteranos mandam muito bem na abertura

Mesmo bem ensaiado, o quarteto demonstra certa falta de intimidade com o palco, o que é compreensível pelo tempo em que ficou fora de cena, e em que pese o fato de a casa ainda estar vazia quando o show começou. O que em nada atrapalha as performances de “Face The Dog”, com Marcos Dantas agitando com Lucky na beirada do palco; no cover para “I Love Rock N Roll”, que de fato agita o público; e no encerramento com a “I Wanna a Beer”, o tipo de música feita para chamar de sua, em forma e conteúdo. Que o X-Rated siga tocando, pois a coisa só tende a melhorar, e – por que não? – quem sabe um novo álbum de inéditas não sai daí?

Set list completo Dr. Sin
1- Down in the Trenches
2- Fly Away
3- Lady Lust
4- Time After Time
5- Fire
6- The Great Houdini
7- How Long
8- This Is The Time
9- Saturday Night
10- We’re Not Alone
11- Miracles
12- Rising Force
13- Emotional Catastrophe
Bis
14- You Really Got Me
15- Have You Ever Seen the Rain?

O guitarrista Marcos Dantas agitando durante o bom show do X-Rated: até quem não conhecia curtiu

O guitarrista Marcos Dantas agitando durante o bom show do X-Rated: até quem não conhecia curtiu

Set list completo X-Rated
1-Animal House
2- You Got It
3- Kill Big Brother
4- Striptease Boogie
5- Kiss
6- Smashed Rhythm Of Love
7- Sextrash Superstar
8- I Love Rock N Roll
9- Face The Dog
10- Realize It
11- Blue Heart
12- I Wanna Beer

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