Previsibilidade certeira
Interpol não inventa, mostra o feijão com arroz no Lollapalooza e sai aplaudido pelo bom público que “curtia” a chuva fina. Fotos Divulgação T4F: I Hate Flash (1 e 3) e Rafael Koch Ross (2).
Mas não foi só por isso. Acredite se quiser, o público não é pequeno e se entrega logo de cara cantando junto tudo o que é música, inclusive as do disco mais recente, “El Pintor”, que marca o retorno do grupo após um breve recesso. A primeira delas é a facinha “Anywhere”, que até quem não conhece consegue cantar junto, com quase a mesma fórmula: baixo à frente, guitarras no entorno e a indefectível voz de Banks; o tecladista é prejudicado pelo operador de som. O público tende a crescer na meiúca do show, uma vez que segue a perversa programação simultânea do festival. Um show começa e vem gente correndo de outros palcos. Antes de acabar, outros tantos se mandam para ver outros shows. Perdem o início e o fim do set, justamente quando o artista coloca mais pressão. Desagregador, não?
Problema que não é de Banks e asseclas, muitos menos de quem – fã ou não – opta por assistir à performance completa da banda, com garoa (chuva fina, na linguagem nativa), clima britânico e tudo, muito embora os vestidos de preto venham de Nova York. Tocadas juntas, “Evil’ e “Narc”, ambas do bom álbum “Antics”, são as primeiras a levantar o povão pra valer, quase como numa pista de dança gigante. A primeira, por causa do belo refrão e do vocal mais parecido com o de Curtis ainda, e, a segunda, uma prova de como a profunda tristeza do pós punk pode se converter em uma improvável alegria para as massas. O guitarrista Daniel Kessler mostra estar em boa fase, longe de se limitar às por vezes enfadonhas texturas do gênero, para se embrenhar em evoluções mais sólidas.É o que ele salienta na triste “Rest My Chemistry”, pinçada do pouco ouvido álbum “Our Love to Admire” (resenha aqui), e que dá um clima soturno ao, digamos, ambiente open air de um festival. E ainda em “The New”, num show de minimalismo que deixa o contrabaixo soltinho para fincar o som no climão de tristeza. Pós punk oitentista, pois não? Mas a tal pistaça de dança totalmente ao vivo, sem DJ que jamais será músico, acontece na genial batida de “PDA”, cortesia do bom baterista Sam Fogarino, que não perde a mão durante todo o show. Outras que levantam a turma é “Not Even Jail”, marcada por palmas, e a mais do que esperada/pedida “Slow Hands”, que arremata a apresentação em grande estilo. E olha que o Interpol nem precisou inventar muito para isso. Basta fazer o básico para se manter ativo após um recesso de motivação duvidosa. Com ou sem chuva.
Set list completo:1- Say Hello to the Angels
2- Anywhere
3- Leif Erikson
4- Evil
5- Narc
6- Rest My Chemistry
7- Everything Is Wrong
8- The New
9- PDA
10- Not Even Jail
11- NYC
12- All the Rage Back Home
13- Slow Hands
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