O Homem Baile

Previsibilidade certeira

Interpol não inventa, mostra o feijão com arroz no Lollapalooza e sai aplaudido pelo bom público que “curtia” a chuva fina. Fotos Divulgação T4F: I Hate Flash (1 e 3) e Rafael Koch Ross (2).

O líder do Interpol, Paul Banks, tocando guitarra e cantando como... Ian Curtis, do Joy Division!

O líder do Interpol, Paul Banks, tocando guitarra e cantando como... Ian Curtis, do Joy Division!

A máxima do indie inveterado segundo a qual a chuva que cai melhora o show do Interpol, que estava prestes a tocar à luz de um sol daqueles, se São Pedro não interferisse, é a piada recorrente no gramado do Autódromo de Interlagos no domingão do Lollapalooza. É como se determinado tipo de som só fizesse efeito sobre os ouvintes se estivesse envolvido nessa ou naquela atmosfera. Mas se, vamos e venhamos, o Interpol é quem melhor decalca o Joy Division, a banda mais atmosférica de todas as épocas, e Paul Banks, só com a voz poderia passar o resto de seus dias como cover oficial de Ian Curtis, até que faz sentido. Talvez daí ele tenha deixado escapar um sorrisinho pelo canto da boca, já no início do set, com “Say Hello to the Angels”.

Mas não foi só por isso. Acredite se quiser, o público não é pequeno e se entrega logo de cara cantando junto tudo o que é música, inclusive as do disco mais recente, “El Pintor”, que marca o retorno do grupo após um breve recesso. A primeira delas é a facinha “Anywhere”, que até quem não conhece consegue cantar junto, com quase a mesma fórmula: baixo à frente, guitarras no entorno e a indefectível voz de Banks; o tecladista é prejudicado pelo operador de som. O público tende a crescer na meiúca do show, uma vez que segue a perversa programação simultânea do festival. Um show começa e vem gente correndo de outros palcos. Antes de acabar, outros tantos se mandam para ver outros shows. Perdem o início e o fim do set, justamente quando o artista coloca mais pressão. Desagregador, não?

O guitarrista Daniel Kessler não perde a fleuma, ainda que sob a chuva tão desejada pelos fãs

O guitarrista Daniel Kessler não perde a fleuma, ainda que sob a chuva tão desejada pelos fãs

Problema que não é de Banks e asseclas, muitos menos de quem – fã ou não – opta por assistir à performance completa da banda, com garoa (chuva fina, na linguagem nativa), clima britânico e tudo, muito embora os vestidos de preto venham de Nova York. Tocadas juntas, “Evil’ e “Narc”, ambas do bom álbum “Antics”, são as primeiras a levantar o povão pra valer, quase como numa pista de dança gigante. A primeira, por causa do belo refrão e do vocal mais parecido com o de Curtis ainda, e, a segunda, uma prova de como a profunda tristeza do pós punk pode se converter em uma improvável alegria para as massas. O guitarrista Daniel Kessler mostra estar em boa fase, longe de se limitar às por vezes enfadonhas texturas do gênero, para se embrenhar em evoluções mais sólidas.

É o que ele salienta na triste “Rest My Chemistry”, pinçada do pouco ouvido álbum “Our Love to Admire” (resenha aqui), e que dá um clima soturno ao, digamos, ambiente open air de um festival. E ainda em “The New”, num show de minimalismo que deixa o contrabaixo soltinho para fincar o som no climão de tristeza. Pós punk oitentista, pois não? Mas a tal pistaça de dança totalmente ao vivo, sem DJ que jamais será músico, acontece na genial batida de “PDA”, cortesia do bom baterista Sam Fogarino, que não perde a mão durante todo o show. Outras que levantam a turma é “Not Even Jail”, marcada por palmas, e a mais do que esperada/pedida “Slow Hands”, que arremata a apresentação em grande estilo. E olha que o Interpol nem precisou inventar muito para isso. Basta fazer o básico para se manter ativo após um recesso de motivação duvidosa. Com ou sem chuva.

Banks e asseclas não inventam e fazem uma boa apresentação, com grande participação da plateia

Banks e asseclas não inventam e fazem uma boa apresentação, com grande participação da plateia

Set list completo:

1- Say Hello to the Angels
2- Anywhere
3- Leif Erikson
4- Evil
5- Narc
6- Rest My Chemistry
7- Everything Is Wrong
8- The New
9- PDA
10- Not Even Jail
11- NYC
12- All the Rage Back Home
13- Slow Hands

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