O Homem Baile

Festa da firma

Menos importante nos Beatles e em sua própria banda, Ringo Starr omite repertório de novo disco e deixa o baile de covers seguir em frente. Fotos: Luciano Oliveira (1, 3 e 4) e Daniel Croce (2).

Ringo Starr no início do show, à frente da All-Starr Band, repleta de integrantes de outros grupos

Ringo Starr no início do show, à frente da All-Starr Band, repleta de integrantes de outros grupos

Uma festa de fim de ano da empresa com uma banda tocando ao vivo. Uma banda que anima os tripulantes de um cruzeiro marítimo. Um show da virada de ano de uma cidade repleta de turistas. Um regabofe na Casa Branca para comemorar a reeleição desse ou daquele político. Esse é o cenário do show da All-Starr Band, liderada pelo Beatle Ringo Starr, ontem no Vivo Rio, no Rio. A paisagem parece desoladora, mas o povão se empolga com o menos relevante dos fab four, e – diga-se – o menos importante em sua própria banda. Ringo canta mal, finge tocar bateria, quando acompanha Greg Bissonette, o titular da posição, e é fraquíssimo como frontman, sempre exibindo o símbolo de paz e amor que inclusive estampa sua camiseta. Mas ele é um Beatle, ora bolas, e essa é a salvaguarda que o mantém, aos 74, ainda se divertindo.

Ocorre que o repertório dos Beatles sequer é explorado convincentemente, com apenas quatro músicas tocadas. A melhor delas é “I Wanna Be Your Man”, mas o público canta mais forte e se diverte mesmo é com “Yellow Submarine” e os balões lançados ao ar. Ringo, com a formação atual da All-Starr Band, tem um disco inteirinho gravado, “Postcards From Paradise”, que será lançado no mês que vem, mas omite as músicas novas e opta por duas do álbum anterior, “Ringo 2012”. São elas “Wings”, em que o guitarrista Steve Lukather, do Toto, começa a colocar as manguinhas de fora, e a discreta “Anthem”, que não chega a comover o público, resguardado para músicas - digamos - mais conhecidas.

O tecladista e fundador da banda do guitarrista Carlos Santana, Gregg Rolie, tem direito a três números

O tecladista e fundador da banda do guitarrista Carlos Santana, Gregg Rolie, tem direito a três números

Como de hábito, o repertório é completado por músicas das bandas que revelaram os músicos desta que é a 13ª formação da All-Starr Band, e, também, diferente daquela que esteve no Rio há pouco mais de três anos (veja como foi). Assim, o tecladista Gregg Rolie, fundador e integrante da banda de Carlos Santana, tem direito a três números, sendo a clássica “Black Magic Woman”, pesada e bem arranjada, uma das melhores da noite. Sem Ringo no palco, Bissonette tem direito a um momento solo extraordinário, e mesmo sem a percussão da versão gravada, o arranjo faz a música crescer em todos os instrumentos. Lukather também esmerilha a guitarra e arranca aplausos do público que faz jus ao baile e dança no salão.

O dedo do guitarrista aparece não só nas três músicas do Toto incluídas na noite, mas em arranjos que favorecem um conceito musical dos bons. Imaginem que até a terrível “Broken Wings”, do Mr. Mister, cortesia do ótimo baixista Richard Page, é aperfeiçoada com um final instrumental de encher os olhos e os ouvidos. O público, miscigenado, lembra a programação das ditas rádios adultas quando “Africa” é tocada: todo mundo cantarola o refrão depositado sem querer na caixola. A cafona “Rosanna” não encontra na plateia a segunda voz que Steve Lukather espera, e cabe a “Hold The Line” mostrar o peso que uma banda como o Toto tem bem escondidinho em suas músicas. Compõem o elenco o guitarrista Todd Rundgren e o saxofonista faz tudo Warren Ham, cujas participações são quase sempre discretas.

Guitarrista do Toto, Steve Lukather, aparece junto com Ringo: fundamental nos arranjos das músicas

Guitarrista do Toto, Steve Lukather, aparece junto com Ringo: fundamental nos arranjos das músicas

As 24 músicas preenchem duas horinhas quase redondas e a performance do grupo agrada geral, seja pelas músicas mais conhecidas, ainda mais para um público do tipo genérico, ou pelo jeito que a banda, bem entrosada – diga-se – se comporta. E aí, no primeiro item os sucessos de Carlos Santana, as músicas obscuras dos Beatles, e esse ou aquele hit isolado se salientam. No segundo, palmas para a trinca Steve Lukather, Gregg Rolie e Gregg Bissonette, responsável pelas melhores passagens instrumentais, incluindo arranjos poderosos. Mas se num show de rock a última imagem é a que fica, a que o público leva para casa é a de Ringo com os dois braços erguidos cantando “Give Peace a Chance” e fazendo o símbolo de paz e amor. Sempre.

Set list completo:

1- Matchbox (Carl Perkins)
2- It Don’t Come Easy
3- Wings
4- I Saw the Light (Todd Rundgren)
5- Evil Ways (Willie Bobo/Santana)
6- Rosanna (Toto)
7- Kyrie (Mr. Mister)
8- Bang the Drum All Day (Todd Rundgren)
9- Boys (The Shirelles)
10- Don’t Pass Me By (The Beatles)
11- Yellow Submarine (The Beatles)
12- Black Magic Woman/Gypsy Queen (Santana)
13- Honey Don’t (Carl Perkins)
14- Anthem
15- You Are Mine (Richard Page)
16- Africa (Toto)
17- Oye Como Va (Tito Puente/Santana)
18- Love Is the Answer (Utopia)
19- I Wanna Be Your Man (The Beatles)
20- Broken Wings (Mr. Mister)
21- Hold the Line (Toto)
22- Photograph
23- Act Naturally
24- With a Little Help from My Friends/Give Peace a Chance (The Beatles/Yoko Ono)

O excepcional baterista Gregg Bissonette soube aproveitar o momento solo em 'Black Magic Woman'

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