Soltinha
Com carreira solo consolidada, Tarja se livra dos tempos em que era vocalista do Nightwish e voa livre. Fotos: Daniel Croce.
Quase 10 anos após ter sido despejada de um abrigo seguro, Tarja hoje é outra pessoa, outra artista. Foi-se aquela cantora soturna, tímida até, que veio ao Brasil pela primeira vez há 14 anos (fotos aqui e aqui) e mal sabia se comportar em um palco, a não ser batendo cabeça e fazendo o “Moloch” com os dedos. Hoje, amadurecida também pela maternidade, é uma performer solta que tem seus próprios passinhos de dança – um charme desajeitado, mas ainda assim um charme - e adota um estilo interpretativo, com forte gestual que dialoga com o público. E, também, tem um repertório mais consolidado e uma banda com músicos mais simples, porém eficientes, em que pese a chamativa presença do baterista Mike Terrana, só menos aplaudido a própria Tarja. Por isso o choro por músicas do Nightwish nem foi tão grande assim; o repertório próprio segura facilmente a plateia.
Entre as músicas novas, “Neverlight” e “Deliverance” são as que se saem melhor ao vivo. A primeira porque Tarja solta a voz de soprano de modo cristalino em meio as boas guitarras de Alex Scholpp e Julian Barret (sim, são dois!), e o refrão cola no gogó da plateia. E, a segunda, graças ao drama contido na canção, que empurra a performance para um crescente pomposo e grandiloquente de emocionar. Tarja é do tipo que pega emoção fácil, e logo se diagnostica o que se passa com a cantora no palco. Quase vai às lágrimas ao cumprimentar o público em bom português, antes de “500 Letters”, a segunda da noite, e em “I Walk Alone” chega a levar as mãos aos olhos na tentativa de se conter. Pode chorar, Tarja, a ideia não é essa mesmo?Nessa fase “soltinha”, Tarja se divide basicamente em dois modos de cantar. Um é usando o tom soprano vocacional, e o outro é como cantora de rock e música pop. Acaba se saindo bem nos dois e a ordem em que as músicas é concatenada contribui para que nenhum dos modos prevaleça completamente. Mas no bojo do show o que realça mesmo são as músicas do segundo álbum, “What Lies Beneath”, disparado o melhor dela (resenha aqui). Assim, a pérola pop “Until My Last Breath”, de esqueleto idêntico ao de “Nemo”, do Nightwish (não dá pra não citar) reforça um bonito dueto com o público; “Falling Awake” e seu ótimo refrão tem como bônus um convincente gestual da cantora e um contagiante duelo de guitarras no final; e em “Little Lies” Tarja chega a propor uma performance aeróbica até desnecessária, mas que fica bonito, isso fica.
O lado soturno aparece na cover para “Darkness”, de Peter Gabriel, cujo título já diz tudo, e que mostra o total desconhecimento da plateia, e em “Anteroom Of Death”, com mais vocal de soprano despejado, em meio a outro refrão grudento; não é que ela tá realmente aprendendo a lidar com o pop? O show também perde o pique por conta de muitos intervalos com falas e introduções pré-gravadas que nem sempre entram no tempo; Tarja usar três figurinos incluindo o microfone, uma de suas marcas. Mas o grande acerto é o bis, muito bem sacado, com a esquisita, mas boa “Victim Of Ritual” e um showzinho particular de Terrana; “I Wish I Had An Angel”, que ganha novos tons sem os vocais masculinos; a já citada “Until My Last Breath”, coisa linda; e “Over The Hills And Far Away”, é bom que se lembre, do mestre Gary Moore. Voa, Tarja. Voa alto!Set list completo
1- In for a Kill
2- 500 Letters
3- Little Lies
4- Falling Awake
5- I Walk Alone
6- Anteroom of Death
7- Never Enough
8- Jam instrumental
9- Darkness
10- Neverlight
11- Mystique Voyage
12- Die Alive
13- Deliverance
14- Medusa
Bis
15- Victim of Ritual
16- Wish I Had an Angel
17- Until My Last Breath
Bis
18- Over the Hills and Far Away
Tags desse texto: Tarja Turunen