Som na Caixa

Tarja Turunen

What Lies Beneath
(Universal)

tarjawhatO grande mérito de Tarja no preparo deste segundo álbum solo foi se manter cercada dos mesmos músicos que a acompanham desde o início dos shows da turnê do disco de estréia, “My Winter Storm”. Isso lhe garantiu uma espécie de “formação de banda” vital para atingir o entrosamento e os bons arranjos que prevalecem agora, neste “What Lies Beneath”. O outro ponto foi a escolha cirúrgica de compositores que lhe ajudaram a suprir a falta de Tuomas Holopainen, que, nos tempos do Nightwish, era o responsável por lhe dar músicas colantes. Entre eles, Johnny Andrews, que já forneceu músicas para Lacuna Coil e Apocalyptica – só para ficarmos em exemplos vizinhos.

Tem o dedo dele a pérola “Until My Last Breath”, não por acaso de estrutura idêntica a de “Nemo”, o grande hit do Nightwish. A música é uma das que aposta seriamente na banda de Tarja, muito embora o conceito nem esteja tão bem resolvido assim ao longo do CD. Oriunda da escola erudita que, de uma hora pra outra se viu no topo do mundo à frente de um grupo de um segmento forte como o heavy metal, Tarja carrega as duas referências e se desdobra para criar alternativas e acertar a medida nessa gororoba. Nem sempre, entretanto, consegue. Por vezes, no meio do disco, tem-se a impressão de que se trata de um trabalho erudito; noutras, soa “apenas” como mais uma banda de metal. Quando consegue juntar certinho as duas coisas é que o resultado se mostra eficiente. Acontece, por exemplo, em “Dark Star”, na boa “Little Lies”, na baladaça “Underneath” e na própria “Until My Last Breath”.

Nesse sentido, “What Lies Beneath” supera com larga vantagem “My Winter Storm”, disco que assemelha mais a uma trilha sonora de um filme qualquer do que a um trabalho somente musical, com diálogo entre as faixas. Em “What Lies Beneath” essa conversa existe com maior clareza, embora às vezes pareça uma espécie de torre de Babel. Tarja se guarneceu bem com o baixista Doug Wimbish, do Living Colour, e com o baterista Mike Terrana, mas precisa de um guitarrista mais incisivo que Alex Scholpp – ou, então, dar a ele mais espaço. Não é o caso de encher as músicas de solos sem fim, mas para contribuir mesmo com o andamento e a base das músicas, por vezes saturadas de arranjos operísticos e eruditos demais. É no equilíbrio entre as duas vertentes – metálica e erudita – que Tarja deve mirar.

As participações de Joe Satriani (“Falling Awake”), Phil Labonte, vocalista do All That Remains (“Dark Star”), e do baterista do Living Colour, Will Calhoun (“Crimson Deep”), não só enfeitam o pavão como apontam caminhos. Satriani mostra que uma guitarrinha mais pesada só ajuda, e com Labonte Tarja atualiza bons momentos da dualidade vocais doces versus agressivos, adotada em subgêneros do metal a partir de meados dos anos 90. Podem ser só casos isolados, mas, também, tendências. Já “Crimson Deep”, embora não seja um hit nato, no sentido “pop” de ser, se junta a “Until My Last Breath” como o ponto alto desse bom “What Lies Beneath” – disco que, se mostra evolução, deixa aberto um amplo espaço a ser ocupado. Cai dentro, Tarja!

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. janaina em abril 27, 2011 às 15:10
    #1

    Eu adoro rock mau, irado

  2. dani em setembro 5, 2011 às 9:53
    #2

    Eu gosto

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