Som na Caixa

Franz Ferdinand
Right Thoughts Right Words Right Action

(Sony)

franzferdinandrightA guinada que o Franz Ferdinand deu para rock dançante funcionou bem no álbum anterior, o bom “Tonight” (leia aqui), mas, dessa vez, o caldo engrossou. Se antes o grupo corria perigo ao testar a nova fórmula, na qual muitas vezes os arranjos se sobrepunham às composições, no limite do bom gosto, agora a fronteira, de fato, foi atravessada. Sai a clara inspiração no pós punk oitentista e entra uma estéril música de discoteca que descaracteriza completamente o quarteto que um dia renovou o rock em escala planetária. Mas que, agora, caminha a passos largos para o lugar comum da repetição.

Não é só o entorno, contudo, que faz desse “Right Action…” um disco de aroma ruim. Não há, a bem da verdade, boa canções nos parcos 35 minutos que somam as 10 faixas. Tem sim, músicas terríveis como “Stand On The Horizon”, onde não se houve o som de guitarra de jeito algum. Não no sentido do instrumento ser esmerilhado pra valer (nem seria o caso do Franz), mas como condutor de uma melodia minimamente agradável aos ouvidos. É uma sequência de bases – como se diz no xerocado hip hop – sem razão de ser que omite o DNA do grupo de uma forma deplorável. Outra que marca negativamente o disco é “Brief Encounters”, espécie de rascunho que parece mais uma versão mal ajambrada de um hit das antigas, já que não possível acreditar que a música é mal arranjada desse jeito mesmo que aparece no CD.

Outra pista para o desencontro do FF com sua própria trajetória é o fato de, nesse disco, o grupo ter trabalhado com nada menos que cinco produtores diferentes (sem contar a pré-produção), em algumas faixas com trabalho de duplas. Ok que a lista inclua integrantes do Hot Chip (nem tão ok assim) e do Peter Bjorn and John, e gente que está na ponta de lança da mistura de som contemporânea, mas essa distribuição de cotas seguramente retirou o que um álbum de verdade precisa ter: um mínimo de unidade. Fosse este “Right Action…” uma compilação de hits ou com novos remixes para músicas deixadas de lado no decorrer da carreira do quarteto escocês e essa variedade de produtores teria lá seu valor. Mas estamos falando do quarto álbum de uma das bandas mais relevantes para o rock - dançante ou não – pós anos 00.

Há, entretanto, em meio a um deserto de mau gosto, pontas de esperança. “Treason! Animals.”, por exemplo, sob os cuidados de Björn Yttling, já mostra ao que veio em uma deliciosa guitarrinha à B 52’s que abre a música e a acompanha como quem não quer nada até o final. E tem ainda um refrão dos bons, de lembrar os melhores momentos do FF de 10 anos atrás (já?). O sotaque dance pesado de “Love Illumination” também não retira da música suas qualidades cativantes, num belo exemplo de como, com boas canções, é possível enveredar por qualquer flanco, por mais árido que seja o caminho. Até a apenas razoável “Fresh Strawberries” se sairia bem se este disco fosse um pouquinho só mais inspirado nas composições e tivesse o capricho mais apurado de uma produção minimamente unificada. Ou seja, nem tudo está perdido.

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. ROLF AMARO em janeiro 10, 2014 às 8:58
    #1

    Suspeitei desde o princípio de que eles estavam em uma fase estranha. O último show deles aqui no Lolla, que foi bem estrnaho; esse single novo… Se bobear, umas férias e um trabalho mais tradicional nos arranjos cairia bem a eles.

  2. bruno piller em janeiro 10, 2014 às 18:08
    #2

    Está tudo errado o que você quis falar, o disco está uma beleza e ficou em 24o na parada da Billboard. Acho que se fosse ruim ninguém iria comprar.

  3. Lucas Barboza em janeiro 12, 2014 às 12:08
    #3

    Virou site de comédia isso aqui?

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