Som na Caixa

Alice In Chains
The Devil Put Dinosaurs Here

(EMI)

aliceinchainsthedevilPoucas bandas conseguem voltar à ativa depois de tanto tempo mantendo suas características básicas como o Alice In Chains. Ainda mais com a substituição de uma peça vital como o vocalista da formação original, Layne Staley. A conclusão já foi tirada quando o grupo lançou o bom “Black Gives Way to Blue”, disco que marcou o retorno, há quatro anos, mas continua neste “The Devil Put Dinosaurs Here”. Isso porque o quarteto, que tem William DuVall no lugar de Staley, prossegue fazendo boas músicas e se mantém fiel ao estilo que lhe é peculiar, mergulhando cada vez mais num mundo obscuro, sombrio, paranoico até. O resultado – de novo – é um álbum denso, pesado, indigesto e duro na queda.

Vale a ressalva de que Nick Raskulinecz, um dos nomes mais bem sucedidos da nova safra de produtores de rock, da “escola Foo Fighters”, que já havia colocado as mangas de fora em “Black Gives…”, foi sabiamente chamado para cuidar de “The Devil…”. E que, para quem pegou o bonde andando, DuVall preenche muito bem o posto de Layne Staley, mas isso só é possível graças às vocalizações dobradas feitas em parceria com o guitarrista Jerry Cantrell. Assim como fazia nos temos em que o quarteto original arrebentava com hits como “Man In The Box” e “Them Bones”, Cantrell é quem “encorpa” o trabalho final de DuVall, que tem – ele próprio – o mérito de ter o tom/timbre de voz dos mais apropriados para cantar no Alice In Chains.

Configurado o entorno, cabe às boas composições a ilustração da boa fase mantida neste disco. A trinca inicial já seria motivo de exaltação por si só. “Hollow” (o primeiro single), “Pretty Done” e “Stone” (o segundo) formam um bloco maciço de guitarras e bom gosto que é um achado. Repare que nenhuma das três, embora formem um cartão de visitas do álbum, têm qualquer compromisso em ser cativante para conquistar o ouvinte de primeira. Ao contrário, puxam o coitado para um terreno pantanoso e inseguro no qual o que vale é uma espécie de tortura psicológica/sonora que, paradoxalmente, lança seus desafios.

O riff lento de “Hollow” faz a música ser toda arrastada e um refrão martelante abre guarda para um belo solo de Cantrell. Em “Pretty Done” é usado um artifício comum ao grupo, o de inserir sutis mudanças de andamento da melodia, o que contribui para torná-la mais interessantes, em que pese o andamento igualmente arrastado. O feito acontece ainda na irmã “Stone”, esta guiada por uma linha de baixo sabbathiana que também aposta no riff, na base pesada e no andamento arrastado para se fixar em qualquer incauto que apareça pela frente. Mas é em “Breath On a Window”, mais para a frente, que o disco vê seu apogeu nesta fórmula. A música, uma das poucas de contornos mais pop, logo se vê “invertida”, primeiro sutilmente no refrão, e, depois, numa abrupta mudança de andamento que aponta para um trecho suave e deságua numa espetacular evolução de guitarras até o encerramento. “Low Ceiling”, em menor escala, também tem essa virtude.

O riif seco e na cara de “Phantom Limb”, que conduz a música com peso inabalável, também pode entrar no rol dos destaques, mas o que faz “The Devil Put The Dinosaurs Here” um dos grandes discos de 2013 não é essa ou aquela faixa que ganha realce por um ou outro motivo. É que o Alice In Chains mostra que há um conceito musical por trás do grupo e – sobretudo – desse disco. Não estamos diante de um apanhado de referências; aqui tudo já foi ouvido, digerido e colocado para fora com uma assinatura. O sujeito ouve aleatoriamente um trecho de qualquer faixa – não precisa ser fã de longa data - e sabe do que se trata, num trabalho autoral de verdade, com A maiúsculo.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. PABLO CAIADO em maio 19, 2014 às 14:40
    #1

    Concordo com a autenticidade do grupo, porem acho que já deu.
    Esse álbum parece uma continuação do “Black Gives …” a ponto de algumas musicas parecerem sobra de estúdio.
    Eles precisam fazer algo um pouco diferente no próximo álbum, talvez menos arrastado mas ainda denso e pesado na medida certa (álbum “Dirt”).
    Sei que é complicado e concordo quando diz sobre a permanência das características da banda ao longo de todos esses anos, mas é o que eu gostaria de voltar a ouvir.

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