Som na Caixa

Megadeth
Super Collider

(Universal)

megadethsuperNão é de hoje que o Megadeth vem tentando – e com sucesso - impingir um sotaque mais pop em suas músicas. Não no sentido se ser pejorativamente mais “comercial”, mas no de compor músicas mais colantes, como, aliás, já faz a matriz Metallica há muitos anos. Por isso a manutenção do produtor Johnny K, que também assina o disco anterior, “Th1tr3en”, mais preocupado com o poder de fogo das composições do que com a engenharia da coisa, foi fundamental. A tese já foi confirmada pelo baixista David Ellefson (veja aqui), o que faz deste “Super Collider” mais um bom trabalho do Megadeth.

O bom nessa história é que a feitura de músicas mais cativantes não faz o som do grupo perder o peso indispensável para uma banda histórica no thrash metal mundial, sendo que o resultado de cada faixa, no fim das contas, depende da medida em que esses dois flancos de ingredientes não dosados. O single “Super Collider”, por exemplo, com bela melodia e andamento mais lento, é um chiclete dos bons, embora exista quem reclame de a música não ser tão pesada assim. Bobagem: trata-se de um cartão de visitas pra lá de especial para o álbum, assim como “Public Enemy Nº 1” foi em “Th1tr3en”. Andamento simples, refrão de fácil memorização, bela melodia e peso relativo em poucos minutos de puro deleite. Não é mera semelhança o parentesco entre elas.

Embora o chefão Dave Mustaine esteja no comando de tudo relativo ao Megadeth, e ainda estar em grande fase como compositor, este é o segundo álbum do grupo com a mesma formação, depois da volta de Ellefson, e o terceiro com o guitarrista Chris Broderick (com quem Mustaine se dá muito bem musicalmente) e o baterista Shawn Drover. Parece pouco, mas é o que ajuda a garantir um entrosamento que resulta em boas passagens instrumentais e arranjos certeiros que contribuem decisivamente para o fator “acessível” de boa parte das músicas. Ouça a alarmante “Kingmaker”, que abre o disco com um belo refrão, a lenta, riffônica e tensa “The Beginning Of Sorrow”, e a agradável “Forget to Remember”, e perceba como a coisa vai bem com o quarteto, afiadíssimo.

Mas há, também, músicas em que o peso pesado se sobrepõe sem dó, para a alegria de quem pouco se importa com o emblema boa música, nas horas em que a tal receita tem certa instabilidade. É o caso da pedrada “Built For War”, com riff de raiz thrash e andamento nervoso, da complexa “Burn!” e da surpreendente “Don’t Turn Your Back…”. Nessa corda bamba o disco se movimenta, encorajando gregos e troianos à pacífica convivência da boa música, com peso e agressividade, desafiando os ouvidos menos atentos a um pouco de reflexão. O brinde final – unanimidade – é a agradável versão megadethiana para “Cold Sweat”, clássico do Thin Lizzy. Belo desfecho.

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