No Mundo do Rock

Boa forma

No primeiro disco depois da volta do baixista Dave Ellefson, Megadeth produz músicas mais palatáveis, sem deixar se fora o peso que lhe é peculiar. Íntegra da entrevista para a matéria publicada na Billboard de novembro de 2011. Fotos: Divulgação (1 e 3 ) e Marcos Hermes/Divulgação (2).

Megadeth versão 2011: David Ellefson, Dave Mustaine, Shawn Drover e Chris Broderick

Megadeth versão 2011: David Ellefson, Dave Mustaine, Shawn Drover e Chris Broderick

Depois da tempestade, a bonança. No início de setembro, o líder do Megadeth, Dave Mustaine, precisou agendar um horário na mesa de operações para dar um jeito na coluna que o incomodava durante os shows. A preocupação era tanta que boatos davam conta de que a turnê que passou por aqui no SWU (veja como foi) poderia melar. Antes, no início da turnê do álbum anterior, “Endgame”, o baixista David Ellefson, com quem Mustaine brigava até na justiça, fez as pazes com o grupo e voltou com a corda toda, e tudo desaguou na involuntária turnê mundial dos 20 anos do álbum “Rust in Peace”, que, sim, também passou pelo Brasil (leia aqui). Completam o grupo Chris Broderick (guitarra) e Shawn Drover (bateria).

Agora, com o bom álbum “Th1rt3en”, apesar do título esquisito, a banda volta com riffs colantes e melodias certeiras que apontam um necessário encontro com o pop, sem que o peso inerente ao metal seja descartado. Numa conversa com este Rock em Geral, Ellefson não só assina embaixo da afirmação como reivindica para ele próprio o bom resultado do álbum. Era para ser uma entrevista longa, com réplicas e muita gaveta do passado revirada, mas a agenda apertada da banda, às vésperas de a turnê começar, limitou o tempo a ponto de o baixista se enrolar com tantos telefones para atender ao mesmo tempo. O que se salvou está aqui embaixo, incluindo questões superadas como o set list do show do SWU. Olha só:

Rock em Geral: Antes de qualquer coisa, está tudo bem com o Mustaine? Ele está se recuperando bem?

David Ellefson: Sim, está tudo bem com ele, já está andando normalmente, em boa forma de. Ele já está tocando normalmente, acabamos de gravar o clipe (assita aqui), para a música “Public Enemy Nº 1”, que é o primeiro single do novo álbum.

REG: Havia a notícia de que eventualmente a turnê seria cancelada…

Ellefson: São notícias falsas, vamos fazer a turnê, não acredite nessas notícias.

REG: Sobre essa turnê, já que temos um álbum novo, quais músicas vocês pretendem tocar? Mais músicas novas que antigas?

Ellefson: Nem tanto. Queremos mostrar o novo álbum, mas como o disco é muito novo, as pessoas talvez não conheçam o bastante dele. Então faremos duas ou três músicas novas, as mais conhecidas que estamos soltando na internet. Os fãs do Megadeth sabem o que eles querem ouvir: os clássicos. Temos umas 20 músicas que todos querem ouvir e sabemos que temos a obrigação de tocar essas músicas, mas também queremos mostrar as novas, porque nos divertimos com elas.

REG: Você pode adiantar quais músicas devem fazer parte do set list?

Ellefson: Músicas como “Holy Wars”, “Hangar 18”, “Symphony of Destruction”, “Peace Sells”… músicas que achamos que todo show do Megadeth deve ter, senão os fãs ficam putos. São músicas que definem o Megadeth. Mas quando um novo álbum sai, colocamos as mais novas. Na turnê do “Endgame” colocamos “Head Crusher” e “How The Story Ends”. As vezes tocamos “A Tout le Monde”, “In My Darkest Hour”. Sempre envolve a participação do público, tentamos olhar para os últimos shows e vamos adaptando, porque não gostamos de tocar o mesmo show que tocamos da última vez. É importante mudar para manter o show empolgante para os fãs.

REG: Pois é, da ultima vez que vocês tocaram no Brasil, era a turnê da íntegra do “Rust in Peace”, o que foi ótimo, mas, ao mesmo tempo, não houve tempo para mostrar as músicas novas…

Ellefson: A intenção era tocar a íntegra do “Rust In Peace” só por um mês, nos Estados Unidos, mas assim que começamos a turnê, todo mundo no mundo todo começou a pedir, a implorar que fizéssemos esse show em todos os lugares. E aí os promotores começaram a pedir que colocássemos no contrato que a banda iria tocar o “Rust in Peace”. Nos sentimos muito lisonjeados ao saber que temos um disco que gera toda essa comoção. Acabamos fazendo, “sem querer”, uma turnê mundial com esse disco, apesar de estarmos na turnê do “Endgame”. Fizemos o melhor que pudemos, tivemos que tirar algumas músicas do “Endgame” do set list, mas tocamos o máximo que pudemos, trocando de uma música para outra desse disco a cada noite.

David Ellefson: de volta ao lugar de onde não devia ter saído

David Ellefson: de volta ao lugar de onde não devia ter saído

REG: Você acha que este novo álbum, “Th1rt3en”, é uma sequência do “Endgame”?

Ellefson: Não, mesmo porque eu não gravei o “Endgame”. Como um sujeito que vê de fora, para mim um disco não parece mesmo uma sequência do outro. Acho que é outro degrau. “Th1rt3en” é um disco que traz de volta elementos clássicos do Megadeth, que estavam nos álbuns dos anos 90, como o “Countdown to Extinction”, mas, ao mesmo tempo… Bem, o “Endgame” tem uma abordagem pesada, e o “Th1rt3en” tem um som mais orgânico. Talvez isso tenha acontecido porque trocamos para o produtor Johnny K, mas eu acho que isso vem de uma sensação natural que aparece no “Th1rt3en”. Você encontra coisas que provavelmente já ouviu em discos antigos do Megadeth, em algum momento, só que isso aparece de uma forma mais atual, contemporânea.

REG: Você acha que o produtor realmente faz tanta diferença? Porque o Mustaine sempre tá ali do lado mesmo…

Ellefson: Acho que nesse caso, sim, porque o processo de produção foi realmente muito fácil e muito rápido com o Johnny K e com o Dave. Acho que dessa vez houve uma agenda diferente. Viemos de uma turnê mundial e então começamos a ensaiar e compor as músicas. Às vezes fazíamos uma demo, e logo gravávamos. Esse processo costuma levar um ano, para fazer um disco. E, também, como banda, você leva mais tempo nas canções. Mas nesse disco, em particular, nós saímos de um show da “Big Four”, na Califórnia, e entramos direto no estúdio. Tínhamos ideias como banda, já vínhamos tocando essas coisas juntos, mas quando Johnny e Dave começaram a trabalhar juntos, juntando as coisas, tudo fluiu. Shawn (Drover) colocou a bateria, eu botei o baixo, finalizamos as guitarras e vocais… esse foi um processo muito mais espontâneo e as ideias foram muito mais resolvidas na hora, o que eu acho que é parte da coisa mais legal desse disco. E, num nível maior, foi uma coisa muito nova, sem ter muito tempo para nos prendermos a padrões, na hora em que cada um foi gravar as suas partes. E isso criou uma atmosfera de perigo e excitação, e é esse o Megadeth. Ás vezes demoramos muito temo para gravar e o disco não sai lá essas coisas.

REG: Nos últimos tempos o Megadeth tem feito músicas mais cativantes, mais colantes. Vocês conversam sobre como fazer músicas do heavy metal terem um sotaque mais pop, no sentido positivo do termo?

Ellefson: Sim, sim, eu concordo com você. E eu acho que, nesse álbum, especialmente comigo de volta na banda… Foram três álbuns feitos sem que eu estivesse na banda, e toda a vez que eu ouço… Você sabe, eu entendo o que eles vinham fazendo, mas eu e o Dave temos uma história juntos. O iniciozinho do Megadeth, os dias de glória do Megadeth… vivemos juntos períodos em que tocar heavy metal não era honestamente divertido. A música de Seattle, o nu-metal e todos os tipos diferentes de música surgiram. O Megadeth e o thrash metal deixaram de ser interessantes, e, agora, é interessante de novo. É o que acontece quando você tem uma banda que dura 20 anos. Eu acho que Dave e eu somos os dois caras na banda que vivemos todas essas experiências. Para mim eu realmente sinto que esse é um disco no qual nós não podemos ter medo de cair nessas armadilhas de novo. Cada disco, incluindo os que eu não toquei, tem grandes músicas e grandes riffs, mas parece que esse era o momento de trazer de volta as melodias colantes e quase pop, riffs mais simples e divertidos, como temos em “Public Enemy Nº 1”. E ao trazer isso de volta, eu acho que o Johnny K fez um bom trabalho.

REG: Havia questões jurídicas entre você e o Dave antes do seu retorno à banda. Como vocês resolveram isso? Acha possível o retorno de Nick Menza e do Marty Friedman, já que muitos consideram essa como a melhor formação que a banda já teve?

Ellefson: Sobre as questões com o Dave, tudo isso faz parte do passado, tudo já foi resolvido. E se há chance para Marty e Nick Menza voltarem? Bem, eu não vejo isso acontecer. Nada é impossível, mas todas as formações têm pontos altos. E essa de agora – e não é a minha opinião - quem nos viu ao vivo este ano acha é agora que o Megadeth está provavelmente no melhor de sua forma. O meu lema é: se funciona, não quebre e não conserte.

A formação desejada, com Nick Menza e Marty Friedman: realmente melhor que a atual?

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