O Homem Baile

No talo

Palma Violets reduz palcão do Planeta Terra a mezanino de clube londrino; o Terno oscila entre bons momentos instrumentais e más referências. Fotos: Fabrício Vianna/Popload.

Porrada: a duplinha Alexander Jesson e Samuel Thomas Fryer no comando do nervoso Palma Violets

Porrada: a duplinha Alexander Jesson e Samuel Thomas Fryer no comando do nervoso Palma Violets

As rosas brancas distribuídas pelos integrantes do Palma Violets no início do show, no palco secundário do Planeta Terra, teriam feito mais sucesso se entregues aos fãs floridos de Lana Del Rey, ali do lado, no palco principal. Mas a apresentação do quarteto britânico, a primeira de uma banda internacional do festival, que aconteceu no último sábado (9/11), não vai ficar na memória só pela simpatia do gesto “fofo”. Ao contrário, é a crueza sonora que marca a performance da única banda de fora não veterana no festival, à exceção da própria Del Rey.

De cara, o quarteto reduz o tamanho no palcão concentrando os instrumentos no centro, de modo que a sensação é de que estão tocando em um dos clubes do circuito londrino que lhe dão respaldo para atravessar o Atlântico e aterrissar no Campo de Marte. E o som que sai das caixas revela uma crueza punk à The Clash – já em “Invasion Of The Tribbles”, o novíssimo single – com Samuel Thomas Fryer e Alexander Jesson, respectivamente guitarrista e baixista, fazendo às vezes de Joe Strummer e Mick Jones sem o menor constrangimento. A pauleira é tanta que o tecladista Jeffrey Peter Mayhew mal consegue ser ouvido, não por causa da boa qualidade do som, uma das virtudes do festival, mas pelo esporro produzido pelos outros três – o batera William Martin Doyle senta o braço sem dó.

As músicas são curtas, sem espaço para solos ou qualquer firula instrumental, e há outras identificadas com o Clash, como “Tom the Drum”, em que a banda quase destrói os instrumentos, como se fosse o final do show; a riffônica “Best Of Friends”, numa versão mais pesada do que a que abre o único álbum deles, “180”, com Jesson se esgoelando bonito no microfone; e a urgente “Goat Gang Go”. O sol batia forte àquela altura da tarde, mas o quarteto não para; imagine um show dos caras num lugar menor, fechado e com o público empoleirado… No fim, dada a fugacidade repertório, ainda sobra tempo para um bis com duas (!) músicas. A julgar por esse show vespertino, taí uma banda que vale à pena acompanhar para ver no que vai dar.

O guitarrista Tim Bernardes, d'O Terno: trio precisa se livrar das más referências para seguir no rock

O guitarrista Tim Bernardes, d'O Terno: trio precisa se livrar das más referências para seguir no rock

Mais cedo, o palco principal era estrelado pela banda O Terno, revelação da nova safra brasileira. O trio, de grandes dotes instrumentais, fez um show com músicas do elogiado álbum de estreia, “66”, incluindo a faixa-título, mas ainda mostrou composições novas, como “Sonho”, carregada de psicodelismo na parte final, e “Blood Stains”, uma bela sacada, com letras em inglês. O forte deles, no entanto, não são as composições, mas o instrumental, na maior parte do tempo criativo e com muitas “improvisações” umbilicadas com o classic rock à anos 60/70. No show, duas covers engrossam o repertório: “Canto de Ossanha”, símbolo dos afro-sambas de Vinicius e Baden Powell, e “Trem Azul”, de Milton Nascimento e Lô Borges.

Parece pouco, mas são referências que associam o trio à mpb, contribuindo para a tragédia indie que há tempos assola o rock nacional (e de fora também). Soma-se, ainda, o fato de o grupo ter gravado com Tom Zé – uma das músicas, a fanfarra ignóbil “Papa Francisco”, foi tocada – e as influências do duo Mulheres Negras (o guitarrista Tim Bernardes é filho de Maurício Pereira). Cabe ao trio, que é novo e cheio de gás, ter o discernimento de se afastar dessa turma para tocar a carreira como grupo de rock. Se não, periga virar um clone do Do Amor, cujo drama é ter bons músicos e só produzir material de gosto duvidoso.

A infeliz decisão de manter a interseção de horários, num festival de “apenas” dois palcos, defeitão do Planeta Terra, impediu este repórter de conferir os shows completos de Lana Del Rey (veja como foi no Rio), The Roots, BNegão e Clarice Falcão. Esta ainda deu azar, já que, assim que o show d’O Terno terminou, a apresentação dela tinha se transformado numa esquete do manipulável “Porta dos Fundos”. Mais uma cantora sem tempero pra que? Já BNegão detonou o palco principal com o bailão funk de raiz e outras porradas com muita propriedade e as participações da lenda Paulão e de indies rebolantes no final do show; isso deu para ver lá do outro palco mesmo. Já os shows do dançante Hatchets e do pesadão Muddy Brothers não deu para ver porque não havia quem permitisse o ingresso da imprensa no Campo de Marte no horário adequado. Uma pena.

BNegão e Os Seletores de Frequência numa espécie de bailão funk durante a matiné ensolarada do Terra

BNegão e Os Seletores de Frequência numa espécie de bailão funk durante a matiné ensolarada do Terra

Set list completo Palma Violets:
1- Invasion of the Tribbles
2- Rattlesnake Highway
3- All the Garden Birds
4- Last of the Summer Wine
5- Tom the Drum
6- Chicken Dippers
7- Best of Friends
8- Step Up for the Cool Cats
9- Goat Gang Go
10- We Found Love
11- Johnny Bagga’ Donuts
12- 14
Bis
13- Scandal
14- Brand New Song

Set list completo O Terno:
1- Zé
2- Não Preciso
3- Harmonium
4- Canto de Ossanha
5- Morto
6- Papa Francisco
7- Blood Stains
8- Sonho
9- 66
10- Trem Azul
11- Tic Tac

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