O Homem Baile

Encontro feliz

Na primeira vez no Brasil, Travis repassa carreira para público pouco interessado no Planeta Terra. Fotos: Fabrício Vianna/Popload.

Estreia: Fran Healy e um de seus queridos violões impulsionam o primeiro show do Travis no Brasil

Estreia: Fran Healy e um de seus queridos violões impulsionam o primeiro show do Travis no Brasil

Seguramente os integrantes do Travis jamais imaginaram que, um dia, as músicas que eles fizeram na fria Glasgow seriam tocadas num entardecer ensolarado daqueles no Brasil, e que, essas mesmas músicas, ainda assim, iriam funcionar. Mas, senão fosse assim, as músicas dos Beatles jamais conquistariam o mundo extramuros da cinzenta Liverpool. Só que o Travis, apesar da ênfase nas canções, não é Beatles, e o quarteto encarou o sol de frente no Planeta Terra, no sábado (9/11), sem perder a pose ou tirar casacos e suéteres em cerca de uma hora e meia e – ufa! - 20 músicas que deram uma geral na carreira que já passa de, no total, 23 primaveras.

Estranha-se o pouco público à frente do palco principal do festival, considerando que o Travis jamais esteve no Brasil, muito embora tenha sido uma constante o desinteresse no segmento apontado pelo Planeta Terra em todo o evento; mesmo o Blur, atração principal e que tocou sem outro show em paralelo, não lotou o local. Nada que tirasse a empolgação do Fran Healy, o frontman que é o cabeça do grupo. Empolgação o modo de dizer, uma vez que, além das delicadas canções, a marca do Travis é justamente uma atraente timidez, só superada nos momentos de maior empolgação por parte da plateia. E no Brasil, sabemos todos, sempre há quem se entregue, aos prantos, numa beirada de palco.

Healy e o baixista Dougie Payne em uma das performances do Travis no show do Planeta Terra

Healy e o baixista Dougie Payne em uma das performances do Travis no show do Planeta Terra

Por isso, Healy não demora a descer no fosso que separa o público do palco, e sobe nas costas de um dos seguranças para cantar de pertinho “Where You Stand”, o single que dá título ao novo álbum e é surpreendentemente aconpanhado pela turma do gargarejo. Explica-se que o grupo andava meio paradão – cinco anos sem lançar nada - e que este ano voltou ao mercado fonográfico. A música é que tem melhor aceitação, ao vivo, entre as quatro novas, muito embora assovio de “Reminder” tenha inspirado um insuspeito cantarolar em setores do público. Enquanto os encasacados Andy Dunlop e Dougie Payne, respectivamente guitarrista e baixista, seguem em tímidas performances sugeridas pelas próprias músicas, cabe então a Healy puxar palmas e sugerir coreografias aeróbicas, como em “Love Will Come Through”, do discreto álbum “12 Memories” (2003), usada também na trilha do filme “Vida Que Segue”.

Metade do repertório sabiamente vem dos álbuns “The Man Who” (1999) e “The Invisible Band” (2001), os mais bem sucedidos do grupo. Em “Side”, o refrão colante é cantado por boa parte do público, o que leva Dunlop a empunhar a guitarra exageradamente na beirada do palco, num dos bons momentos do show. A dissimulada “Blue Flashing Light” começa no estilo violãozinho de Healy e deságua numa das melhores performances do grupo, arrojada e pesada, para os padrões do Travis. Colada nela, “Turn” fecha o que se pode chamar de auge do set – cheio de altos e baixos, diga-se - com Frank Healy forçando o gogó pra valer.

Por que não tem cerveja para mim? Enquanto Healy solta a voz, o guitarrista Andy Dunlop toma um gole

Por que não tem cerveja para mim? Enquanto Healy solta a voz, o guitarrista Andy Dunlop toma um gole

O que parece ser o final é a reunião dos quatro escoceses para cantar, juntos e abraçados, a versão acústica para a bela “Flowers In The Window”, mas ainda faltava a tristonha (já no título) “Why Does It Always Rain On Me?”. Essa sim impulsionou o coral, menor aquela altura, graças a outra mazela do festival, a interseção de horários dos shows, algo inexplicável quando se tem “apenas” dois palcos. Se a música, embora hit, pouco funciona para um encerramento de show, coube a “Happy” cumprir esse papel, e de modo significativo para público e banda, que nunca haviam se encontrado antes, ali, cara a cara. Que esse encontro feliz não tarde a se repetir.

Set list completo:

1- Mother
2- Selfish Jean
3- Pipe Dreams
4- Moving
5- Love Will Come Through
6- Driftwood
7- Re-Offender
8- Where You Stand
9- My Eyes
10- Reminder
11- Writing to Reach You
12- Side
13- Closer
14- Sing
15- Slide Show
16- Blue Flashing Light
17- Turn
18- Flowers in the Window
19- Why Does It Always Rain On Me?
20- Happy

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