O Homem Baile

Meloso

Em estreia acovardada, Nickelback dá banho de água com açúcar no Rock In Rio. Fotos: Léo Corrêa.

Um Chad Kroeger satisfeito comandou o Nickelback com um sem número de pseudo baladas

Um Chad Kroeger satisfeito comandou o Nickelback com um sem número de pseudo baladas

A expressão de satisfação de Chad Kroeger, o cara por trás do Nickelback, diante do enorme público do Rock In Rio, nesta sexta (20/9) era flagrante. Não que o grupo não seja grande o bastante no exterior, mas, a julgar pelo tom de agradecimento e – até – espanto ante à aceitação dos brasileiros, o quarteto parecia estar morrendo de medo ao pisar no palcão do festival. Só isso pode explicar um repertório com prioridade total em pseudo baladas que deram fama aos canadenses: o temor de não ser exatamente bem recebido. É o que dá ficar dando credibilidade demais às manchetes de jornais, muitas vezes maldosas com o Nickelback.

A abertura não decepcionou, com “Animals”, uma das porradas que o grupo costuma levar nas turnês, mas depois o que se viu foi um coletivo de canções do tipo água com açúcar que não havia diabo pai do rock que desse jeito. Que fique claro que balada, com início lento, crescente no meio e final porrada, com todos os instrumentos no talo, nada tem a ver com músicas como “Photograph”, cuja melodia é até interessante; “Far Way” ou mesmo o hitaço “How You Remind Me”. É normal e necessário que os grandes sucessos de um grupo quem vêm ao Brasil pela primeira vez prevaleçam no set list, mas não só eles, e muito menos só músicas desse tipo.

O guitarrista Ryan Peake e Chad Kroeger conversam e apontam para o público durante o show

O guitarrista Ryan Peake e Chad Kroeger conversam e apontam para o público durante o show

Para se ter um ideia, do disco mais recente, “Here And Now”, de 2011, só “When We Stand Together” foi incluída. Se não é uma das mais babas, também está longe do peso que o grupo, sim, vem buscando nos trabalhos mais recentes. Registre-se que o Nickelback é filho legítimo do pós-grunge americano (embora do Canadá), mas vem buscando sair desses limites há tempos, de modo a flertar com o que vem sendo chamado de “novo hard rock”. Daí o estranhamento de um repertório a passos largos para trás. Um dos mistérios da humanidade rock’n’roll, aliás, é o porquê de o pós-grunge e adjacências não ter se perpetuado no Brasil, terra onde Pearl Jam, berço involuntário do subgênero, reina de um extremo a outro entre os entusiastas do rock.

Mas são questões que seguramente não passavam pela cabeça da plateia, que recebia o açúcar em quantidades cavalares sem medo do diabetes. Enquanto a cantoria rola solta, Kroeger puxa piadas internas com outros integrantes e mantém a tal cara de satisfação, concluindo que a coisa não é tão feia quanto parece, e que o tais amigos que ele citou estavam certos ao dizer que vale à pena tocar no Rio. Mas há, sim – sempre há – o que se salva. O riff de “Something in Your Mouth”, uma das primeiras, é uma excelente condução que permeia toda a música; “Too Bad”, quase na metade do set, reserva o primeiro solo de verdade, quando enfim o guitarrista Ryan Peake aparece; e – por fim – a ótima “Figured You Out”, com pegada nu-metal, também faz o povão cantar. Prova de que dá pra fazer bonito sem ser meloso o tempo todo.

Set list completo:

1- Animals
2- Something in Your Mouth
3- Photograph
4- Far Away
5- When We Stand Together
6- Savin’ Me
7- Too Bad
8- Someday
9- Side of a Bullet / Because of You
10- Gotta Be Somebody
11- Rockstar
12- Figured You Out
13- How You Remind Me
14- Burn It to the Ground

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Tamires Sol em setembro 21, 2013 às 13:20
    #1

    O problema do show ser meloso foi realmente tentar levantar a plateia que só estava lá por conta no nome do festival e não para prestigiar a banda, pois se fosse um show fechado só da banda, eles com certeza iriam brincar e ousar com seu extenso repertório.

  2. Márcio Mello em setembro 21, 2013 às 19:41
    #2

    As duas primeiras músicas me surpreenderam positivamente, por tudo de ruim que havia lido da banda, gostei mesmo, mas a partir da 3ª o show ficou, realmente, com a glicose elevada.

  3. Igor em setembro 23, 2013 às 11:18
    #3

    O pior é que as duas músicas mais pesadas que eu já ouvi deles foram usadas ridiculamente na hora do canhão de camisas. Se “Side of a Bullet” (inspirada em Pantera) e “Because of You” tivessem sido tocadas na íntegra, o show teria sido bem diferente. Mas devo confessar que com a decepção que foi o show do Bon Jovi, o do Nickelback levou a noite pra mim.

  4. Mariane Fonseca em setembro 23, 2013 às 12:14
    #4

    Concordo com a Tamires. Quem ouve mais do que “Far Away” e faz mais do que criticar o que não conhece sabe que a banda tem pegada muito diferente quando faz shows sozinha. Ali, de fato, era um risco. Principalmente à sombra do Bon Jovi. Por mais meloso que tenha parecido, foi acertado. A banda não podia correr riscos. E provavelmente encantou muito mais do que o headliner em si. Digo porque estava lá. De todo jeito, a crítica foi coerente. Embora no título e na legenda tenha pegado pesado como o resto da imprensa. Não se pode culpar a banda, portanto, pelo “acovardamento”.

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