O Homem Baile

Deu liga

Resultado de ensaio e estrada, fusão de Autoramas com BNegão no Rock In Rio faz nascer super banda de rock de contornos viscerais. Fotos: Léo Corrêa.

Muito mais que um rapper, BNegão soltou a voz e cantou pra valer, além de tocar guitarra

Muito mais que um rapper, BNegão soltou a voz e cantou pra valer, além de tocar guitarra

Poucos artistas emblematizaram tão bem o tal conceito do Palco Sunset, do Rock In Rio, como Autoramas e BNegão. Se a idéia é fundir estilos, os shows já realizados pela duplinha, antes do festival, contribuíram generosamente, de modo que o que se viu na abertura dos trabalhos, no sábado (14/9) foi o nascimento de uma nova banda. E, ainda, conta o fato de ninguém ali ser garoto, todos têm bagagem suficiente como músicos e – principalmente – como fãs de rock desde a primeira troca de fraldas, fator decisivo na escolha de um repertório ao mesmo tempo singular, de bom gosto e atraente.

Ou seria possível, por exemplo, a inclusão de “Psycho”, dos Sonics, junto com “Let’s Groove”, do Earth, Wind and Fire, no mesmo set, não fosse o quarteto entendedor do riscado? “Só a gente mesmo pra colocar um Sonics no Rock In Rio”, se gabava Gabriel, enquanto as filas do lado de fora estravazavam cada vez mais público para o show, no ingrato horário das 14h40. Mas alguém tem que fazer o serviço e a banda deitou e rolou. Primeiro, porque as músicas, mesclas do rock garageiro do Autoramas com o funk de raiz de BNegão, e com a adição de covers cirúrgicos, ganharam certa unidade voltada para o rock pesado, sem parecer com nenhuma das bandas originais. Pense que até BNegão tocou guitarra, dobrando o peso, em músicas como “Funk Até o Caroço” e “Essa é Pra Tocar no Baile”, ambas de seu trabalho, mas renovadas em versão rockaço pra caralho a beça.

Flávia Couri: a baixista também cantou, em músicas do Autoramas e na canção de Lou Reed

Flávia Couri: a baixista também cantou, em músicas do Autoramas e na canção de Lou Reed

Até nos momentos menos favoráveis, como quando Gabriel Thomaz faz as vezes de Marcelo D2 em “Queimando Tudo”, fundida com o clássico “Wild Thing”, a coisa não destoa; e vale a lembrança que o baterista Bacalhau é da formação original do Planet Hemp. Resgate inédito, “A Verdadeira Dança do Patino” abandonou o arranjo original para ganhar uma versão porrada, e com a participação do inexplicável Paulão, um dos maiores vocais guturais em todos os tempos. No meio de tantas referências, uma canção nova já apareceu, “O Giro (Auto Boogie)”, com um riff funk rock de arrebentar assoalho (ouça o EP aqui). Colada na inesperada “Let’s Groove”, a dobradinha fez a plateia do Palco Sunset reviver os bailes de subúrbio dos anos 70.

O arremate se deu com outra conversão porreta, dessa vez para “Kiss”, do Prince, que – incrível – faz parte do inconsciente coletivo rocker, e “1, 2, 3, 4”, clássico noventista do Little Quail, com o refrão cantado em várias línguas. Nem precisava mandar “Surfin’ Bird”, famosa como Ramones, para homenagear um tal Marky, que tocaria depois (veja como foi). A nitrocligerínica “Você Sabe”, do Autoramas, já fecharia os trabalhos com a força que o rock exige. Seguramente um dos melhore shows do Palco Sunset e – quem sabe - a grande surpresa do festival. Com gosto de “eu já sabia”, diga-se, mas, ainda assim, surpresa.

Gabriel Thomaz e o grito de guerra: rrrrrrrrock!

Gabriel Thomaz e o grito de guerra: rrrrrrrrock!

Set list completo:

1- Motocross
2- Abstrai
3- I Saw You Saying (That You Say That You Saw)
4- Walk On The Wild Side/Enxugando Gelo
5- Wild Thing/Queimando Tudo
6- Psycho
7- Funk Até o Caroço
8- Robot Rock
9- Let’s Groove
10- O Giro (Auto Boogie)
11- A Verdadeira Dança do Patinho
12- Essa é Pra Tocar no Baile
13- Kiss
14- 1,2,3,4
15- Você Sabe
16- Surfin’ Bird

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