O Homem Baile

Matinê dos infernos

Rotting Christ revive os bons tempos do metal extremo com show insano, pesado e permeado por citações “do mal”. Fotos: Daniel Croce.

Sakis Tolis mostra boa forma durante o show

Sakis Tolis mostra boa forma durante o show

Enquanto a Lapa, maltratada por gente cafona e fuzilada por música de péssimo gosto se preparava para mais uma noite eclética, o Teatro Odisséia recebia, ainda com o sol se pondo, a presença do Mal. Explica-se que a banda grega Rotting Christ, que tem um pé no inferno, adentrou ao palco, em pleno sabadão, antes das 19h, relembrando os bons e velhos tempos dos Caverna I e II, quando os shows de metal nas plagas cariocas começavam durante a tarde. O Rotting Christ nunca parou, mas o auge de sua relevância, misturando thrash metal com os climas e letras sombrios do doom e do black metal, respectivamente, foi naquele período, em meados dos anos 90. Uma banda única e que ainda fala grego, esticando uma relação quase mitológica com fãs do tipo “die hard”.

Ajudado por uma surpreendente boa condição de equipamento, o grupo desencravou uma série de mantras “from hell” que fizeram o público vibrar e bater cabeça como há muito não se via na Cidade Maravilhosa. Depois de uma longa, pesada e arrastada introdução, com o som no talo, as cabeleiras em hélice do trio de frente desencadearam uma desenfreada horda de fanáticos, durante a dramática “The Forest of N’Gai”. A música, que nem é das mais conhecidas, traz o efeito de um trator de arado revolvendo lentamente corpo e alma de cada um no meio do público, numa experiência corporal, quase física. Só podia ser a Força do Mal mesmo. O guitarrista Geoge Emmanuel logo mostra as garras, o que seria uma constante durante todo o show.

O guitarrista Geoge Emmanuel agitando um bocado

O guitarrista Geoge Emmanuel agitando um bocado

Mas não é de longos solos e virtuose – embora todos toquem muito bem – que vive o Rotting Christ. O importante para os gregos liderados pelo guitarrista Sakis Tolis e o baterista e irmão Themis são os climas, o peso, a cadência arrastada inserida em cada música, a distorção cruel, o massacre lento, o drama até. Daí o desvio e o encontro de subgêneros distintos em cada um das canções. Se “Fgmenth, Thy Gift”, do álbum de estreia do grupo e que encerrou o bis em grande estilo, é um thrash típico à “Seek And Destroy”, do Metallica, “Non Serviam”, do mesmo período, é um massacre insano e triturador, de tão cruel. “Phobos’ Synagogue”, por outro lado, repleta de solos, é de uma intensidade atroz, bem mais encorpada ao vivo do que no álbum “Theogonia”, lançado nos anos 2000.

Curiosamente, o grupo só inclui no repertório do show duas músicas do novo álbum, “Kata Ton Daimona Eaytoy”, que está sendo lançado este mês: “In Yumen-Xibalba”, uma peça doom/thrash metal erguida das trevas mais profundas, e a faixa-título, uma porrada tonitruante calcada na velocidade do batera Themis capaz de fazer espocar sangue dos ouvidos dos incautos que se aventuraram no Odisséia. A decisão pareceu acertada, ainda mais quando Sakis – em grande forma, apesar de uma proeminente calvície – saca músicas colantes como “Nemecic”, que já começa com um refrão em forma de brado e enlouquece o público; a já citada “Fgmenth, Thy Gift” e “Societas Satanas”, da banda paralela de Sakis, Thou Art Lord, que faz o público abrir as rodas de pogo que não mais cessariam. Seguramente um dos melhores shows de metal de porte médio realizados no Rio nos últimos tempos.

Visão geral: o baixista Vaggelis Karzis, Sakis, George Emmanuel e o batera Themios Tolis, no fundo

Visão geral: o baixista Vaggelis Karzis, Sakis, George Emmanuel e o batera Themios Tolis, no fundo

Set list completo:

1- The Forest of N’Gai
2- Athanati Este
3- Kata ton Demona Eaytoy
4- Nemecic
5- King of a Stellar War
6- The Sign of Evil Existence
7- Transform All Suffering Into Plagues
8- Societas Satanas
9- In Yumen-Xibalba
10- Non Serviam
11- Chaos Geneto (The Sign of Prime Creation)
12- Phobos’ Synagogue
13- Noctis Era
Bis
14- Archon
15- Fgmenth, Thy Gift

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Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. Léo Rocha em março 17, 2013 às 10:50
    #1

    RJ finalmente desfruta de uma cena!

  2. Antonio Dias em março 17, 2013 às 18:01
    #2

    Quem organizou esse evento acertou em cheio em colocar o show no sábado à tarde. Tomara que aconteça outros shows internacionais e nacionais nesse mesmo local, dia da semana e horário. Todos acabam ganhando: público, casa e artistas.

  3. Filipe Barcelos em março 18, 2013 às 1:15
    #3

    Parabéns Marcos Bragatto a Blog n Roll agradece sempre a presença…

  4. Paulo em março 18, 2013 às 1:19
    #4

    Humildemente dou uma sugestão aos produtores de show para o Rio: Bolt Thrower!!!
    A única banda da fase clássica da Earache que ainda não veio tocar aqui.

  5. Léo Rocha em março 20, 2013 às 12:41
    #5

    Parabéns Filipe Barcelos e Blog N’ Roll pela iniciativa! Me sinto orgulhoso em fazer parte, mesmo que indiretamente.

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