Muito tempo longe
Com primeiro álbum de inéditas em 16 anos, Soundgarden consolida a volta ao mercado e deve, enfim, vir ao Brasil em 2013. Publicado na Billboard Brasil 36, de novembro de 2012. Fotos: Divulgação Billboard.
Quase três anos depois de anunciar o retorno, no revéllion de 2010, finalmente o Soundgarden lança um álbum de inéditas, o bom “King Animal”. Antes, a banda quis revirar o passado com a coletânea “Telephantasm” e com “Live On I-5”, disco gravado ao vivo com material antigo. As 13 faixas de “King Animal” quebram um jejum de 16 anos, já que “Down The Upside” praticamente decretou a separação do quarteto em 1996.
Nesse meio tempo, enquanto o vocalista Chris Cornell seguia carreira de altos e baixos, com quatro álbuns solo, os demais integrantes saíram de cena - à exceção de Matt Cameron, que continua dividindo as baquetas entre o grupo e o contemporâneo Pearl Jam. No fim das contas a separação parece ter sido até benéfica, já que os quatro - completam a banda o guitarrista Kim Thayil e o baixista Ben Shepherd - retornaram bastante participativos na feitura do novo disco, como conta Cornell nessa por telefone, de Los Angeles.
O vocalista também explica a demora para iniciar as gravações das músicas de “King Animal”; faz comparações do momento atual da banda com o passado; se surpreende com a instantaneidade do mundo virtual; e ainda promete que o Soundgarden, sempre cogitado para os festivais brasileiros, finalmente vem ao País em 2013. Será mesmo?
“King Animal” é primeiro disco do Soundgarden em 16 anos. O que mudou nesse tempo todo?
É um gap muito grande. Eu já acho que o intervalo entre um disco e outro, de alguma forma, é sempre um momento de mudança de abordagem. Agora que tivemos um longo tempo para ensaiar e para tocarmos, vimos que estamos diferentes, há novos sentimentos rolando.
A reunião foi anunciada em 2010. Por que demoraram tanto tempo para lançar este álbum?
Não havia nada planejado com tanta certeza. Havia muitas coisas que queríamos fazer logo de cara: voltar com um site, reacender os fãs, trabalhar em merchandise. Isso foi a primeira coisa que fizemos, e então decidimos lançar coisas antigas, queríamos ver como funcionaria a ideia de trabalharmos juntos de novo. Só depois é que veio o negócio de fazer shows e também a possibilidade de compormos material novo. Mas é claro que queríamos isso desde o início, só não era o caso nem a situação de termos pressa. Precisávamos antes acertar as contas com a nossa história e cuidar do nosso legado. E o mais importante era termos paciência para fazermos músicas com inspiração.
De onde vem o título “King Animal”? Não aparece em nenhuma música do disco.
O Kim veio com esse título, baseado na arte da capa, que é muito elaborada. Essa foi a primeira vez que pensamos antes na arte do CD e depois nas músicas, e antes de o disco ficar pronto. Fizemos o título para funcionar junto com o visual e estamos superfelizes com ele.
A escultura da capa foi feita antes do disco?
Antes de finalizamos, sim, certamente. Estávamos no meio das gravações. O título é algo muito específico. Não é como quando o AC/DC dá o nome “Powerage” ou “High Voltage” e dá pra saber essencialmente o que é. No nosso caso há muitos aspectos diferentes nesse disco, não há um titulo que represente especificamente tudo o que acontece musicalmente em todas as faixas. Por isso o titulo é meio aberto, como “Superunknown” e “Louder Than Love” (álbuns de 1994 e 1989, respectivamente). “King Animal” sugere agressividade, mas também evoca coisas diferentes, lugares diferentes para ir, mentalmente falando.
Como vocês acham que esse disco se encaixa no mercado musical de hoje?
Eu não me importo com o mercado. A única coisa que o mercado musical fez por nós foi mostrar aquilo que devemos evitar. Nós estamos todos bem felizes com o álbum. Acho que é bom estarmos de volta, porque o que fazemos é algo que ninguém faz. Qualquer um pode ouvir esse disco e se sentir bem.
Com qual das fases anteriores esse disco mais se parece?
Eu sei lá (pensativo)… Talvez esse disco encerre uma trilogia, com o “Superunknown” e o “Down The Upside”. Há algumas músicas que soam como o Soundgarden do início, talvez a forma de compor. Nós realmente temos quatro compositores bastante participativos na banda, cada um com uma abordagem completamente diferente. Por isso é difícil dizer como um disco sai exatamente, o que é uma coisa muito boa. Toda música nova surpreende. Eu me lembro exatamente quando o Ben tocou para mim a música “Head Down” (do “Superunknown”) pela primeira vez. Eu parei e pensei: que sorte é ter isso! A maioria das bandas não trabalha assim, é tipo uma figura central que faz quase todas as músicas. E temos um baterista que compõe e traz músicas difíceis de tocar!
“Being Away Too Long” é a primeira música lançada desse disco, e o titulo é quase um cartão de visitas do retorno. Como rolou de essa música ser o primeiro single?
Mesmo que a letra não se refira especificamente ao nosso retorno como banda, acho que era óbvio, pela natureza da música, o feeling… tinha que ser o primeiro single.
É que é uma música mais pesada, com um riff forte. Muitas vezes músicas assim não são colocadas como single…
É verdade. Mas nós sempre tivemos problemas com singles. No “Superunknown” o terceiro single foi “Black Hole Sun”, que as rádios simplesmente tocaram, nós não tivemos escolha, e a gravadora queria colocar “Feel on Black Days”, que acabou saindo depois. O single nunca representa o álbum como um todo, porque há muito mais no disco. E agora é mais difícil ainda, porque as pessoas estão on line, conversando, fazendo comentários em blogs. E dizem o que elas acham, o que o disco vai ser, baseado em uma música. Dessa vez liberamos um pedaço de 40 segundos primeiro, e eu li parágrafos e parágrafos de pessoas descrevendo o que eles esperam de um disco e de uma música após terem escutado 40 segundos!
“Attrition” seria um single interessante, embora não seja uma música típica do Soundgarden, porque tem um sotaque mais pop.
Pode ser, sempre há a possibilidade. Para mim é uma boa música, mas as coisas não funcionam como antes. Hoje parece que para ser um single a música tem que seguir uma fórmula específica, de modo a agradar o pessoal das rádios, os produtores. Isso nunca fez sentido algum para mim. É por essas e outras que hoje o radio é algo totalmente desinteressante.
O guitarrista Mike McCready, do Pearl Jam, toca na música “Eyelid’s Mouth”. Como ele se envolveu nisso?
O Mike é um sujeito com o qual ainda saímos às vezes, é um rocker de primeira e poderia ter participado de mais músicas no disco.
Esse disco tem um naipe de metais em algumas músicas, o que não é comum na história do Soundgarden…
Já usamos trompete uma ou duas vezes, mas essa é a primeira vez que colocamos uma seção de metais. Na verdade achei que podiam ter ficado mais altos. É muito bonito o jeito de eles tocarem, gostamos desde o início, caiu perfeitamente nas músicas.
O Soundgarden é sempre esperado no Brasil, afinal quando vocês tocam aqui?
Sei lá, mas sei que temos que ir. Nas vezes em quando toquei (2007 e 2011) o público foi incrível. Na verdade sempre converso com fãs brasileiros o tempo todo e em algum momento vamos tocar por aí, possivelmente em 2013.
Você lançou um disco mais pop (“Scream”), em 2009, produzido por Timbaland. Como foi essa experiência? Pretende repetir?
Foi bem estranho. Mas foi bom no sentido de eu ter que mudar a abordagem na hora de compor e de fazer um disco. Foi tudo de um jeito que eu nunca tinha feito antes, então tive a possibilidade de fazer um disco único. Havia o mito da expectativa de eu fazer um disco “moderno”, mas era legal trabalhar em algo que eu não sabia no que ia dar, fora da zona de conforto. Foi uma boa experiência, mas por hora não pretendo repetir.
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