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Ratos de Porão rouba a cena e faz o show mais envolvente no sábado do Abril Pro Rock, reservado à música pesada. Fotos: Rafael Passos/ Divulgação.

João Gordo comanda o Ratos de Porão: grupo superou o desempenho das atrações internacionais

João Gordo comanda o Ratos de Porão: grupo superou o desempenho das atrações internacionais

Não teve Exodus, não teve Brujeria, muito menos Cripple Bastards. Coube ao Ratos de Porão fazer o show com maior participação do público na noite de sábado, no Abril Pro Rock. E olha que isso não chega a ser novidade. De tanto que o grupo já bateu ponto nessas duas décadas de festival, não se sabe ao certo quantas vezes ele fez parte do elenco; estima-se que tenham sido seis, talvez sete, cinco, sete, quem sabe. Na matemática de João Gordo, no aniversário de 20 anos do Abril Pro Rock, o Ratos completa 30, e o álbum “Anarkophobia”, as mesmas vinte primaveras. O disco, na verdade, saiu em 1990, e completa, portanto, 22.

Giulio the Bastard: o João Gordo italiano

Giulio the Bastard: o João Gordo italiano

Contas que não fazem o menor sentido para quem estava no meio das maiores rodas de pogo de toda a noite, com as letras das músicas sendo cantadas/vociferadas a plenos pulmões. Embora o repertório tenha fugido dos hits, por assim dizer, para se concentrar mais em “Anarkophobia”, e do tempo ser curto para tanta porrada a ser executada, não houve petardo algum desconhecido do público. E olha que o quarteto sofreu um bocado por conta de problemas de som no palco, levando João Gordo a detectar “coisas estranhas” acontecendo e a discutir por mais de uma vez com os técnicos de som. O desfecho da conversa foi um bem humorado e sonoro “foda-se” daqueles que servem é pra jogar mais gasolina na fogueira. Antes, Gordo desabafou com a produção do Metal Open Air, que acontecia simultaneamente em São Luis, no qual o Ratos cancelou a participação. “Tem que ir pra cadeia, fudeu com a história de 30 anos que nós fizemos com os gringos”, disse. Saiba mais aqui.

Além da perícia do Gordo, que continua cantando a mil por hora e se fazendo entender, é de impressionar o vigor físico e a naturalidade com que Boka destroça sua bateria, impingindo uma velocidade que desafia os demais a segui-lo. No cover de “Bullshit Propaganda”, do Extreme Noise Terror, a violência/agressividade impressiona e faz a roda da plateia ter “diâmetro” de tamanho superior à largura do palco. O público ainda se acaba em “crássicos” do naipe de “Aids, Pop, Repressão”, “Beber Até Morrer” e Crucificados pelo Sistema”, que, coladas uma na outra, são a síntese do melhor show do sabadão from hell do Abril Pro Rock, e, quiçá, de todo o festival.

Helbenders: muito peso e pouca cabeleira

Helbenders: muito peso e pouca cabeleira

A essa altura, chamar o Cripple Bastards de Ratos da Itália não chega a ser um exagero. Apesar de franzino, o vocalista Giulio the Bastard, à sua maneira, vocifera como Gordo, só que de uma forma mais linear e agressiva, como se vomitasse concreto ciclópico 24 horas por dia. O som é também mais extremo: um crust dos mais radicais que trafega entre o metal extremo e o grindcore, sem pensar muito na barulheira que vai dar. Foram umas 20 músicas em cerca de meia hora de show – o grupo tocou antes do Ratos – sem dar tempo para esboço de qualquer reação por parte do público, que, como de hábito, girou em círculos, ainda não tão grandes como se veria depois.

Estranho no ninho, o Hellbenders, de Goiânia, embora invista num som pesado e garageiro, não faz parte da cena punk nem na do heavy metal, o que fez com que o público aproveitasse o show do quarteto para circular pelo local, ainda não tão cheio. Quem arriscou checar o grupo se deu bem, ao dar de cara com o metal bate estacas celebrado por bandas como o Helmet nos anos 1990, e com uma abordagem garageira que se respira lá no cerrado. O melhor de tudo é que ao menos umas duas músicas mostraram grande potencial, ao exalar um aroma pop que pode levar o grupo a um público mais amplo, sem deixar escapar o encerramento, numa levada à Black Sabbath de responsa.

Test: dois shows no meio do povão

Test: dois shows no meio do povão

De São Paulo duas bandas de iniciativas diferentes mostraram as caras. Os fanfarrões do Test, acostumados a rodar a cidade de Kombi e tocar em qualquer lugar, na rua, decidiu manter a tradição e tocou no piso, no meio do público. Como é um duo de guitarra + bateria, e a apresentação foi ainda cedo, com pouca gente do lado de dentro do local, a coisa funcionou e a gritaria aprontada – metal extremo e tosco – funcionou. Mais tarde, enquanto o Exodus quebrava tudo no encerramento da noite, os figuras repetiram a dose do lado de fora da casa. A outra é o Leptospirose, de Bragança Paulista, que fez um bom show de hardcore, digamos, tradicional, mas não menos barulhento. O destaque é o carisma do vocalista Quique Bronw, que comanda o bololô no meio do público.

Das locais, escaladas na mais absoluta abertura dos trabalhos, o Firetomb se saiu melhor, com um thrash metal porrada à Slayer. Bem ensaiado, o grupo mostrou entrosamento, como um todo, e boa técnica individualmente. Já o Pandemmy, que parece mais novo no pedaço, ainda tem um bom caminho a seguir. Mas o death metal com todo o tipo de referências dentro do metal escolhido pela banda parece ser uma boa pedida.

A gigantesca roda de pogo que prevaleceu durante todo o show do Ratos de Porão

A gigantesca roda de pogo que prevaleceu durante todo o show do Ratos de Porão

Set list completo Ratos de Porão

1- Contando os Mortos
2- Morte ao Rei
3- Sofrer
4- Amazônia Nunca Mais
5- Testemunhas do Apocalipse
6- Morrer!
7- Mad Society
8- Crianças Sem Futuro
9- Comando
10- Bullshit Propaganda
11- Toma Trouxa
12- Crise Geral
13- Velhus Decreptus
14- Aids, Pop, Repressão
15- Beber Até Morrer
16- Crucificados Pelo Sistema
17- Agressão/Repressão
18- Obrigados a Obedecer

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