O Homem Baile

Bandidones

Brujeria exibe temática ‘tex mex from hell’ e fora da lei no Abril Pro Rock; show tem até versão maldita da Macarena. Foto: Rafael Passos/Divulgação.

El Brujo convoca todos os soldados brasileiros do Recife para 'la revolución' na Améria Latina

El Brujo convoca todos os soldados brasileiros do Recife para 'la revolución' na Améria Latina

Já é quase meia-noite no sábado dedicado ao metal/hardcore dentro do Abril Pro Rock quando a banda que está no palco encerra sua participação cantando uma versão meio pré-gravada de “Macarena”, convertida inadvertidamente em “Marijuana”, numa língua que eles chamam de “mexicano”. A cena seria motivo de desprezo e até de ódio para os fãs de heavy metal, sempre tidos como conservadores, se não estivéssemos falando do Brujeria. O grupo destilou todo o veneno de imigrante ilegal americano em uma hora de pura porrada na moleira, temperada com muito deboche.

Vale a lembrança de que a banda é formada por ícones da música pesada que tocam sob alcunhas de mexicanos, “ocultos” por máscaras ou lenços que cobrem o rosto, de modo a manter a identidade “secreta”. Assim, a formação irregular não chega a ser um problema, mesmo porque a liderança exercida por El Brujo, espécie de pirata barrigudo que chega a usar um facão para cortar cabeças durante o show, mantém a temática “tex mex from hell” bem ajustada. Ao contrário do que pode parecer, o show não é marcado pela violência/agressividade. Boa parte das músicas é mais cadenciada, mas sempre pesada e com ênfase na verve dos figuraças que cantam/falam, tal qual MCs do mal. Ontem eram três: além de El Brujo, Fantasma e Pinche Peache, este o único sem máscara - e nem precisava, podem acreditar.

João Gordo participa da farra dos chicanos

João Gordo participa da farra dos chicanos

A comunicação com o público foi estabelecida de imediato, tendo o portunhol como língua comum. “Como vão ustedes cabrones loucos do Brasil?”, perguntava El Brujo cheio dos sotaques, em “El Desmadre”. Embora vivesse certa ressaca do show do Ratos de Porão, que aconteceu antes, a plateia agitava horrores, sobretudo a mais colada na grade do fosso que separa o palco. João Gordo, ícone do hardcore global, não resistiu e subiu ao palco para cantar e agitar em “La Migra” estabelecendo o recorde de quatro vocalistas num só show de metal/hardcore. Em “Vayan sin Miedo”, um stage dive solitário anima o show, mas outros não vieram a acontecer. “Brujerizmo”, quase música tema da turba, gera uma incrível onde de pula-pula que fez tremer o Chevrolet Hall. Coisa do cramunhão?

“Revolución”, que sintetiza as lutas por liberdade no âmbito do Terceiro Mundo e cita Zapata, é outra que contagia a plateia. Da metade do show para a frente, o público passa a ser mais contemplativo, até pelo cansaço da noite de nove bandas, mas continua participando com os braços erguidos, naquela coreografia ensaiada que só a música pesada pode proporcionar. É o que acontece em “División del Norte”, quando um mar de sete mil braços faz o espetáculo realmente valer à pena. É nessa hora que o pequerrucho Pinche Peache, o mais inquieto, desce à grade para agitar com o público, assustando até os seguranças.

No repertório, duas músicas novas, que o Brujeria pretende colocar no novo álbum, prometido e adiado desde 2009. Em relação ao set list distribuído pela produção, o grupo vai saltando músicas para encaixar o show solo deles, num horário de festival; veja no final do texto. A diferença nem é tão grande assim, e muita músicas são reincluídas. O grande final, antes da “Macarena”, ops, “Marijuana”, é com El Brujo sacando um facão gigante, tal qual uma peixeira nordestina, com o qual canta o clássico “Matando Güeros”, enquanto Pinche exibe a cabeça decepada, que, aliás, estava ali o tempo todo, dependurada na bateria de Hongo Jr. Tá bom pra vocês?

Com o facão em riste, El Brujo ameaça a plateia do Abril Pro Rock: cada um que salve sua própria cabeça

Com o facão em riste, El Brujo ameaça a plateia do Abril Pro Rock: cada um que salve sua própria cabeça

Set list completo

1- Raza Odiada (Pito Wilson)
2- El Desmadre
3- Cuiden a los Niños
4- Marcha de Odio
5- Colas de Rata
6- Cruza la Frontera
7- Mecosario
8- Vayan sin Miedo
9- Brujerizmo
10- La Migra
11- Anti-Castro
12- Revolución
13- Música nova
14- Hechando Chingazos
15- División del Norte
16- La Ley de Plomo
17- Angel de la Frontera
18- Consejos Narcos
19- Matando Güeros
20- Marijuana

O Abril Pro Rock continua hoje, com o indie Nada Surf, que inicia um giro pelo Brasil, e Mundo Livre SA como destaques. Clique aqui para ver a programação completa do festival e acompanhe a nossa cobertura exclusiva.

Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Inferno e bico seco

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado