O Homem Baile

Brilho instrumental

Focus celebra carreira notável no rock progressivo em Teatro Rival lotado, no Rio de Janeiro. Foto: Bruno Eduardo/Divulgação.

Os remanescentes da formação clássica Thijs van Leer e Pierre van der Linden, no fundo

Os remanescentes da formação clássica Thijs van Leer e Pierre van der Linden, no fundo

Quase 500 pessoas lotaram as mesas e cadeiras do tradicional Teatro Rival, ontem, no Rio, para assistir ao show do Focus. O grupo voltou à cidade com o mesmo formato com o qual excursiona desde 2002, quando estreou no Rio, no palco do Canecão. Da formação clássica, permanecem o tecladista/flautista Thijs van Leer e o batera Pierre van der Linden, e a grande ausência entre os holandeses é o guitarrista Jan Akkerman. Um intervalo de cerca de 20 minutos dividiu o show em duas partes de uma hora cada, nas quais brilharam a técnica apurada de cada integrante e as improvisações coletivas que arrancaram aplausos do público.

A anunciada íntegra do álbum “Moving Waves”, que completa quarenta primaveras este ano, não aconteceu, mas quem se importa? Afinal, desse disco, foi tocado o que realmente vale à pena. A incrível versão de mais de 20 minutos de “Eruption” e a indispensável “Hocus Pocus”, mais emblemática música do Focus, guardada para encerrar o show. O Focus tem – e mostrou ontem – aquilo que o fã de rock progressivo mais dá valor: mudanças de andamento em músicas longas, com precisão e bom gosto instrumental. “Eruption”, definida pelo figuraça Thijs van Leer como “uma confusão mental que parece que vai explodir a cabeça”, na primeira parte do set, caprichou nas improvisações e foi aí que o guitarrista Menno Gootjes, na banda desde 2010, começou a brilhar, com belos solos e referências a mestres como Carlos Santana, Gary Moore e Eddie van Halen. Antes, em “Focus VII”, duelou com o van Leer para alegria do público de idade avançada.

Mas o show gira em torno de Thijs van Leer, o bem humorado velhinho de 63 anos que se diz “em casa” no palco do Rival. Ele toca órgão, flauta, escaleta e conversa um bocado com o público, mas se diverte a valer quando sugere vários modos de “cantarolar” as façanhas instrumentais do Focus. Os mais famosos estão em “Hocus Pocus”, mas não faltam em “Eruption” e em “Focus II”, já no bis. Do cultuado álbum “Hamburger Concerto”, duas músicas entraram no set, na ordem invertida em relação ao disco. Primeiro, “La Cathedrale de Strasbourg”, onde o cantarolar de van Leer lembra uma missa celebrada em latim; e, depois, “Harem Scarem”, que inclui até um sucinto solo do baixista Bobby Jacobs.

Embora também tenha um momento solo em “Hocus Pocus”, a bateria de Pierre van der Linden se destaca mais a cada música, quando trem espaço garantido para mostrar vigor (aos 66), grande precisão e técnica, oriundas, seguramente, de músicos de jazz. Outro momento esperado e aclamado na apresentação aconteceu quando Gootjes foi “regido” por Thijs van Leer na contundente “Sylvia”, uma das mais belas peças instrumentais do rock de que se tem notícia. A versão “igual, mas diferente” mostrou a efemeridade inerente às belas canções. Pena que “Focus III”, que poderia lhe vir emendada, só apareceu depois do intervalo. Nada que tirasse o brilho de uma noite de diversão garantida e fadada a recordações de parte a parte.

Set list completo:

1- Focus I/Anonymus
2- House Of The King
3- Aya - Yuppie - Hippie - Yee
4- Focus VII
5- Eruption
6- Sylvia
Intervalo
7- Focus III/Answers, Questions, Questions, Answers
8- La Cathedrale de Strasbourg
9- Harem Scarem
10- Hocus Pocus
Bis
11- Focus II

A turnê brasileira do Focus prossegue nesta quinta no Bolshoi Brasil, em Goiânia; na sexta em Votorantim, no interior de São Paulo; e termina no sábado, no Carioca Club, na Capital; saiba mais aqui.

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