O Homem Baile

Dona da noite

Em ótima fase, Within Temptation encanta as cerca de duas mil pessoas que encheram o Circo Voador no domingão; brilho da cantora Sharon den Adel rouba a cena. Fotos: Luciano Oliveira.

Com carisma e versatilidade, Sharon den Adel monopoliza as atenções no show do Within Temptation

Com carisma e versatilidade, Sharon den Adel monopoliza as atenções no show do Within Temptation

Em mais uma daquelas noites que só o Circo Voador pode proporcionar, em pleno domingão pré-carnavalesco, o Within Temptation viu a lona lotada cantar em uníssono todas as 17 músicas de um show temático, fechado em si próprio e que realçou a simpatia e a versatilidade vocal de Sharon den Adel. O grupo demorou a vir ao Rio (não foi a primeira vez no Brasil), mas acabou chegando num momento excelente, em que sua música mais busca contato fora do nicho do heavy metal. Às avessas, o público carioca encerrou o jejum recebendo o grupo em uma de suas melhores fases.

O eficiente guitarrista Ruud Jolie cumpre seu papel

O eficiente guitarrista Ruud Jolie cumpre seu papel

Sem o maridão Robert Westerholt, que abandou as turnês para cuidar criançada, Sharon é mais do que antes a estrela da noite. Não frequenta as aulas de dublagem ao vivo de Madonna; não se submete ao teste do biquíni de Britney Spears; não veste o maiô de Beyoncé; e dispensa o rebolado redundante de Shakira. É cantora e performer de verdade que, com carisma, faz da simpatia e de uma espantosa variação vocal suas armas principais, escoltada por canções colantes que têm eco sobre toda a plateia – em que pese o fato de a gravadora ter ignorado o lançamento do disco mais recente do grupo no Brasil. Não foi o suficiente para consolidar o boicote. As músicas do conceitual “The Unforgiving” inseridas no show – oito, no total -, foram embaladas pelo público como se fossem hits de longa data.

Como no disco, as cinco primeiras músicas aparecem enfileiradas, e já se percebe que o grupo quer fugir do óbvio ao iniciar o show não como hit “Faster”, mas com a lenta “Shot In The Dark”, que, convenhamos, não tem toda a pressão pra levantar o público logo de cara. E pensar que o som fracassou a ponto de Sharon passar boa parte da música sem ser ouvida pelo público. Um começo claudicante que logo foi superado com o riff pesado que introduz “In The Middle Of The Night”; além de Ruud Jolie, a banda tem o amigo de longa data Stefan Helleblad na outra guitarra, garantindo o peso e a força das músicas que são - no fundo, no fundo - pretexto para o brilho da vocalista. O forte sotaque pop de “Faster”, carro chefe da nova fase detona uma vibração especial no Circo Voador. Logo se perceber que Sharon abre mão dos vocais dobrados – sobretudo no verso “I go faster and faster”, e faz tudo ao vivo.

A simpatia da vocalista conquistou o público

A simpatia da vocalista conquistou o público

E é ao vivo que se percebe, também, como as músicas de “Unforgiving” são cantadas muito próximas do limite vocal da cantora, que se esgoela para manter o tom sem artifícios do estúdio, o que acaba fornecendo ao show uma insuspeita dramaticidade. Não é qualquer um que consegue manter, ao vivo, aquilo que o estúdio poliu. O auge dessa verdadeira doação artística se dá já na segunda parte do show, na dobradinha “Iron”/ “Angels”. Na primeira, escudada por um riff tenso, Sharon vai às últimas consequências como se não houvesse amanhã, e, na segunda, resgata um tom vocal que parecia deixado para trás com uma surpreendente destreza. Ao vivo, “Angels” perde o sotaque orquestral e, como se fosse um coletivo de refrões, ganha um acompanhamento do público para ficar anotado no caderninho dos holandeses.

“Ice Queen” é outra música em que Sharon recupera um tom vocal perdido há dez anos com uma naturalidade atroz. “Mother Earth”, de seu lado, já impõe um irresistível cantarolar do público que quase abafa o som, já à toda a potência, na parte final do show. Antes, em “Fire And Ice”, outra do novo álbum, Sharon canta como se fosse Julliane Regan, do saudoso All About Eve, e em “Sinéad” o povaréu não resiste ao pula-pula incitado pela dupla de guitarristas. O desfecho se dá com “Stairway to Skies”, já no bis, que arredonda o conceito de “Unforgiven” e é a deixa para a banda ser apresentada e para Ruud Jolie empunhar a guitarra num belo solo de despedida. Antes, no intervalo, depois do coro de “uivim! uivim!”, Sharon não se faz de rogada, pede para tirar foto com o público ao fundo e até rege um grito de “Rio”, gravado para ser usado num desses extras de DVDs da vida. “Suando como no inferno”, a cantora não resiste: “Vamos voltar!”. Que assim seja.

Sharon den Adel: 'estou suando como no inferno'

Sharon den Adel: 'Estou suando como no inferno'

Set list completo:

1- Why Not Me (intro)
2- Shot in the Dark
3- In the Middle of the Night
4- Faster
5- Fire and Ice
6- Ice Queen
7- Our Solemn Hour
8- Stand My Ground
9- Sinéad
10- What Have You Done
11- Iron
12- Angels
13- Memories
14- Where Is the Edge
15- Deceiver of Fools
16- Mother Earth
Bis
17- Hand of Sorrow
18- Stairway to the Skies

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Michelle Delfino em fevereiro 14, 2012 às 14:48
    #1

    Show foi maravilhoso! A banda e o público deliraram durante todo o show. Foi como a compensação da bagunça que foi a entrada, já que as grades foram armadas muito tarde, quando já havia grande concentração de gente na fila que se desfez no momento “organização” do local. Quem chegou cedo, acabou infortunadamente perdendo o lugar na primeira fila. O grande espetáculo que ocorreu nesse domingo é todo mérito da banda, não do Circo. Que o próximo show seja em outro local. Faltou muito pouco pra rolar briga no aglomerado de gente (no que seria uma fila) por que com a bagunça, já generalizada, muita gente estava furando fila depois que a primeira se desfez e se fez outra com a montagem das grades.

  2. Michelle Delfino em fevereiro 14, 2012 às 15:02
    #2

    O nome da cantora é Sharon DeN Adel

  3. Domenico Russo em fevereiro 14, 2012 às 22:00
    #3

    E o CD é The UngorgivING

    Sim, o show foi apocalíptico *-*

  4. Marcos Bragatto em fevereiro 14, 2012 às 22:31
    #4

    Obrigado a todos pelas correções!

  5. Antonio Dias em fevereiro 15, 2012 às 12:27
    #5

    O nome do do CD é The Unforgiving. O Bragatto não errou.

  6. Antonio Dias em fevereiro 15, 2012 às 12:33
    #6

    O Circo Voador é um dos melhores lugares para show no Rio. A grade (coisa meio rara no Circo) nesse evento foi necessária. Confusão na entrada? Infelizmente acontece. Dois espertalhões furaram a fila na minha frente quando eu tava entrando. Sorte deles que eu só de paz, senão a porrada ia comer.

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