O Homem Baile

Nação feliz

Imune a modismos, público vê a história passar na sua frente durante o show do Lynyrd Skynyrd no SWU. Fotos Divulgação: Marcos Hermes (1 e 4) e Rogério Von Kruger (2 e 3)

Johnny Van Zant ergue um brinde ao público, que participou um bocado, mas poderia ser mais numeroso

Johnny Van Zant ergue um brinde ao público, que participou um bocado, mas poderia ser mais numeroso

Única banda de rock realmente grande a vir ao SWU desse ano, com quase cinquenta anos de história nas costas, o Lynyrd Skynyrd cumpriu a missão de fazer um show repleto de guitarras, virtuose e bom gosto. A apresentação só pecou por não ser maior do que os 90 minutos que estamparam grandes clássicos do rock mundial, num total de 14 músicas e exibições estonteantes dos três guitarristas. Juntos, formando duplas, ou cada um por si, eles ilustraram um espetáculo de cair o queixo da plateia, ainda mais depois de uma apresentação branda – para dizer o mínimo – de Peter Gabriel, no outro palco. Imagens marcantes como a dos três guitarristas ladeados na beirada do palco, solando deslumbrantemente, não vão sair da memória do público tão cedo.

Duelo entre Mark Matejka e Rickey Medlocke

Duelo entre Mark Matejka e Rickey Medlocke

Logo de início, na discreta “Workin’ For MCA”, Gary Rossington, único membro fundador que ainda está na banda, aposta corrida de notas com Rickey Medlocke, num show de acordes melódicos. E olha que Rossington é tido como o guitarra base do grupo. O vocalista Johnny Van Zant logo ergue um copo de uísque para um brinde aos brasileiros, no esquema “God bless you”. Talvez não pudesse fazê-lo, já que faz pouco tempo que saiu do hospital. Van Zant pede o tempo todo a participação do público. Em “Skynyrd Nation”, a única do disco mais recente, o bom “God & Guns”, a entrar no repertório, ele inicia um fabuloso mar de braços erguidos que se repetiria várias vezes durante a noite.

O primeiro grande momento vem com “That Smell”, composta nos anos 70, a partir das histórias de bebedeiras de Rossington na juventude. Embora simples para os padrões do grupo, abre espaço para que cada um dos guitarristas mostre suas habilidades, redundando numa trinca excepcional no encerramento. Como é um dos grandes sucessos da banda, tem a participação generosa do público. Pena que não em tão grande quantidade, já que o comparecimento no domingo foi o menor de todo o festival – cerca de 45 mil pessoas no total do dia. Mesmo assim, se percebe a vibração quando uma imagem da bandeira brasileira, mesclada com o logo do grupo, é exibida no telão. Antes, em “What’s Your Name”, quem brilha é o tecladista Peter Pisarczyk, que assumiu o posto após a morte de Billy Powell, em 2009. Assim como no blues rock “Down South Jukin’”, ode ao rock sulista, tema recorrente no grupo, ele abusa de evoluções rítmicas, e isso numa banda que tem três guitarristas.

Peter Pisarczyk brilha em banda de guitarras

Peter Pisarczyk brilha em banda de guitarras

“É um sonho para nós estar aqui”, diz Johnny Van Zant, antes do boogie “I Know A Little”. “Simple Man” é dedicada pelo vocalista aos “amigos do rock que foram para o céu” e é impossível não lembrar as tragédias que abalaram, mas não conseguiram colocar fim nessa lenda viva chamada Lynyrd Skynyrd, incluindo a perda do irmão de Johnny, Ronnie Van Zant. O tom dramático da canção, somado à cortina de chuva fina que é realçada pela luz do palco sobre as guitarras empunhadas cria uma atmosfera ainda mais especial. É o sonho dos irmãos Van Zant, o mais novo e o mais velho, onde quer que esteja, pedindo passagem em plena realização, ali, na frente de todo mundo.

A versão de “T For Texas”, de Jimmie Rodgers, abre espaço para vários mini solos de cada um dos músicos, e é a vez de Mark Matejka sacar o dedal e mandar um slide guitar violento. O show termina com todo o público cantando “Sweet Home Alabama”, e o bis não demora a vir com “Free Bird”. A introdução com as guitarras “glissando” ao sabor do dedal de slide soa como um deleite que embala a madrugada. Antes, no início, o vocalista cita nominalmente Ronnie Van Zant, que parece encarnar em Rickey Medlocke. O guitarrista é quem comanda uma verdadeira maratona de solos sobre solos, num raro espetáculo de virtuose, agressividade e bom gosto. A música, símbolo de épocas distintas, faz parte do imaginário coletivo inconsciente do rock e ganha uma versão matadora com os três guitarristas e o baixista Robert Kearns empunhando seus instrumentos em linda coreografia. Um momento esperado por todos desde sempre e que agora se insere nas lembranças de cada um. Numa palavra: histórico.

Histórico: Mark Matejka, Rickey Medlocke e Gary Rossington debulham as guitarras na beirada do palco

Histórico: Mark Matejka, Rickey Medlocke e Gary Rossington debulham as guitarras na beirada do palco


Set list completo:

1- Workin’ For MCA
2- I Ain’t The One
3- Skynyrd Nation
4- What’s Your Name
5- Down South Jukin’
6- That Smell
7- Same Old Blues
8- I Know A Little
9- Simple Man
10- T For Texas
11- Gimme Three Steps
12- Call Me The Breeze
13- Sweet Home Alabama
Bis
14- Free Bird

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Vitor em novembro 20, 2011 às 17:10
    #1

    Foi algo fantástico ver o Lynyrd, é um daqueles momentos na vida que você sabe que ficarão para sempre. Free Bird então foi uma catarse completa, os caras são muito bons, virtuosismo, carisma e o bom e velho rock n roll!!

  2. Fabio em novembro 25, 2011 às 15:37
    #2

    O Ronnie tocava guitarra no Lynyrd? Que eu saiba ele só cantava…

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