O Homem Baile

Despedida festiva

Broken Social Scene faz no Rio o último show antes de recesso; grupo toca por mais de duas horas e meia, mas fãs queriam mais. Foto: Felipe Diniz/Divulgação.

brokencirco11Passava de uma da madrugada desta terça quando quatro guitarras eram empunhadas no palco de um Circo Voador repleto dos chamados “die hard fans”. Era o encerramento apoteótico de “Meet Me In The Basement”, uma instrumental épica que parecia finalizar o show do Broken Social Scene em grande estilo. Parecia porque, dali em diante, o grupo teve que retirar repertório de onde não tinha porque o público, aquele ali da beirada do palco, não arredava o pé nem por decreto. Também, pudera. Primeiro, o show foi financiado porque cada um deles adquiriu cotas antecipadamente com o pessoal do @queremos. Depois, o grupo anunciou que esta seria a última apresentação antes de um recesso indefinido. Era a primeira vez e a última chance, diria o poeta. É, não tinha como ir embora mesmo.

O que faz do grupo canadense ter certo diferencial no modelo indie é que boa parte dos músicos – e são muitos – toca muito bem, mostrando uma perícia técnica poucas vezes abraçada no meio; ao contrário, tal perfeccionismo é até mostrado como prova de que esse ou aquele grupo não agrada. Quem comanda a farra e a duplinha Kevin Drew e Brendam Canning (foto), dois dos quatro que empunhavam as guitarras naquele quase final. As evoluções melódicas encontradas em “Meet Me…” e em outros “musts” da noite, como “Stars and Sons”, revivem artimanhas do rock consagradas lá atrás, por bandas como o Wishbone Ash. A diferença é que os riffs e as levadas são sempre acompanhadas por efeitos de teclado ou mesmo por um mutante duo de metais.

Nem sempre, entretanto, o grupo acerta. Por vezes, o delírio instrumental sobre o palco parece mais um exercício de agradar a eles próprios do que interessante até para a turma do gargarejo. O repertório é também irregular. Depois da potência de “Cause=Time”, por exemplo, a lerdeza de “All to All”, cantada por Lisa Lobsinger, é de um anticlímax atroz. Isto porque parece que o grupo não acha equilíbrio entre os três estágios pelos quais passeia, a saber: a) indie básico; b) indie com virtuose instrumental e c) virtuose instrumental estéril. Quando a opção b sai vencedora – caso de “Superconnected” e “World Sick”, outra com quatro guitarristas – a coisa vai; do contrário, a banda perde o elam.

Coisa que pouco faz diferença para o público, empolgado não só no nome. Livres àquela altura dos transeuntes beneficiados pela inclusão cultural promovida por um patrocinador que arrematou 400 cotas do projeto, os fãs deitam e rolam. Vibram com os balões que caem do teto e irritam Kevin Drew; vão ao delírio com “Almost Crimes”; e fazem o grupo, depois de uma turnê de 18 meses, levar covers de U2 e Beastie Boys no final, numa das 35 saídas e retornos do palco. Ao que parece, Drew, que aprovou, meio sem entender direito o “crazy system” do Queremos, também não queria parar de jeito nenhum. Mais uma noite para entrar para a história do Circo Voador

Antes, duas outras bandas tocaram no segundo e último dia do Eu Quero Festival (espécie de micro Planeta Terra), cujo público foi surpreendentemente maior que o da véspera, que teve o Beady Eye, do ex-Oasis Liam Gallagher – leia a resenha aqui. O primeiro foi o Toro Y Moi, que investe num prog indie interessante, bem sacado, mas mais viajante do que animado. Tanto que coube à platéia uma postura contemplativa, em meio a linhas de baixo associadas ao free jazz e fraseados de teclados inspirados nos férteis anos 70. Tudo com certo frescor, fruto de eficaz reciclagem. Já conhecido do público, o Bombay Bicycle Club, que fez shows no Brasil no ano passado, quando passou o constrangimento de tocar com o Empolga as 9, levantou o público com a boa e velha formuleta indie: músicas que começam como quem não quer nada e deságuam numa farra de guitarras distorcidas. Resultado: agradou geral.

Set list completo Broken Social Scene:

1- KC Accidental
2- Texico Bitches
3- 7/4 (Shoreline)
4- Fire Eye’d Boy
5- Cause=Time
6- All to All
7- Stars And Sons
8- Late Nineties Bedroom Rock For The Missionaries
9- Shampoo Suicide
10- Anthems for a Seventeen Year-Old Girl
11- Hotel
12- Superconnected
13- The World At Large
14- World Sick
15- Sweetest Kill
16- Lover’s Spit
17- Ibi Dreams of Pavement
18- Almost Crimes
19- Meet Me In The Basement
20- Looks Just Like the Sun
21- It’s All Gonna Break
22- I Still Haven’t Found What I’m Looking For
23- Funky Boss
24- Major Label Debut
25- Pacific Theme

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