O Homem Baile

Viral, mas só virtual

Na abertura do Festival Fora Do Eixo, no Rio, A Banda Mais Bonita da Cidade faz um bom show, mas não consegue converter em quantidade de público o inexplicável sucesso obtido na internet. Fotos: Luciano Oliveira.

A simpatia de Uyara Torrente, a garota da capa da Banda Mais Bonita da Cidade

A simpatia de Uyara Torrente, a garota da capa da Banda Mais Bonita da Cidade

Não teve fila virando a esquina. Não teve cambista vendendo ingresso. Não teve tumulto. Não teve bafafá. O vírus no qual se transformou o vídeo da Banda Mais Bonita da Cidade, visitado por mais de cinco milhões de pessoas, não saiu da tela de computador. Ao menos se levarmos em conta as exatas 244 pessoas que compraram ingresso e transformaram em festa íntima o primeiro show da banda no Rio, ontem na abertura do Festival Fora do Eixo, no Teatro Rival. Público que, via de regra, não parecia interessado em conhecer a banda. Eram fãs de um vídeo, não de um grupo. Ao menos não ainda.

Uyara canta com o ator Alexandre Nero

Uyara canta com o ator Alexandre Nero

“Oração”, a música que estrela o tal vídeo é – claro – a mais esperada da noite e – óbvio – deixada para o encerramento de um bom show que durou pouco mais de 70 minutos. É para ela que o público guarda, como que decorado, as reações sugeridas no clipe: tem confete jogado para o alto, buscapé, bichogrilagem, micareta indie (Beirute e Gogol são referências claras) e acaba com todo mundo, banda e convidados, como no clipe, cantando de mansinho e sentado no palco. De tão enjoada e por conta da exposição viral absolutamente sem explicação, a música se configura como o pior momento da noite. É como se a o show da Banda Mais Bonita da Cidade fosse um; e o clipe ao vivo, no final, outro. A banda é nova, iniciante e quer mostrar a cara, e a trupe do clipe ao vivo tem o elam do artista consagrado. Tudo captado pela reação do público, impassível na primeira parte e delirante na segunda.

De acordo com a vocalista Uyara Torrente, a Banda Mais Bonita da Cidade era, em princípio, um projeto para revelar compositores e artistas curitibanos que virou banda mesmo. É a voz e o carisma dela que chama a atenção logo de cara no show. Embora passe a maior parte do tempo com os braços apoiados no pedestal do microfone, suas expressões e uma simpatia do tipo “tô sem jeito, mas sou legal” conquistam. Sabe cantar, é claro, e as letras do grupo fazem sentido, se você é do tipo interessado num mínimo de conteúdo. É evidente que a instrumentação, simples como os arranjos, ficam atrás para a moça brilhar. Esqueça, por enquanto, essa história de indie rock, se você quer entender A Banda Mais Bonita da Cidade.

Ana Larousse e Leo Fressato: stand up comedy

Ana Larousse e Leo Fressato: stand up comedy

Há nas letras o uso de aliterações que, no conceito estabelecido podem soar como vantagem, se a referência é Gil, ou defeito, se é Humberto Gessinger. Coisas do tipo “amputação que amputa a ação”, de “Lobotomia”, ou “rodoviária solitária joguete cacete”, de “Solitária”. Musicalmente o grupo parece banda de apoio de trilha para teatro, que fica oculto lá atrás para uma crooner cantar o que faça sentido no conceito da peça. Mas é uma banda de rock, e isso é bom. Citações como a de “Peter Gun”, o terma de James Bond, em “Lado Frágil”, nesse contexto, são até bem-vindas.

O repertório, se desconhecido, é encorpado por duas músicas que também tem clipes rolando na rede: “Canção Para Não Voltar” e “Boa Pessoa”, que conta com a inusitada participação vocal do ator global Alexandre Nero, outro curitibano. O carioca Vitor Paiva empresta “Nunca”, da sua banda, Os Outros; o grupo paranaense Mordida cede “Lado Frágil”, que ganha uma versão menos pesada; “Oxigênio”, do pai da vocalista, espécie de fanfarra, é prima da parte final de “Oração”; e “Romance de Uma Caveira”, da pioneira dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho contribuem para montar as 15 de um repertório eclético, em sua origem, mas condensado “ao estilo A Banda Mais Bonita da Cidade”. Pena que, ao menos por enquanto, tudo não passe de ante-sala para a reprodução do clipe ao vivo no final da noite.

Figurantes no clipe de “Oração”, Ana Larousse e Leo Fressato ainda fizeram um show de abertura. Fressato é também o autor da música, mas sua vocação não é, positivamente, cantar. Tanto que os momentos mais interessantes o show são aqueles em que ele se faz de autêntico comediante, chamando, inclusive, pessoas da platéia para participar de “números de entretenimento”. Num deles compõe, de “improviso”, a letra de uma música para uma bela incauta que se aventura. Se não der certo abastecendo músicos com suas composições, Fressato pode se dar bem na stand up comedy. Vai que é sua.

Os braços apoiados no pedestal do microfone o tempo todo compõem o estilo de Uyara Torrente

Os braços apoiados no pedestal do microfone o tempo todo compõem o estilo de Uyara Torrente

O Festival Fora do Eixo RJ continua na próxima sexta, 17, e vai até o dia 25, com shows no Rio, Niterói e Nova Friburgo. Clique aqui para ver a programação completa.

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Jacqueline em junho 15, 2011 às 15:00
    #1

    Não acho que ‘Oração” seja a melhor música do repertório da Banda Mais… Vale a pena ouvir as outras, que estão disponíveis na Trama e no Facebook da banda. Virei fã. A vocalista tem uma voz suave que me encantou. As letras são simples, mas muito sensitivas, exatamente no ponto que eu gosto. Pena eu ter perdido o show deles no Studio SP e o próximo, no dia 16/06, também não poderei ir.

  2. Bruno Nigro em junho 16, 2011 às 15:04
    #2

    O viral trouxe o burburinho, milhões em pageviews e cliques em ‘curtir’. Mas ‘It’s a long way to the top if you wanna rock n’ roll…’. E pra ser um pouco mais honesto, não aguento mais bandas com roupagem neo-hippie-bicho-grilo. Falta sustância, sobra pretensão; porém, nesse último quesito, ainda não supera a última presepada do Tico Santa Cruz e sua trupe.

  3. Kayo em junho 16, 2011 às 17:46
    #3

    Bragattinho, meu rei.
    Peter Gunn não é de James Bond, não. É de uma série de TV do Blake Edwards (”A Pantera Cor-de-Rosa” etc.).
    Bjss,
    K

  4. Manuella em novembro 30, 2011 às 23:36
    #4

    É chato. O povo tá cansado dessas ‘coisas inteligentes’ que não servem para nada, além de ‘pelo menos, sou melhor que Cine e Restart’. E ser melhor que eles não é algo sobrenatural, né?!

    Será que não pode existir descontração e letras boas e/ou inusitadas? Vi um pouco do clipe e parei no meio. É de uma chatice sem fim.

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