Rock é Rock Mesmo

A Arena do Rio é um espetáculo

Empresa responsável pela produção é que deve cuidar das instalações do evento, a fim de evitar acidentes como a queda da grade do show do Iron Maiden

Meus amigos, os tempos são outros. Vejam que, qualquer coisa acontece e pronto: todo mundo fala tudo sobre tudo e todo mundo é ouvido. E toda opinião tem valor. Fala-se besteira e, de imediato, há quem acredite. A instantaneidade das coisas nos últimos tempos é tão grande que o metabolismo humano está pulando uma preciosa etapa: a de pensar. Nem pensou, falou. Pimba! Na horinha em que aconteceu. Ou, por outra, enquanto ainda está acontecendo. Pensar, que é bom, nada. E é justamente num momento desses que este que voz escreve está devendo textos para esta coluna há cerca de quatro meses. Francamente…

Vejam que, no show do Iron Maiden, na Arena HSBC (ou Rio Arena, ou Arena do PAN, sei lá) uma grade rompeu e o show teve que ser adiado para o dia seguinte. Transtorno, revolta, confusão. Em cerca de 24 horas vi gente dizendo que a Arena é ruim, que Arena é incompetente (sim, um imóvel, sem competência), que o Rio é o túmulo do rock, que o público do metal só causa confusão e que os caras do Iron Maiden são uns frescos, entre outras verdades absolutas. Uma fala, o outro acredita e assim a desinformação e a burrice prevalecem. Tipo no Bethânia gate. Ô tempinho difícil de entender. Ainda mais quando jornalista não sabe a diferença entre escavadeira e trator, entre grade e alambrado.

Pois eu retruco. A Arena é um espetáculo. Um legado do PAN que dizem que não existe, mas existe, sim senhor, e vai muito bem, obrigado. A Arena, feita nos moldes das arenas esportivas americanas e usadas em Olimpíadas e afins, é um espaço extraordinário para shows que não existia antes no Brasil. Mas agora existe, e bem aqui no Rio. Tem que aturar. E a grade quebrada, de quem é a culpa? De quem montou a grade, oras. E quem montou a grade? A empresa contratada pela produtora do show, que monta palco e monta a grade. E que empresa é essa que produz o show? A experiente Mondo Entretenimento. Eis a responsável pela instalação de um agrade que não suportou a pressão do público do Iron Maiden, e que não suportaria pressão de público algum: a Mondo Entretenimento.

Digo isso e já explico. Segundo pude apurar, existem grades e grades. De acordo com a solicitação de carga exigida, coloca-se esta (menos reforçada) ou aquela (mais reforçada). Ocorre que houve quem subestimasse a força da platéia do show de domingo, o que causou o rompimento da grade. Outra hipótese é a de que o material da qual a grade é feita (aço) teria sofrido uma fadiga pelo uso. A mim, não me interessa. Uma grade que separa o público do palco deve aguentar a pressão de qualquer tipo de público, e é isso que o produtor do show deve ter em mente. A responsabilidade é – repito – da Mondo. Nada tem a ver com isso a Arena e a Cidade Maravilhosa, muito menos o Iron Maiden e seus fãs.

O show foi transferido de domingo para a segunda e aconteceu, enfim, dentro dos conformes (veja aqui). De acordo com a assessoria de imprensa, cerca de mil pessoas não voltaram à Arena na segunda – menos de 10%. Estes, caso se sintam prejudicados, devem correr atrás não só de ter o valor do ingresso de volta, mas também de obter uma indenização pelo ocorrido. Que foi e quiser ser ressarcido pelo tempo perdido e dinheiro gasto a mais, também pode correr atrás. Fiz três faculdades, não sou advogado, mas sei que é ganho de causa fácil, fácil. Mas demora e tem que ter um bom advogado. Cabe à Mondo responder pelos seus atos. Não tive acesso ao contrato da produtora com a banda, mas aposto que eles, ingleses que são, se resguardaram direitinho. Por isso o vocalista Bruce Dickinson disse, no meio do show, em tom de brincadeira, que a conta da nova e “bonita” grade não seria paga pelo público nem por eles. E é verdade.

O mais importante, no entanto, é que o episódio sirva de exemplo para todos os produtores. Da maior produtora do Brasil ao fulano da esquina que faz o “corre” para a banda do amigo, passando pelos badalados festivais independentes, é preciso ter responsabilidade com que paga pelo espetáculo. Ainda mais nos shows internacionais, cujos ingressos são caríssimos e, no caso da Arena, a localização é ruim, o que demanda mais tempo livre e mais gastos com transporte. De outro lado, há que se reconhecer que, no quesito grade de show, posso dizer que o Brasil está bem. Sou o sujeito que mais vai a shows de rock e não me lembro de ver uma única grade quebrando. Que este caso do show do Iron Maiden permaneça como reles exceção.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Marcus Albuiquerque em março 31, 2011 às 11:35
    #1

    A Arena é uma fachada de mais uma obra superfaturada e feita com material de terceira qualidade, pelas empreeiteiras que se deliciam com os subornáveis corruptos políticos brasileiros (incluindo os cartolas desportivos), longe de tudo e de todos (menos dos noveau riche de Jacarepaguá). Trabalhei lá no PAN e no mundial de Judô, e ela se desfaz, literalmente, nas mãos! Ficaria melhor se fosse retrato, mas pra uso, ainda mais Iron Maiden… Pena dos meus impostos, porque daquele modelo vem aí uma Copa de Futebol e Jogos Olímpicos, e mais obras fuleiras, superfaturadas, que cairão no ostracismo e na degeneração precoce. Ali é bom pra domingo legal com Xuxa e Restart…

  2. Teo em abril 1, 2011 às 13:57
    #2

    Bom, estive no show do Iron nos dois dias e eu achei o local muito bom. O problema todo era a organização por parte da produção. A Arena em si estava em ótimas condições, acústica muito boa e tudo limpinho como novo. Acho injusto queimar o filme do local uma vez que não há nada de errado por lá, tirando o fato de ser longe pra caramba. O problema todo foi de responsabilidade da produção. Filas imensas e o tal problema da grade. No dia seguinte à confusão, quando a produção entreou em sintonia, foi maravilhoso. Portões abertos na hora certa, sem filas e com as tais barricadas montadas da forma correta.

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