O Homem Baile

Gente esquisita

Excêntricos, integrantes do Vampire Weekend se divertem no Rio com o hype criado em torno do seu nome; falta de pegada não incomoda fãs de última hora, num clima de “já ganhou”. Foto: Ana Schlimovich/ Divulgação.

vampirecircoQuando um show é bancado pelos próprios fãs (em vários sentidos) subir ao palco se torna bem mais fácil; nem é preciso ter intimidade com aquele espaço sagrado. Foi o que aconteceu ontem, no Circo Voador, com o Vampire Weekend. Sem pegada, o mais novo queridinho da cena indie encontrou uma plateia disposta a tudo, inclusive a dançar em músicas chochas que não se sustentam por falta de ritmo, melodia e – na maioria das vezes - apelo pop. Excêntrico, o quarteto dado a releituras de momentos em que a música pop se encontrou com as raízes africanas, usou de efeitos pré-gravados (o guitarrista Rostam Batmanglij faz isso em mais da metade do show) para temperar a falta de intimidade com elementos percussivos, os de verdade.

Criado há cerca de cinco anos e com apenas dois álbuns no currículo, o grupo tocou quase a íntegra do badalado “Contra”, lançado no ano passado – só “Taxi Cab” ficou de fora. Vale a lembrança de que “Contra” não seria possível sem “Graceland”, o consagrado álbum que Paul Simon lançou em 1986 depois de “pegar emprestado” certos ritmos africanos. Hoje o vampiro que suga a misturada de Simon atende pelo nome de Ezra Koenig, o vocalista que se esforça um bocado para igualar até o timbre de voz ao do cantor, sobretudo em disco, mas ao vivo também. Foi o que aconteceu descaradamente – só para se ter uma idéia – em “Run”, cuja tecladeira salvou a lavoura, e em “Diplomat’ Son”, que flerta com um reggae de plástico, sem groove.

Koenig, no entanto, é o menos esquisito dos quatro. Faz a linha simpática – consta que o grupo tirou onda de turista desde quarta passada e até foi ver a estreia de Ronaldinho no Flamengo -, agradece ao público, sugere que cantem e dancem assim ou assado. Nem precisava. A farra indie, identificada há tempos com as inefáveis micaretas, era quase total, realçando o indie bobo alegre que dança envergonhado da tristeza que adorava amar e que, súbito, simula deixar de lado. O quase acontece porque o repertório alterna momentos mais dançantes com outros que são um tédio só. Era de se esperar que uma banda de dois discos não conseguisse montar um bom repertório, mas começar com “Holiday” e fechar com “Oxford Comma” foi de um anticlímax broxante.

Há, sim, os bons momentos, quando o grupo resolve tocar pra valer. Acontece ao menos em duas oportunidades. Em “Cousins”, a única vez em que Koenong e Batmanglij tratam as guitarras com um mínimo de vontade – a tal pegada ausente na maior parte do show – e em “Giving Up The Gun”, salva – quem diria – por uma muralha de teclados que faz do Circo Voador uma pista de dança de verdade. Com menos força, mas com grande sotaque pop, “Walcott” fechou o set de pouco mais de uma hora com um tecladinho maliciosamente repetitivo e também entra para o rol dos destaques. Um bom desfecho para uma noite marcada pelo “público na mão” que facilitou as coisas para uma banda esquisita e ruim de palco.

Na abertura, a escolha do Do Amor foi a mais sensata possível. Como o Vampire Weekend, os cariocas também são esquisitos e carregam o rock/pop com referências a ritmos de gosto duvidoso. O ponto a favor é que cada músico do quarteto tem muito mais rodagem que os americanos. Se um deles cantasse direito a coisa até poderia fluir. Apesar do desinteresse geral do público, que preferiu a fresca brisa do lado de fora da lona, o Do Amor conseguiu aquecer a noite, numa satisfatória preliminar.

Set list completo:

1- Holiday
2- White Sky
3- Cape Cod Kwassa Kwassa
4- I Stand Correct
5- M79
6- Bryn
7- California English
8- Cousins
9- Run
10- A-Punk
11- One (Blake’s Got A New Face)
12- Diplomat’s Son
13- I Think Ur A Contra
14- Giving Up the Gun
15- Campus
16- Oxford Comma
Bis
17- Horchata
18- Mansard Roof
19- Walcott

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Comentários enviados

Existem 8 comentários nesse texto.
  1. Maria Amelia em fevereiro 4, 2011 às 10:42
    #1

    Só passei em frente ao Circo Voador ontem e parei pra ouvir por uns 5 minutos… pois é, como foi dito antes, esse povo carioca tem um gosto estranho.

  2. alexandre paula em fevereiro 4, 2011 às 12:27
    #2

    Até que deu para se divertir, sim, mas achei a presença de palco da banda bastante mediana. Ah, e sem contar que eles estavam com problemas para ajustar os próprios equipamentos, o que foi feito ao longo do próprio show. Diferentemente da banda Do Amor, que em vez de se preparar com antecedência, já te eles tinham bastante tempo para isso, eles simplesmente subiram ao palco sem ter feito uma “inspeção” prévia dos equipamentos. Resultado: desperdiçou uns 5 minutos para entrar em cena de verdade. O mundo está passando realmente por uma “apagão” de pessoas qualificadas para trabalhar em cultura. Mas aí entra aquele velho provérbio do profeta islâmico: “Busque conhecimento, ainda que na China.”

    Deu para perceber, aqui, em comparação à resenha do TDCC, que o show do VW foi apenas mediano, mas quantificando tudo isso eu daria nota 8 para TDCC e 7 para o VW. E olha que eu consegui uma paletinha da guitarra do Ezra Koenig, hein!

    Grande abraço novamente a todos. =)

  3. Tiago Velasco em fevereiro 4, 2011 às 14:00
    #3

    Foi um bom show! Ah, faltou pegada de guitarra? Sim, mas isso já era de se esperar - os discos não mentem. Em compensação, a bateria é bem gorda e o teclado bem presente, inclusive fazendo riffs, que alguns críticos poderiam preferir que fossem na guitarra. Mas aí, é questão de gosto, e não de qualidade.
    Eles emulam o Paul Simon e o Talking Heads? Sim, e, mais uma vez, também nunca esconderam isso.
    Apesar de ter gostado do batera, também senti falta de que as batidas afros fossem tocadas ali, na hora, em vez de serem pré-gravadas.
    No geral, achei um bom show, com várias músicas dançantes, alguns anticlímax e, também, algumas pérolas pop, como “A-Punk”, “Campus”, “Mansar Roof” e “Oxford Comma”.
    Concordo que o Do Amor foi uma escolha sensata, mas ritmos nunca são duvidosos. Eles são. Existem por si só. As músicas podem ser boas ou ruins, mas ritmos…

  4. Tiago Velasco em fevereiro 4, 2011 às 14:04
    #4

    Ah, esqueci de comentar essa onda indie que canta e dança de forma exaltada até… Chamei isso ontem de “hermanização do público”. Como se a postura da plateia do Los Hermanos estivesse se espalhando para certa galera indie. Acho esquisito, porque faz qualquer grupo sem história na música pop ganhar ares de messias.

  5. André Botelho em fevereiro 5, 2011 às 1:40
    #5

    Assistimos a shows diferentes, certamente. Vale criticar o crítico?
    Achei os comentários fora da realidade e certamente foram feitos por alguém que assistiu ao show sentado de algum lugar, confortável em seu prazer deprimente em diminuir as coisas, que provavelmente nunca conseguiu colocar três acordes juntos para fazer uma música e, se o fez, nem a própria mãe curtiu.
    Fora isso, meus parabéns, belo emprego o seu.

  6. Jean Nogueira em fevereiro 5, 2011 às 10:34
    #6

    Acho que sua resenha poderia ter ficado melhor, se você não tivesse se esforçando tanto para achar alguns e criar outros defeitos que ocorreram!
    Concordo com alguns pontos colocados ali, notei alguns erros e defeitos também, mas, no geral, o que nota-se facilmente é um cara fazendo milhares de criticas negativas, na esperança de ser reconhecido (a curto ou a longo prazo) como “crítico sem papas na lingua”! E que acredita que sabe analisar bem, nos mínimos detalhes!

  7. marina em fevereiro 5, 2011 às 10:48
    #7

    Quem escreveu isso?
    Tá uma porcaria.

  8. Cassio em fevereiro 5, 2011 às 13:24
    #8

    Perfeita a resenha, era tudo o que eu queria dizer. Fã cego é uma merda.

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