Fazendo História

A gaiola dos micos

Matéria destacando falhas e fatos curiosos do Rock In Rio de 2001. Publicado na Dynamite número 43, de fevereiro de 2001. Foto: Marcos Bragatto

publicorir01O som. O maior mico de todo o festival foi o avançadíssimo equipamento de som não ter funcionado satisfatoriamente. O mínimo que se pode esperar de um festival de proporções gigantescas como o Rock In Rio é ouvir o som que qualquer lugar do gramado. Além de ter guardado a maior potência para os shows principais, a produção deixou o som flutuar, ou seja, abaixar e diminuir no meio dos shows. No início da apresentação da Dave Mathews Band, foi possível ouvir o coro, no gargarejo: Aumenta o som! Aumenta o som!”. É ou não é um King Kong?

Transporte. A volta para casa, no final de cada show, durou em média três horas. O terminal montado pela prefeitura não funcionou, e a “caminhada da paz” se transformou num verdadeiro inferno brasileiro: milhares de pessoas procurando condução e centenas de ônibus perdidos, alguns até com as portas fechadas. Pior foi no último dia, que recebeu a maior lotação e muita gente ficou a pé, literalmente no meio do nada.

Alimentação. Roberto Medina fechou vários patrocínios importantes, o maior deles com a America On Line, mas não conseguiu atrair bons nomes para a cerveja e a alimentação do festival. O público teve que se contentar com comidas de baixa qualidade e preços altos, além de uma das piores cervejas do país.

Teens. A noite teen até que não atrapalhou muito o festival, mas aturar o moleque Aaron Carter cantando por quinze minutos, Sandy e Júnior transformando o Rock In Rio no “Domingão do Faustão” e Barbie Britney Spears dublando de boca fechada foi dose!

Segurança. Os seguranças reprimiam os casais que se aconchegavam nas arquibancadas da Tenda Raízes, mas permitiram a invasão do público na área reservada aos deficientes físicos, no dia 21.

Lama. Durante todo o primeiro final de semana o Corpo de Bombeiros sequer apareceu para garantir o banho de mangueira da galera, mas no segundo, além de inundar o acesso ao fosso do palco, esguichou tanta água que atrapalhou a visibilidade de que estava mais distante do palco. Isso sem falar na lama criada, mesmo sem ter chovido durante os sete dias de festival.

Preconceito com o metal. Um release da assessoria de imprensa dividiu a imprensa que cobria o evento em duas: a séria e a de heavy metal. Tal absurdo só pode ser atribuído ao bando de estagiários que caiu de pára-quedas no Rock In Rio. E mais: com “medo” do público metal, Roberto Medina pessoalmente determinou a redução da capacidade da Cidade do Rock para 150 mil pessoas. Resultado: muita gente sem ingressos, cambistas felizes e a noite do metal com um público menor do que aquele que poderia ter.

A Austrália não é aqui. Nas entrevistas coletivas, um repórter australiano não se cansava de repetir a mesma pergunta: “Quando vocês vão tocar na Austrália?”. Uma pequena amostra de que, pelo menos em termos de shows, o Brasil está à frente dos australianos. Já a entrevista do Silverchair foi a única em que o referido repórter não compareceu… Por que será?

No dia errado. A escalação equivocada acabou atrapalhando certas bandas. Enquanto ninguém entendia o Queens Of The Stone Age na noite do metal, o Deftones abria o show do Capital Inicial. Enquanto Ira! & Ultraje dividiam o tempo de uma banda, O Surto fazia cover de si próprio para completar o tempo.

Peladão. Quem também não entendeu nada foi o peladão Nick Oliveri, do Queens Of The Stone Age, ao ser preso após o show. “Pô, no país do Carnaval, onde todo mundo tira a roupa e os grupos musicais aparecem seminus na TV, achei que fosse normal tocar pelado num show de rock”. Até que o cara tem razão, não?

Siro Darlan. O juiz que ordenou a prisão de Oliveri foi o mesmo que proibiu menores na novela da Globo, exibição da capa da “Playboy” em outdoors, mas acabou repreendido por um jornal carioca por “deixar menores beberem na Cidade do Rock”.

Panela marrom. Quando todos esperavam a entrevista coletiva de Neil Young no Hotel Intercontinental, os grandes jornais, com a conivência da gravadora do artista, faziam a coletiva no Copacabana Palace. Êita panelinha!

Imprensa virtual. Os portais e sites de música em geral, no afã de passar a informação em tempo real, uns tentando ser mais rápidos que os outros, deram uma amostra de como não se deve fazer jornalismo. Nunca se viu tanta informação errada e deturpada em tão pouco tempo.

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