O Homem Baile

Lição de história

Com sotaque caipira, Hillbilly Rawhide apresenta panorama das origens do rock na segunda noite do RioBilly; grupo fez a estreia em plagas cariocas em noite que teve ainda Run Devil Run e Carburadores. Fotos: Luciano Oliveira.

Coxinha e Mark Cleverson: professores repassam ao vivo a matéria para os alunos

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O sujeito que pensa que o psychobilly é um vertente do rock fechada em si própria deveria ter ido ontem à noite no fechamento da terceira edição do RioBilly, no Cine Lapa, no Rio. Embora seja mais underground de que tudo que existe no rock, há muito que se entender, e o sexteto paranaense Hillbilly Rawhide, já com oito anos nas costas, fez a sua parte. Em improváveis duas horas de show o grupo abriu um livro de história sacado de uma prateleira da biblioteca e passeou por todas as correntes que formariam o rock’n’roll há mais de 50 anos. De Johnny Cash e Hank Williams a AC/DC e Motörhead o grupo alinhavou com propriedade o filho bastardo mais amado do planeta.

O alinhado El Globul canta com Coxinha

O alinhado El Globul canta com Coxinha

Não que o Hillbilly seja uma banda cover. O grupo está prestes a lançar um novo álbum, gravado ao vivo no estúdio, e apresentou várias composições próprias. “O Enxofre e a Cachaça”, um country core turbinado por um violino nervoso, que na alta madrugada mantinha o público agitando, foi uma delas. Outra, tocada mais cedo, foi “Joe Lee”, já conhecida do público, assim como a totalmente psycho “Drunk and Crazy!”. O grupo, composto notadamente por veteranos, tem certa virtuose (sem cair na repetição óbvia), com a guitarra limpa e cristalina de Coxinha (pioneiro do psycho nacional com o Catalépticos e hoje no Sick Sick Sinners), que se dá ao luxo de colocar um “bloco com violão” no meio do extenso set. É quando rola, por exemplo, “Longe Sem Dinheiro”, outra garantida no disco ao vivo. O grupo engata duas seguidas de Jerry Lee Lewis, com o pianista Joe Ferriday nos vocais, garantindo a dança no salão.

Run Devil Run: clássicos domésticos

Run Devil Run: clássicos domésticos

Em eventos segmentados como este, é normal que apareçam versões de clássicos, e os curitibanos são especialistas em reunir num contexto boogie woogie (como Coxinha repete todo o tempo) músicas que, aparentemente, nada teriam em comum. Com “Ace of Spades” foi possível entender de onde vêm as camisas caipiras de Lemmy Kilmister, do Motörhead, e em “Long Way to The Top (If You Wanna Rock’n’roll)”, as origens bluesly do AC/DC são escancaradas sem sutileza alguma. Até a impagável “PlayschoolBaby ‘Round Mountain”, cuja melodia é usada em escolas ginasianas, ganhou significação/contextualização históricas. Em uma apresentação irretocável, o grupo teve a participação de El Globul, o guitarrista da banda francesa Scarekrows, aquele mesmo que subiu no palco do Psycho Carnival desse ano, em Curitiba, trajando uma tanga com estampa de oncinha minúscula. Dessa vez estava mais alinhado.

Carburadores: nova formação

Carburadores: nova formação

O Run Devil Run é uma banda que reúne veteranos do rock paulistano, liderada por Luiz Teddy, filho de Eddy Teddy, da lendária Coke Luxe, pioneira no cenário brasileiro. O grupo tratou de fazer releituras de clássicos do rock’n’roll de raiz, incluindo – claro – “Conta da Light”, do Coke Luxe, e “Vigésimo Andar”, de Albert Pavão. Mas quem rouba a cena em quase todas as músicas é Ronaldo, guitarrista de uma das melhores formações do Inocentes, que desanda a mandar solos endiabrados com os quais a platéia se acaba de tanto dançar. O grupo contou com a ajuda de Fernando Oliveira (Big Trep, Canastra), que assumiu o lugar do baterista, que ficou em São Paulo por problemas de saúde na família. Um bom show, que tende a melhorar com a promessa de substituição do baixolão por um contrabaixo acústico.

Na abertura da noite, Os Carburadores mostraram a nova formação, com Julio Longo e DHC (respectivamente baixista e baterista d’Os Pazuzus) coadjuvando o boss El Carburator, na guitarra e vocal. O alvo do trio é a mistura de surf music e rockabilly, muito embora os solos de Carburator desafiem os limites do gênero, fornecendo mais peso e (até) certa psicodelia ao trio, que talvez ainda precise de mais rodagem para delinear melhor uma sonoridade própria.

Placar Rock em Geral:

Os Vulcânicos: 7
Big Trep: 7
The Quakes: 8
Os Carburadores: 6
Run Devil Run: 7
Hillbilly Rawhide: 9

Veja também como foi o primeiro dia do festival.

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Luiz Teddy em julho 27, 2010 às 20:50
    #1

    Me desculpe, mas aqui vai alguns detalhes em relaçao a resenha do Run Devil Run:

    O link do myspace está errado (www.myspace.com/rundevilrun2008)

    O Run Devil Run não é uma banda que reúne veteranos da cena rockabilly (talvez só eu), reúne veteranos da cena undergroud paulistana.

    “Vigésimo Andar” não é do Coke Luxe (Albert Pavão).

    Não emprestamos nenhuma música do Krents e sim do Coke Luxe / Rockterapia.

    Como o batera não foi, tivemos que fazer algumas alterações no repertório, principalmente na seleção dos covers.

  2. Marcos Bragatto em julho 27, 2010 às 21:08
    #2

    Obrigado, Luiz! Acho que corrigi tudo. Só não saquei o negócio do link errado.

    Grande abraço!

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